Abriu ontem a época das provas de
aferição que se prolongará até Junho. Como já tenho escrito o modelo actual
suscita-me algumas dúvidas, parece assentar num equívoco.
Dado que ainda não foi alterada,
a Lei de Bases do Sistema Educativo define que o ensino básico se organiza numa
lógica de ciclos e não de disciplinas como o secundário. Assim, parece mais ajustado que uma avaliação externa de aferição deva ser realizada no ano final de
cada ciclo e não nos anos intermédios, 2º, 5º e 8º ano, quando os alunos estão
a meio do seu caminho de um ciclo. Acresce que no 4º e no 6º ano não existem
exames finais pelo que não temos a imprescindível avaliação externa.
A argumentação para a sua
realização nestes anos, assenta na ideia de que a identificação de dificuldades
e a devolução de resultados às escolas que permitiriam a correcção de trajectórias futuras dos
alunos. Certo, assim sendo e neste caso, a avaliação não é de aferição, mas de
diagnóstico. No entanto, espera-se que diariamente nas salas de aula os
professores realizem, mais formal ou mais informalmente, avaliações desta
natureza, mais formativa, pois é a mais sólida ferramenta que possuem de
regulação do trabalho dos alunos e do seu próprio trabalho. Assim tenham as escolas os recursos necessários para o apoio nas aprendizagens.
Por outro lado, quando olhamos para os resultados das provas de aferição e para o indicador “percursos de sucesso”, alunos que terminam o ciclo no número de anos previsto, verifica-se uma enorme disparidade, resultados preocupantes nas provas de aferição e taxas de percurso de sucesso superiores a 90% nos vários ciclos. Tive oportunidade aqui comentar os dados mais recentes.
Sabemos também que os resultados
das provas de aferição, percebidos pelos alunos como não “contando para nada”,
chegam às escolas num tempo pouco ajustado para a eventual “recuperação” dos
alunos. Sabemos ainda que os recursos disponíveis nas escolas e as implicações
da falta de docentes criam sérios dificuldades.
Por outro lado, o deslumbramento
com o novo mantra, transição digital, sustentou a manutenção de realização das
provas em formato digital.
Tinha alguma esperança de que o
bom senso e a reflexão sobre o que se passa noutros sistemas educativos que
desencadearam uma reflexão e tomadas de decisão relativamente à introdução em
termos excessivos dos recursos digitais, pudesse contribuir para um maior
equilíbrio e prudência na utilização destes recursos, designadamente nos
primeiros anos de escolaridade.
Por outro lado, são conhecidas
com demasiada frequência queixas relativas ao acesso a equipamentos por parte
dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de
escolas e agrupamentos, a insuficiência dos recursos necessários à adequada
utilização dos equipamentos, nas escolas, mas em particular nas salas de aulas,
infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por exemplo. Acontece
ainda que existe uma enorme diversidade na literacia digital dos alunos. Deste
cenário, apesar do esforço que vai ser realizado recorrendo ao apoio dos
docentes de informática, podem decorrer situações sérias de desigualdade entre
escolas e entre alunos e todos conhecemos múltiplas situações que evidenciam a
enorme disparidade de recursos e da sua utilização.
Acresce que, para além da
disparidade de recursos e competências e pensando sobretudo nos alunos do 2º
ano, mas não esquecendo todos os outros, a aprendizagem da escrita é realizada,
e bem, com o recurso predominante à escrita manual. Existem razões advindas da
evidência, como agora se diz, que sustentam este caminho. Assim sendo, a
proficiência da escrita em formato digital será na esmagadora maioria dos
alunos de natureza e nível diferente o que pode contaminar os resultados ainda
que, de acordo como o IAVE na amostra estudada as diferenças não sejam
significativas.
Por coincidência, os meus netos
irão realizar as provas de aferição do 2.º e 5.º o que também me dá para entender a forma como
são percebidas.
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