Continuando a reflexão sobre este início de ano lectivo umas notas a propósito de aprendizagens, da tão referida recuperação das aprendizagens e do que seguirá.
Durante o ano lectivo passado foi sendo referida a necessidade de dispositivos de recuperação do trajecto de aprendizagem de muitos alunos que foi afectado pela aprendizagem. Está, aliás, em implementação o Plano 21/23 Escola + justamente com esse objectivo.
O maior ou menor impacto nas aprendizagens, por múltiplas razões, é extremamente diversificado em cada aluno. Parece razoavelmente claro que a diversidade de situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser as escolas a avaliar as necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos, definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.
Os professores sabem como avaliar
e identificar as dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é imprescindível é
dotar as escolas dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto
possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a
apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios
específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num
rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são
essenciais.
Para além das narrativas
institucionais mais “simpáticas”, por assim dizer, o que se vai sabendo das
escolas mostra, sem surpresa, o conjunto de dificuldades que se continuam a
sentir.
Por outro lado, e como também
tenho escrito, seria desejável que o trabalho a desenvolver, os conteúdos
envolvidos, os dispositivos em utilização, a organização de tempos e rotinas, etc.,
tivessem como preocupação a simplificação, professores, alunos e famílias
ganhariam. Esta simplificação deveria incluir a avaliação e registos. Seria
positivo que, tanto quanto possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” a que
habitualmente escolas e professores estão sujeitos.
Não é por registar, muito,
registar tudo, aliás, nunca se regista tudo pelo que não vale a pena insistir,
que o trabalho melhora e o desperdício é grande.
Como é evidente, este apelo à
simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade
educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes
pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos,
professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que
realizar e estão a realizar.
No entanto, importa não esquecer o cenário antes da pandemia e o que pode ser o pós-pandemia. Num trabalho
divulgado em Maio pela Human Rignts Watch sobre os efeitos da pandemia na população
escolar e com dados da ONU afirmava-se que “Uma em cada cinco crianças estava
fora da escola antes mesmo da covid-19”.
Num cenário de desigualdades que
a pandemia potenciou e que o pós-pandemia continuará a revelar ainda mais
relevantes se tornam as políticas públicas.
É neste contexto que emerge a razão
destas notas. Do meu ponto de vista, a questão central não deve ser definida em
torno da recuperação dos efeitos da pandemia nas aprendizagens ou no bem-estar
através de planos de recuperação finitos, mas sim, na mudança ao nível das
políticas públicas dos diferentes países, incluindo Portugal, que, para além de
forma mais imediata “recuperarem aprendizagens”, tenham impacto a prazo através
de recursos suficientes e competentes, definição de dispositivos de apoio
eficientes e de acordo com as necessidades, apoios sociais que minimizem
vulnerabilidades que a escola não suprime, valorização da educação e dos
professores, diferenciação e autonomia nas respostas das instituições
educativas, etc.
Sintetizando, para além da
conjuntura próxima, cuidar dos danos da pandemia, importa considerar o que é
estrutural e imprescindível em nome do futuro, a qualidade da educação e uma
educação de qualidade para todos.
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