Talvez vos possa parecer estranho, mas tenho recordado a mítica expressão que corria no Alentejo relativa à Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!” Vou tentar explicar.
Os últimos tempos estão marcados
por um aparentemente interminável conflito entra os docentes e o ME com
diferentes dimensões, como estatuto salarial e recuperação tempo de serviço não
contado, modelo de carreira, acesso e progressão, habilitações profissionais
exigidas, burocracia e organização escolar, etc.
Tudo isto está associado a
desmotivação, cansaço, envelhecimento da classe, falta de atracção pela
profissão e culmina com a há muito anunciada, mas irresponsavelmente não assumida
falta de professores. Vai sendo normal começar o ano com muitos alunos sem
professores a todas as disciplinas.
A questão é que nada disto é
novo. Sucessivos estudos nacionais e internacionais têm de há vários anos
referido estas matérias e a mudança mais substantiva é o agravamento da
situação com o passar do tempo.
Talvez um contributo para essa
inacção seja a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto
nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se
perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores.
Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm desenvolvido políticas que
contribuem para a desvalorização dos professores com impacto evidente no clima
das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Este cenário revela uma das dimensões mais frágeis das políticas públicas de
educação nos últimos anos em que sempre se insistia na narrativa dos
professores a mais com resultados que estão à vista.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação por diferentes razões incluindo emocionais,
de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
Sabemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
Como já referi, são conhecidos os problemas e também algumas hipóteses de minimização ou resolução de alguns. Estou a lembrar-me Almada Negreiros na “Invenção do Dia Claro” “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.”Numa versão mais alentejana lembro-me da famosa “reclamação”, “Construam-me porra!” escrita no pontão de apoio às obras protestando com o tempo de espera pela Barragem do Alqueva.
Estão à espera de quê?
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