Nos meus tempos de gaiato, a avó Leonor, uma das mulheres mais fantásticas que conheci, com a mais-valia de ser minha, a minha avó, quando nós caíamos em alguma asneira e tentávamos as esfarrapadas desculpas que a imaginação, ou a falta dela, ditavam ou ainda, quando as pequenas ou grandes mentiras não saíam bem, tentava compor um ar severo, desmentido por uns olhos claros infinitamente doces, e dizia, “não sejam troca-tintas”.
Não me lembro se alguma vez lhe
perguntei se sabia a origem da expressão, mas nestes tempos que vamos vivendo
lembrei-me da avó Leonor e dos troca-tintas.
É grande a preocupação, o cansaço
e o desânimo que o contexto social e político dos dias que correm provocam. O
acompanhamento regular dos discursos e comportamentos de boa parte das
lideranças políticas, sociais ou económicas são elucidativos do “troca-tintismo”
que os informa, vale tudo sem limites éticos ou o respeito mínimo pela verdade.
Insultam-nos com a desconsideração com que somos percebidos. Haverá certamente
excepções, mas são isso mesmo, excepções.
É neste “troca-tintismo” que se
sustenta e promove a eclosão do ovo da servente, dos ovos da serpente.
Vão feios os tempos.
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