Não acompanho suficientemente de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a classe política com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministério" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que deveria ser feito, mas quando fui ministro não foi possível”, é patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas.
Vem esta introdução a propósito
de uma entrevista no Público a David Justino a propósito da publicação “O
Ensino em Portugal, Antes e Depois do 25 de Abril – Um Século em Análise; uma
colecção lançada pelo jornal e coordenada Por David Justino. Na entrevista identificam -se problemas e
prioridades e recomendam-se estratégias e orientações políticas que promovam
sucesso e qualidade, o grande desafio que enfrentamos.
O que me parece curioso nestas
circunstâncias é a apresentação de uma visão clara sobre os males e
constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso
a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável
qualidade e o progresso, depois de terem passado por funções ministeriais nesse
mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e
demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque
não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a
merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma
habilidade, tentar encontrar respostas e acabaremos, creio, por colocar duas
hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica
questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às
políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de
responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas por eventuais mudanças. Na
segunda, não souberam, sugere que a competência não abundará o que não me
parece menos inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a
humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que
posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à
causa pública.
A questão é que muitos destes
discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram,
parte do problema.
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