A D. Rosa, uma senhora idosa que vive só, chegou à porta do Centro de Saúde bem antes da hora de abertura e ficou a aguardar sem estranhar a quantidade de gente que tinha à sua frente. Depois da abertura, já bastante tempo passado, lá conseguiu uma senha de atendimento e arranjou um lugar para se sentar na sala de espera, bem composta, como é hábito.
Teve sorte, ao seu lado estava a
D. Gracinda, uma senhora que, tal como a D. Rosa, vive só, com pouco contacto
com a família e que ela conhece pois mora na sua rua. Assim, de conversa,
sempre se passa melhor a espera e sempre se aproveita para trocar de queixas
sobre a vida e de comentários sobre imensas coisas que muitas horas de
televisão sugerem.
Estavam tão entretidas na
conversa que a D. Rosa quase não dava conta de que estavam a chamar pelo seu
número. A funcionária, depois de saber que a D. Rosa apenas queria dar uma
palavrinha à sua médica de família por causa de uns incómodos que andava a sentir
e sobre os quais ouviu uma explicação detalhada, informou, delicadamente, que
não saberia se a Dra. Manuela a poderia atender, é que estava muita gente e as
consultas já estavam atrasadas. Ainda assim, prometeu que tentaria conseguir
que a D. Rosa fosse vista pelo que deveria esperar na sala.
A D. Gracinda, entretanto, já
tinha sido chamada pelo que a D. Rosa se sentou, desta vez, junto de um casal
de reformados muito simpáticos, embora a senhora esteja sempre muito queixosa,
que costuma encontrar no Centro.
Foi até engraçado, pensou a D.
Rosa, porque a conversa se encaminhou para a recordação dos tempos em que os
três eram novos, das diferenças para os dias de hoje, sempre com a inevitável
conclusão que, isso sim, naquele tempo é que era bom. Depois do casal ter
saído, já consultado e com os papéis em ordem, considerando que se aproximavam
as duas da tarde, a D. Rosa voltou ao balcão onde outra funcionária a informou
que naquele dia a Dra. Manuela já não veria mais ninguém pois faltavam ainda
três pessoas e a Dra. precisava de sair logo.
Com a tranquilidade de quem não
tem pressa, a D. Rosa foi embora devagar, para a casa só, a pensar para consigo
que no dia seguinte voltaria ao Centro, mas viria um bocadinho mais cedo.
Felizmente, agora já não está
tanto frio, o pior é estar de pé, mas pode estar alguém para conversar e sempre ajuda a apassar o tempo.
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