Quase 50 anos depois, o tempo voa, para as pessoas da minha geração é impossível não falar do 25 de Abril, daquele 25 de Abril, do nosso 25 de Abril, do meu 25 de Abril, o de 1974.
É com alguma frequência que falo
com gente mais nova sobre o que era o 24 de Abril. Ainda há poucos dias o fazia
com o meu neto Grande, o Simão no 4º ano a propósito do que estava a dar na
escola sobre o Estado Novo. Quando conto a vida, o dia a dia daquele tempo, e
algumas das circunstâncias que moldavam os dias percebe-se alguma perplexidade
nos jovens, não tanto pelas referências às grandes questões da época, conhecem-nas
pelas abordagens curriculares, mas, sobretudo, pelas pequenas histórias do quotidiano.
Histórias do clima de
desconfiança e suspeição sobre a pessoa do lado que nos prendia dentro da gente,
do livro que se não tinha e não se podia ler, do filme proibido, do disco que
se contrabandeava; do teatro que não se podia fazer, da conversa que se não
podia ter, do professor de quem não se podia discordar, da ideia que se não
podia discutir, da repressão visível e, mais pesada, invisível, do beijo que
não se podia dar em público, do livro único para formar um pensamento único, de
tantas outras histórias com que se tecia um mundo pequeno que nos queria
pequenos.
São sempre conversas
estimulantes. É certo que me deixam a doce amargura da idade mas, talvez num
excesso de optimismo, quero acreditar que estes miúdos ou jovens não irão permitir que se possa voltar a ter histórias daquelas para contar a gente mais nova.
Sim, os tempos vão duros e têm-nos trazido circunstâncias que julgávamos que
não voltariam e assustam.
Ainda assim, acho que boa parte
desta gente mais nova, apesar das enormes dificuldades que enfrentam para
construir um projecto de vida viável e sustentado, não vai mesmo crescer e estudar para
ser escrava. Esta gente vai, apesar de por vezes se sentir "à rasca, chegar ao
futuro.
Gosto de acreditar nisto. Também por causa daquele 25 de Abril.
E porque fica mais fácil e é mais bonito "Traz outro amigo também".
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