Um dos eixos dos Planos de
Recuperação e Resiliência a desenvolver pelos países da UE para os anos
pós-pandemia, é a transição ambiental, na qual, aliás, Portugal parece ser dos
países que menos se propõe investir nesta área.
A verdade é que apesar da
lentidão da mudança o despertar das consciências para as questões do ambiente e
da qualidade de vida colocou na agenda a questão das pegadas, das marcas, que
imprimimos no mundo através dos nossos comportamentos. Este novo sentido dado
às pegadas tornou secundárias e ultrapassadas as míticas pegadas dos
dinossauros e as românticas pegadas que os pares de namorados deixam na areia
da praia.
Fomo-nos habituando a ouvir
referências às várias pegadas que produzimos com nomes e sentidos mais próximos
ou mais distantes, mas, sobretudo, tem-se acentuado a grande preocupação com a
diminuição do seu peso, isto é, do impacto das nossas pegadas. Conhecemos a pegada
ecológica numa perspectiva mais global ou, em entendimentos mais direccionados,
a pegada hídrica, a pegada energética, a pegada verde, a pegada do papel, a
pegada do carbono, etc.
No entanto, do meu ponto de vista
e também preocupado com o ambiente, com a qualidade de vida e com a herança que
deixaremos a quem nos continuar, vejo poucas referências e muito menos
inquietações sérias com a pegada ética, isso mesmo, a pegada ética.
Os comportamentos, discursos e valores que
genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na qualidade ética
da nossa vida que não é despicienda. Os maus-tratos e negligência que dedicamos
aos princípios éticos mais substantivos provocam um empobrecimento e degradação
do ambiente e da qualidade de vida das quais cada vez parece mais difícil
recuperar.
As lideranças, as várias
lideranças de diferentes áreas, hipotecando a sua condição de promotores de
mudanças positivas são fortemente responsáveis pelo peso e impacto que esta
pegada ética está a assumir. Não passa semana que não tenhamos mais um episódio
ilustrativo desta pantanosa pátria nossa amada.
Nas sociedades democráticas é exigido
que os quadros legais sejam protectores e promotores dos direitos dos cidadãos.
No entanto, tanto ou mais do que a “qualidade” do quadro legal importa a robustez
ética da cidadania, em particular dos cidadãos com funções mais relevantes nas
diferentes áreas de funcionamento das comunidades.
Os sucessivos episódios,
comportamentos e discursos a que recorrentemente assistimos são a prova da
imperiosa necessidade de reconfigurar padrões éticos.
Vai sendo tempo de incluir a
pegada ética no universo da luta pelo ambiente, pela qualidade de vida, pela
sustentabilidade do planeta ou pelo futuro, o que quiserem.
Em termos mais pragmáticos e face
aos numerosos e despudorados incidentes que regularmente surgem, talvez fosse
de considerar a instalação urgente de uma ETAR – Estação de Tratamento do Ambiente
da República.
Gostava de acreditar que ainda
estaremos a tempo de recuperar o ambiente da República.
Haverá ETAR que responda? Sim,
nós.
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