domingo, 9 de abril de 2023

A PROVA DE VIDA

 A D. Rosa, uma senhora idosa que vive só, chegou à porta do Centro de Saúde bem antes da hora de abertura e ficou a aguardar sem estranhar a quantidade de gente que tinha à sua frente. Depois da abertura, já bastante tempo passado, lá conseguiu uma senha de atendimento e arranjou um lugar para se sentar na sala de espera, bem composta, como é hábito.

Teve sorte, ao seu lado estava a D. Gracinda, uma senhora que, tal como a D. Rosa, vive só, com pouco contacto com a família e que ela conhece pois mora na sua rua. Assim, de conversa, sempre se passa melhor a espera e sempre se aproveita para trocar de queixas sobre a vida e de comentários sobre imensas coisas que muitas horas de televisão sugerem.

Estavam tão entretidas na conversa que a D. Rosa quase não dava conta de que estavam a chamar pelo seu número. A funcionária, depois de saber que a D. Rosa apenas queria dar uma palavrinha à sua médica de família por causa de uns incómodos que andava a sentir e sobre os quais ouviu uma explicação detalhada, informou, delicadamente, que não saberia se a Dra. Manuela a poderia atender, é que estava muita gente e as consultas já estavam atrasadas. Ainda assim, prometeu que tentaria conseguir que a D. Rosa fosse vista pelo que deveria esperar na sala.

A D. Gracinda, entretanto, já tinha sido chamada pelo que a D. Rosa se sentou, desta vez, junto de um casal de reformados muito simpáticos, embora a senhora esteja sempre muito queixosa, que costuma encontrar no Centro.

Foi até engraçado, pensou a D. Rosa, porque a conversa se encaminhou para a recordação dos tempos em que os três eram novos, das diferenças para os dias de hoje, sempre com a inevitável conclusão que, isso sim, naquele tempo é que era bom. Depois do casal ter saído, já consultado e com os papéis em ordem, considerando que se aproximavam as duas da tarde, a D. Rosa voltou ao balcão onde outra funcionária a informou que naquele dia a Dra. Manuela já não veria mais ninguém pois faltavam ainda três pessoas e a Dra. precisava de sair logo.

Com a tranquilidade de quem não tem pressa, a D. Rosa foi embora devagar, para a casa só, a pensar para consigo que no dia seguinte voltaria ao Centro, mas viria um bocadinho mais cedo.

Felizmente, agora já não está tanto frio, o pior é estar de pé, mas pode estar alguém para conversar e sempre ajuda a apassar o tempo.

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