sexta-feira, 8 de setembro de 2023

CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA

 O Ministro da Educação afirmou há dois dias que Portugal vai precisar de mais de 30 000 professores até 2030. Recordo que o Ministro integra a equipa do ME desde 2015, primeiro com Secretário de Estado e depois como Ministro.

Em entrevista ao Público o Presidente do Conselho de Escolas antecipa uma maior dificuldade com a falta de docentes e recomenda a retoma das negociações com o ME e os docentes.

Parece que o “vai correr bem” que tem sido o mantra do ME é, mais vez manifestamente exagerado e os problemas parecem acrescidos.

Apesar de sabermos que a gestão desta questão não é fácil, também sabemos que a “desprofissionalização”, o risco de “proletarização” da classe docente, não são um caminho adequado e  resolvem as questões estruturais que o ME teima em não assumir como políticas públicas, valorização efectiva da carreira docente, potenciando a sua actractividade de forma séria e prolongada.

No entanto importa dizer que apesar da abrutal agudização da questão ela se anunciava há muito tempo.

Sucessivas equipas do ME, quer lideradas pelo PS, quer pelo PSD revelaram basicamente a mesma inoperância, quando não indiferença pelos dados que se foram conhecendo. Aliás, ficámos cansados de narrativa que nos procuraram impingir sobre os “professores a mais” que existiam em Portugal o que desmotivou a procura e desvalorizou a profissão de tal forma que a recuperação será difícil.

Por curiosidade, deixo alguns excertos de textos que fui colocando no Atenta Inquietude sobre estas matérias.

“Num trabalho divulgado no final de 2018 pela OCDE, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” retoma-se algo que tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE, o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais consequências negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como escrevi várias vezes a este propósito, num país preocupado com o futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade.”

10 de Dezembro de 2019

Segundo o Relatório “Perfil do Docente”, dados de 14/15, divulgado pela Direcção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência apenas 1.4% dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não chegam a 500.

Acresce que o grupo etário com mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão nos dois grupos mais velhos.”

28 de Julho de 2016

“O Público retoma hoje o Relatório “Perfil do Docente” divulgado em Julho pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência do qual já aqui comentei alguns dados. O trabalho de hoje centra-se no número de professores no sistema educativo.

Entre 2004/2005 e 2014/2015 abandonaram 42165 professores, 25% dos que estavam em 2004/2005. A saída verificou-se em todos os patamares de ensino, mas com maior significado no 3º ciclo e no secundário (40% dos que saíram) quando nos últimos anos a população escolar no secundário até subiu devido ao alargamento da escolaridade obrigatória.

No ensino público registaram-se 98% dos abandonos, as escolas públicas tiveram quatro vezes mais saídas que os estabelecimentos privados.

Na verdade boa parte destes professores não abandonaram o sistema, foram empurrados para fora por um conjunto de dimensões ligadas às políticas educativas dos últimos anos, com José Sócrates e Isabel Alçada e tiveram um aumento devastador a partir de 2011 com o fundamentalismo austeritário de Passo Coelho e Nuno Crato, cerca de 75% do total de professores que saíram fizeram-no neste período.”

9 de Agosto de 2016

“De acordo com as Sínteses Estatísticas do Emprego Público publicadas no boletim do terceiro trimestre de 2014 da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público divulgado no I, de 2011 para 2014 saíram cerca de 30 000 professores, 20% dos que existiam.

21 de Novembro de 2014

Parece claro que se tratava de uma trajectória que exigia um conjunto de iniciativas e decisões inadiáveis que não foram assumidas por diferentes razões e agendas. A história não vos absolverá.

Sem comentários: