No DN encontrei a referência ao trabalho desenvolvido no Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade, no Porto, com crianças com Perturbação do Espectro do Autismo e que merece divulgação. De acordo com os dados conhecidos estima-se que 1 em cada 100 crianças em idade escolar poderão ter PEA.
No entanto, apesar das boas experiências
que se desenvolvem, a verdade é que para as crianças com necessidades especiais
e respectivas famílias, área que melhor conheço, a vida é muito complicada face
à qualidade e acessibilidade aos apoios e recursos educativos e especializados
necessários. Como disse e sublinho, não esqueço os bons exemplos e práticas que
conhecemos, assim como sei do empenho e profissionalismo da maioria dos
profissionais que trabalham nestas áreas.
É certo que a questão da
inclusão, em particular da inclusão em educação, é presença regular nos
discursos actuais. É objecto de todas as apreciações, ilumina todas as
perspectivas e acomoda todas as práticas, incluindo a “entregação” que
manifestamente não promove inclusão, antes pelo contrário. Apesar do bom
trabalho que existe, insisto, por vezes, demasiadas vezes, confunde-se
colocação educativa, crianças com necessidades especiais na sala de aula
regular, com inclusão. Aliás, até a exclusão de muitos alunos da sala de aula e
das actividades comuns é frequentemente realizada … em nome da inclusão. E não
acontece nada.
O termo está tão desgastado que
já nem sabemos bem o que significa. Insisto em que não esqueço o que positivo
se faz, mas conheço tantas práticas e tantos discursos que alimentam exclusão e
que são desenvolvidas e enunciados ... em nome da inclusão. Tantas vezes me
lembro do Mestre Almada Negreiros que na "Cena do Ódio" falava da
"Pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de
Camões".
Não é por muito afirmar a escola
inclusiva que a educação se torna inclusiva, o pensamento mágico tantas vezes
expresso não … não é a realidade.
Os alunos com necessidades
especiais, as pessoas com deficiência e as suas famílias, não precisam de
tolerância, não precisam de privilégios, não precisam de caridade, precisam só
de ver os seus direitos considerados. Os direitos não são de geometria variável
cumprindo-se apenas quando é possível.
Este é o caderno de encargos que
nos convoca a todos, todos os anos, todos os dias.
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