A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou o terceiro relatório de monitorização do plano de recuperação de aprendizagens, Plano 21/23 Escola + que foi definido para três anos.
Considerando o inquérito a respondido
por 742 agrupamentos e escola não agrupadas a” medida” “planos de
desenvolvimento pessoal, social e comunitário” é considerada por 96% das
escolas como evidenciando um impacto muito relevante ou relevante na
recuperação das aprendizagens. Uma outra iniciativa, “Escola a Ler” envolvendo
a promoção da leitura tem uma apreciação da mesma natureza.
A iniciativa Escola a Ler, como oobjectivo de promover a leitura em sala de aula tem uma avaliação do mesmo nível.
É relevante considerar que estes “Planos
de desenvolvimento” são operacionalizados por técnicos especializados sendo que
no âmbito do Plano 21/23 foram contratados 1169, entre psicólogos, terapeutas
da fala assistentes sociais e técnicos de informática, entre outros
profissionais. Este contrato tem como horizonte a duração do Plano 21/23.
Não é, pois, estranho que os
directores escolares consideram necessário que o ME prolongue o plano de
recuperação de aprendizagens por mais um ano. A situação actual das escolas e a falta de
docentes que se tem prolongado e ainda os efeitos da pandemia justificam essa
solicitação que também foi discutida e recomendada no Parlamento.
Importa recordar que já no final
da avaliação do 2º ano de existência do Plano se considerava a necessidade de o
prolongar.
Parece ser consensual que o maior
ou menor impacto nas aprendizagens que possam estar a acontecer, é extremamente
diversificado em cada aluno. Parece razoavelmente claro que a diversidade de
situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis
contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada
comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, os seus contextos
familiares, etc., etc., sugerem que devem ser as escolas a avaliar as
necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos,
definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.
Os professores sabem como avaliar
e identificar as dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é
imprescindível é dotar as escolas dos recursos necessários para minimizar tanto
e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes
para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor
dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos,
por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é
exigido, etc., são essenciais. Torna-se também necessária a existência de
dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de processos
desburocratizados.
Para além das narrativas
institucionais mais “simpáticas”, por assim dizer, a divulgação de resultados
de avaliações que quando comparados com a cada vez mais ameaçada avaliação
externa deixam imensas dúvidas, o que se vai sabendo das escolas mostra, sem
surpresa, o conjunto de dificuldades que se continuam a sentir.
Por outro lado, considerando os
indicadores relativos ao impacto das variáveis relativas ao contexto
sociofamiliar e económico dos alunos nos seus trajectos de aprendizagem não se trata de uma questão compatível com um Plano de curto prazo
que está em desenvolvimento e com sobressaltos conhecidos.
Não simpatizo com narrativas sobre perdas irreparáveis, gerações perdidas ou outros discursos da mesma natureza. No entanto, a verdade é que muitos alunos incluindo alunos com necessidades especiais, independentemente da avaliação registada nas grelhas ou nas pautas de avaliação passaram e passam por sobressaltos e dificuldades no seu percurso escolar.
Neste contexto, a questão central
não deve ser definida em torno da recuperação dos efeitos da pandemia nas
aprendizagens ou no bem-estar através de planos de recuperação finitos, mas
sim, na mudança ao nível das políticas públicas dos diferentes países,
incluindo Portugal, que, para além de forma mais imediata “recuperarem
aprendizagens”, tenham impacto a prazo através de recursos suficientes e
competentes, definição de dispositivos de apoio eficientes e de acordo com as necessidades,
apoios sociais que minimizem vulnerabilidades que a escola não suprime,
valorização da educação e dos professores, diferenciação e autonomia nas
respostas das instituições educativas, etc.
Acresce que o relatório da
primeira monitorização feita pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e
Ciência ao Plano de Recuperação das Aprendizagens 21/23 Escola+ evidenciou uma
impressionante multiplicidade de processos, situações, medidas, iniciativas,
designações, acções, actividades, em que se enredam os processos educativos
escolares.
A esta dimensão do trabalho das
escolas e agrupamentos junta-se a gama sem fim de Planos, Projectos, Programas,
Iniciativas, as combinações são múltiplas, destinados a tudo e mais alguma
coisa, certamente relevantes e, sobretudo, sempre, sempre, inovadores.
Mais uma vez insisto na
necessidade de que o ME estabeleça a simplificação, não o chamado facilitismo,
como orientação central nas diferentes dimensões das políticas públicas de
educação.
Seria desejável e necessário que
o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em
utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação
a simplificação, professores alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação
deve incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível,
se aliviasse a pressão “grelhadora” e a burocracia asfixiante a que
habitualmente escolas e professores estão sujeitos.
Como é evidente, este apelo à
simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade
educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes
pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos,
professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que realizar
e estão a realizar.
Sintetizando, para além da
conjuntura próxima, cuidar dos danos da pandemia, importa considerar o que é
estrutural e imprescindível em nome do futuro, a qualidade da educação e uma
educação de qualidade para todos.
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