O Ministro da Educação afirmou há dois dias que Portugal vai precisar de mais de 30 000 professores até 2030. Recordo que o Ministro integra a equipa do ME desde 2015, primeiro com Secretário de Estado e depois como Ministro.
Em entrevista ao Público o
Presidente do Conselho de Escolas antecipa uma maior dificuldade com a falta de
docentes e recomenda a retoma das negociações com o ME e os docentes.
Parece que o “vai correr bem” que tem sido o mantra do ME é, mais vez manifestamente exagerado e os problemas parecem acrescidos.
Apesar de sabermos que a gestão
desta questão não é fácil, também sabemos que a “desprofissionalização”, o risco de “proletarização” da classe docente, não são um caminho adequado e resolvem as questões estruturais que o ME teima em não assumir como políticas
públicas, valorização efectiva da carreira docente, potenciando a sua actractividade de forma séria e prolongada.
No entanto importa dizer que
apesar da abrutal agudização da questão ela se anunciava há muito tempo.
Sucessivas equipas do ME, quer lideradas
pelo PS, quer pelo PSD revelaram basicamente a mesma inoperância, quando não
indiferença pelos dados que se foram conhecendo. Aliás, ficámos cansados de
narrativa que nos procuraram impingir sobre os “professores a mais” que
existiam em Portugal o que desmotivou a procura e desvalorizou a profissão de
tal forma que a recuperação será difícil.
Por curiosidade, deixo alguns excertos
de textos que fui colocando no Atenta Inquietude sobre estas matérias.
“Num trabalho divulgado no
final de 2018 pela OCDE, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” retoma-se
algo que tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados
divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em
estudos do CNE, o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais
consequências negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como escrevi
várias vezes a este propósito, num país preocupado com o futuro o cenário
existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em
conformidade.”
10 de Dezembro de 2019
“Segundo o Relatório “Perfil
do Docente”, dados de 14/15, divulgado pela Direcção-Geral das Estatísticas da
Educação e Ciência apenas 1.4% dos docentes que leccionam em escolas públicas
têm menos de 30 anos, não chegam a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.”
28 de Julho de 2016
“O Público retoma hoje o
Relatório “Perfil do Docente” divulgado em Julho pela Direcção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência do qual já aqui comentei alguns dados. O
trabalho de hoje centra-se no número de professores no sistema educativo.
Entre 2004/2005 e 2014/2015
abandonaram 42165 professores, 25% dos que estavam em 2004/2005. A saída
verificou-se em todos os patamares de ensino, mas com maior significado no 3º
ciclo e no secundário (40% dos que saíram) quando nos últimos anos a população
escolar no secundário até subiu devido ao alargamento da escolaridade
obrigatória.
No ensino público
registaram-se 98% dos abandonos, as escolas públicas tiveram quatro vezes mais
saídas que os estabelecimentos privados.
Na verdade boa parte destes
professores não abandonaram o sistema, foram empurrados para fora por um
conjunto de dimensões ligadas às políticas educativas dos últimos anos, com
José Sócrates e Isabel Alçada e tiveram um aumento devastador a partir de 2011
com o fundamentalismo austeritário de Passo Coelho e Nuno Crato, cerca de 75%
do total de professores que saíram fizeram-no neste período.”
9 de Agosto de 2016
“De acordo com as Sínteses
Estatísticas do Emprego Público publicadas no boletim do terceiro trimestre de
2014 da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público divulgado no I, de
2011 para 2014 saíram cerca de 30 000 professores, 20% dos que existiam.
21 de Novembro de 2014
Parece claro que se tratava de
uma trajectória que exigia um conjunto de iniciativas e decisões inadiáveis que
não foram assumidas por diferentes razões e agendas. A história não vos absolverá.
Sem comentários:
Enviar um comentário