sexta-feira, 31 de maio de 2024

DO FECHAMENTO DE ESCOLAS

 Com alguma perplexidade li no Expresso que a Câmara Municipal de Almada decidiu encerrar uma pequena escola, um grupo de educação pré-escolar e um grupo do 1º ciclo com os quatros anos de escolaridade. A continuidade do funcionamento da escola é defendida por pais, pela junta de freguesia, pelos docentes e pela direcção do agrupamento a que a “escolinha” pertence, sublinhando os resultados acima da média obtidos pelos alunos e a qualidade do trabalho desenvolvido.

Ao que se depreende da notícia, as razões para o encerramento terão a ver com o facto de o grupo do 1º ciclo ser constituído por alunos dos quatro anos de escolaridade. Considerando o entendimento dos pais e professores, as condições da escola, os resultados das crianças, o que se sabe sobre modelos desta natureza e, também importante, a autonomia pedagógica que se deve respeitar, não se percebe a natureza da decisão.

Como aqui referi muitas vezes, sempre me entristeceu e questionei o movimento de encerramento de escolas iniciado há uns anos que também está associado à criação de mega-agrupamentos que, muitos deles, se transformam em mega-problemas, mas esta é uma outra matéria.

Muitas das questões que se colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento que nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento.

Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que dispõe de escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e o papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo. Parece, pois, ajustada a decisão de em muitas comunidades proceder a uma reorganização da rede.

No entanto, não é esta a situação de que falamos.

Por outro lado, como muitas vezes tenho afirmado, a concentração excessiva de alunos em centros educativos ou mega-agrupamentos não ocorre sem riscos, tornam-se mega-problemas. Para além de aspectos como acessibilidades e tipo de percurso ou apoio logístico, importa não esquecer que escolas demasiado grandes são mais permeáveis a dificuldades, insucesso escolar e exclusão, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental como bullying.

Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não deve ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não pode assentar em critérios generalizados esquecendo particularidades contextuais ou a autonomia de escolas e agrupamentos.

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