Uma pequena nota sobre amanhã. Provavelmente será sem muito sentido, mas aqui fica.
Como demasiadas vezes parece depreender-se de múltiplos discursos, a partir de hoje todos os alunos, todos os professores, todos
os técnicos e funcionários estarão no inferno. Ou não?
Não, não estarão no inferno, estarão nas escolas, onde a
grande maioria quer estar, gosta de estar e precisa de estar.
Estará tudo preparado e a correr bem. Não, não estará, que
me lembre nunca se iniciou um ano lectivo em condições perfeitas.
Estarão todos os recursos necessários, humanos e materiais,
prometidos, anunciados e, obviamente necessários? Não, não estarão.
As escolas vão iniciar o seu trabalho em condições
verdadeiramente excepcionais para as quais não existe manual de instruções como
não existe para condições “normais” seja lá isso o que for.
Será possível estabelecer risco zero com mais de um milhão e
meio de pessoas, entre alunos, da educação básica e secundária, e profissionais
nos espaços escolares públicos? Não, não podemos garantir embora precisemos de
que estejam asseguradas condições básicas e respostas prontas e eficientes.
Estamos com receios e inquietações? Sim estamos, sinal de lucidez e preocupação. Teremos que ajudar os alunos, da educação pré-escolar até ao secundário, a gerir emocionalmente e cognitivamente situações para as quais não estão preparados? Sim é imprescindível que o façamos, sobretudo com os mais novos e mais vulneráveis.
…
E sabem por que razão escrevi estas notas e pensei outras da
mesma natureza? Talvez não.
É que durante esta tarde estive algum tempo a conversar com
os meus netos de cinco e oito anos que amanhã regressam ao jardim-de-infância,
numa nova instituição, e à escola. Não é ao inferno, não pode ser ao inferno.
Estão motivadíssimos e entusiasmados porque vão voltar à
escola, à escola de que um já gosta e o outro irá gostar, é também a do irmão
embora ainda vá para o pré-escolar.
Eu também acho …, mas estou preocupado, sobretudo com a
forma como todos os envolvidos, em múltiplos patamares e funções, cumpriram ou
vão cumprir a sua parte.
Eles vão cumprir a deles. Voltar e aprender a ser gente.
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