Retomo mais umas notas a propósito da relação entre variáveis do contexto familiar e trajectos escolares dos filhos.
Considerando o trabalho coordenado por Luís Catela Nunes da Nova SBE, “Tendências no desempenho dos estudantes em Portugal: o que nos dizem os dados”, recentemente divulgado num encontro promovido pelo Edulog, think tank da Fundação Belmiro de Azevedo, até à edição de 2012 do PISA vinha assistir-se a uma melhoria global do desempenho dos alunos portugueses. A partir de 2015 a melhoria no desempenho mantém-se fundamentalmente nos alunos com famílias com maior qualificação académica e baixa nos alunos de famílias menos qualificadas. Será ainda de considerar os efeitos da pandemia nas aprendizagens dos alunos.
Este indicador é preocupante pois
sugere que a escola não está a conseguir sustentar o designado “elevador social”,
contrariar desigualdades de partida.
Também outros dados de avaliação
externa, provas de aferição e exames finais parecem validar este trajecto
embora, como aqui tenho referido, as avaliações internas traduzidas nos
chamados “percursos de sucesso” (a conclusão de um ciclo de estudos no tempo
previsto) apontem para um sucesso global dos alunos que, como se vê, não é
coerente com as avaliações externas.
Assim, mais uma vez, a questão
central será a qualidade na escola pública. Esta qualidade deverá assentar em
três eixos fundamentais, a qualidade considerando resultados, processos,
autonomia e gestão optimizada de recursos, segundo eixo, qualidade para todos,
a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a desigualdade de
entrada e, terceiro eixo, diferenciação de metodologias, diferenciação
progressiva e não prematura dos percursos de educação e formação.
No actual cenário, quando se
entende e espera que a educação e qualificação possam ter um papel decisivo na
minimização de assimetrias, as políticas públicas, os recursos e a dificuldade
de acesso podem, pelo contrário, alimentar essas assimetrias e manter a
narrativa, "tal pai, tal filho", pai (mãe) letrado, filho letrado e
pai (mãe) pouco letrado, filho pouco letrado.
Assim sendo, são necessárias
políticas públicas, de educação, mas não só, para o médio prazo, estabelecidas
com base no interesse de todos, com definição clara de metas, recursos,
processos e avaliação. A continuar na deriva a que se tem verificado, corremos
o risco de que daqui a algum tempo, um novo estudo de dentro ou de fora virá
dizer ... provavelmente o mesmo.
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