Ao que parece, o ME decidiu prolongar o plano de recuperação das aprendizagens, Plano 21/23 Escola + que foi definido para três anos e que terminaria este ano. A Assembleia da República já tinha aprovado uma recomendação no mesmo sentido e os directores escolares também o tinham solicitado.
Esta agenda levanta-me algumas dúvidas
que também tenho colocado em textos anteriores sobre o Plano de Recuperação e
de que retomo algumas notas.
O Plano está em desenvolvimento contando
com a colaboração de 1169 técnicos especializados, entre psicólogos, terapeutas
da fala assistentes sociais e técnicos de informática, entre outros
profissionais cuja contratação tem como horizonte a duração do Plano 21/23,
portanto, de mais ano conforme decisão agora conhecida. E depois?
A situação actual das escolas e a
falta de docentes que se tem prolongado e ainda os efeitos da pandemia
justificam que estes recursos continuem nas comunidades escolares com um
horizonte mais alargado. Não se trata de uma problema de conjuntura, é de estrutura.
Parece ser consensual que o maior
ou menor impacto nas aprendizagens que possam estar a acontecer, é extremamente
diversificado em cada aluno. Parece razoavelmente claro que a diversidade de
situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis
contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada
comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, os seus contextos
familiares, etc., etc., sugerem que devem ser as escolas a avaliar as
necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos,
definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.
Os professores sabem como avaliar
e identificar as dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é
imprescindível é dotar as escolas de forma continua e estável dos recursos
necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades
que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao
trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos
mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite
um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais e serão
sempre essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de
regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de processos
desburocratizados.
Para além das narrativas
institucionais mais “simpáticas”, por assim dizer, a divulgação de resultados
de avaliações que quando comparados com a cada vez mais ameaçada avaliação
externa deixam imensas dúvidas, o que se vai sabendo das escolas mostra, sem
surpresa, o conjunto de dificuldades que se continuam a sentir.
Por outro lado, considerando os
indicadores relativos ao impacto das variáveis relativas ao contexto
sociofamiliar e económico dos alunos nos seus trajectos de aprendizagem não se
trata de uma questão compatível com um Plano de curto prazo que está em
desenvolvimento e com sobressaltos conhecidos.
Não simpatizo com narrativas
sobre perdas irreparáveis, gerações perdidas ou outros discursos da mesma
natureza. No entanto, a verdade é que muitos alunos incluindo alunos com
necessidades especiais, independentemente da avaliação registada nas grelhas ou
nas pautas de avaliação passaram e passam por sobressaltos e dificuldades no
seu percurso escolar.
Neste contexto, a questão central
não deve ser definida em torno da recuperação dos efeitos da pandemia nas
aprendizagens ou no bem-estar através de planos de recuperação finitos, mas
sim, na mudança ao nível das políticas públicas dos diferentes países,
incluindo Portugal, que, para além de forma mais imediata “recuperarem
aprendizagens”, tenham impacto a prazo através de recursos suficientes e
competentes, definição de dispositivos de apoio eficientes e de acordo com as
necessidades, apoios sociais que minimizem vulnerabilidades que a escola não
suprime, valorização da educação e dos professores, diferenciação e autonomia
nas respostas das instituições educativas, etc.
Mais uma vez insisto na
necessidade de que o ME estabeleça a simplificação, não o chamado facilitismo,
como orientação central nas diferentes dimensões das políticas públicas de
educação.
Seria desejável e necessário que
o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em
utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação
a simplificação, professores alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação
deve incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível,
se aliviasse a pressão “grelhadora” e a burocracia asfixiante a que
habitualmente escolas e professores estão sujeitos.
Como é evidente, este apelo à
simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade
educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes
pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos,
professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que
realizar e estão a realizar.
Sintetizando, para além da
conjuntura próxima importa considerar o que é estrutural e imprescindível em
nome do futuro, a qualidade da educação e uma educação de qualidade para todos.
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