Sem surpresa, lamentavelmente, o Ministro da Educação veio ontem promover uma narrativa qua não cola à realidade que, por mais que se torture, não se transforma nos desejos do Senhor Ministro.
O processo de colocação de
professores em curso não parece sugerir o quadro “simpático” que o Ministro insiste que existe pelo que o início do ano lectivo trará mais inquietação e não só por causa da aunciada greve.
Por outro lado, retoma o
argumento de que os malandros dos professores deveriam pensar nos alunos como prioridade e
deixarem-se dessas coisas injustificáveis que são as greves.
Talvez o Senhor Ministro se esteja
a esquecer de que a esmagadora maioria dos docentes, são docentes porque … querem
estar com os alunos, gostam de estar com os alunos. Estar com os alunos é a
razão de ser da sua escolha, ser professor.
O que acontece é que a situação
de conflito entre ME e professores já deveria ter terminado com um acordo
sério, justo e competente.
Sim, também sabemos que em muitas
áreas, um processo que envolve a realização de uma greve terá sempre algum tipo
de impacto, sendo a percepção e valorização desse impacto uma pressão para a
negociação, pressão essa que as entidades em litígio têm de gerir.
Parece-me também claro que os
professores, na sua esmagadora maioria, prefeririam certamente não sentir
motivos para realizar a greve com consequentes dificuldades para pais e alunos
e para o seu próprio trabalho. Muitos esquecerão que boa parte dos professores
também tem filhos ou netos dado o envelhecimento da classe. O processo de
reivindicação da classe docente surge da revolta, cansaço e desânimo de muitos
anos a sentir-se maltratada, desvalorizada profissionalmente, sem estabilidade
e perspectivas de carreira, cansada, envelhecida e com quadros de mal-estar
preocupantes.
Como me parece inevitável, só uma
negociação séria, justa e competente ultrapassará as situações de greve. Tenho
para mim que os padrões éticos, deontológicos e profissionais dos professores,
técnicos e assistentes levarão a que seja realizado um esforço que minimize
eventuais fragilidades associadas ao tempo sem aulas que serão muito
diferenciadas.
Por outro lado, também seria desejável
que o Senhor ministro e os seus antecedentes entenderem o impacto que terá nos
alunos décadas de políticas públicas de educação que acabam por gerar o cenário
actual. A incompetência de muitas dimensões das políticas públicas tem um
impacto severo na "ensinagem" e, por consequência, na aprendizagem.
Com políticas públicas adequadas, os professores na sala de aula a fazer o que
mais querem, gostam e precisam, trabalhar com os alunos.
Uma classe profissional
maltratada, desvalorizada socialmente e profissionalmente, sem estabilidade e perspectivas
de carreira, cansada e envelhecida e com quadros de mal-estar preocupantes mais
dificilmente consegue manter e desenvolver o esforço necessário ao ensinar.
Este cenário, também tem impacto nas aprendizagens, mas é menos referido, por
um lado porque os números do sucesso retratam uma realidade que nem sempre nos
parece “real” e, mais uma vez, o sentido ético, deontológico e profissional dos
professores leva-os, na sua esmagadora maioria, a “dar o litro” na sua parte, a
“ensinagem”.
Ao falar de impacto na
“ensinagem”, tal como de impacto da aprendizagem, também se deverão considerar
dimensões como recursos disponíveis, humanos (continuam a faltar professores,
técnicos e auxiliares), digitais num tempo em que se proclama a transição
digital como “a via”, dispositivos de apoio suficientes e competentes, climas
de escola pouco amigáveis e envolventes, uma asfixiante burocracia
plataformizada e submersa numa pressão grelhadora que não tem fim e consome
tempo e esforço com um retorno baixo na “ensinagem” e, claro, na aprendizagem.
É tudo isto que está em jogo, é
tudo isto que urge repensar.
A verdade é que não podemos
dissociar a aprendizagem bem-sucedida dos alunos da “ensinagem”, a docência,
competente, valorizada, reconhecida, apoiada, atractiva e desburocratizada realizada pelos
professores.
Também por isso, urge uma
negociação, um entendimento, sério, justo e competente.
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