Foi divulgado o relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, realizado pela Nova SBE Economics for Policy. De acordo com o trabalho, 82% das crianças pobres com três anos ou menos não frequentam pelo menos 30h de creche. Também no intervalo entre 4 e 7 anos são também as crianças mais pobres que não frequentam educação pré-escolar.
Apesar da gratuitidade da frequência
da creche em 2022, a insuficiência de vagas dificulta o acesso das famílias de
menor rendimento.
Múltiplos estudos têm evidenciado
a relação entre a situação económica, laboral e nível de literacia familiar no
trajecto pessoal.
Recordando o relatório do
Eurostat, “Children in poverty or social exclusion”, mostra que em 2021 uma em
cada quatro crianças portuguesas com menos de 18 anos, 22,9%, vivia em situação
de pobreza ou exclusão social.
O Eurostat reafirmou que as
crianças que crescem contextos de pobreza e exclusão social enfrentarão maiores
dificuldades em obter sucesso escolar, ter um desenvolvimento saudável e
assumirem projectos de vida com mais potencial de realização. Estas crianças
correm ainda maior risco de desemprego, pobreza e exclusão social em adultos.
Também os dados divulgados pelo
Banco Mundial, "The State of Global Learning Poverty: 2022 Update",
sobre pobreza educativa vão no mesmo sentido e acentuam a urgência na promoção
do bem-estar dos mais novos que, evidentemente, não pode ser abordado e tratado
sem uma políticas públicas globais adequadas e modelos de desenvolvimento
amigáveis para as pessoas, todas as pessoas.
A pobreza tem claramente uma
dimensão estrutural e intergeracional, as crianças de famílias pobres demorarão
até cinco gerações a aceder a rendimentos médios, um indicador acima da mádia
europeia.
A escola é certamente uma
ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só,
dificilmente funciona como elevador social.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e
comportamento, é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás,
um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente
negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades
básicas. Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não
aprendem e mais provavelmente vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas
internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar
mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”,
será o destino.
Assim, ou nos concertamos na
exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto
quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente
alteração nas políticas públicas ou, ciclicamente, nos confrontamos com
indicadores desta natureza.
Não, não é "o destino"
que os filhos dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres continuem
pobres. Se assim acontece e continua a acontecer é a falência das políticas
públicas e dos que por elas são responsáveis.
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