No DN está uma peça que merece reflexão, trata a questão do número de turmas com que muitos professores trabalham.
Na peça é mais especificamente
abordado a situação dos docentes de TIC registando-se casos de professores com 24
turmas e cerca de 500 alunos. Parece dispensável explicitar a extrema
dificuldade de desenvolver um processo de ensino e aprendizagem adequado, incluindo a
avaliação com 500 alunos para gerir.
Numa altura em que ainda não conheço de forma mais pormenorizada o anunciado o Plano 21/23 Escola + destinado a promover a recuperação dos trajectos de aprendizagem afectados pela pandemia e que tem como uma das dimensões a promoção da literacia digital, talvez se justifique retomar umas notas relativas à organização das turmas, em particular o seu efectivo, mas também o número de turmas atribuídas a um professor.
Continuo a defender a importância
da autonomia das escolas e agrupamentos na gestão do efectivo das turmas. Esta
“autonomia” deverá ser regulada pela rede definida e espaços o que, apesar de
ser um passo positivo, minimizará o impacto real da medida dados os
constrangimentos em matéria de recursos docentes e espaços. Acontece, por
exemplo, que nem sempre se verifica a redução do efectivo de turma quando
existem alunos com necessidades educativas especiais embora agora não se possa
usar esta terminologia.
Por outro lado, como já escrevi e
insisto, seria desejável que em conjunto com a autonomia da gestão do efectivo
de turma se considerasse um outro importante aspecto nem sempre valorizado, o
número de turmas por professor. Muitos professores lidam com um número elevado
de turmas implicando muitas situações de trabalho com mais de 120 alunos. O trabalho
no DN sobre os docentes de TICParece dispensável explicitar as implicações
negativas desta situação.
A revisão de estudos sobre o
número de alunos por turma e o seu impacto mostra o que também conhecemos,
existem vantagens em turmas de menor dimensão que podem ser mais ou menos
significativas em função das variáveis em análise.
Parece-me de acentuar que os
estudos sugerem com clareza a existência de impacto positivo no clima e
comunicação na sala de aula, na maior facilidade de práticas educativas mais
diferenciadas, no comportamento dos alunos, etc., o que, evidentemente deve ser
considerado.
Alguns estudos, apenas centrados
em resultados, não encontram diferenças significativas, mas também me parece
que nem sempre são consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo,
o que frequentemente também não é tido em conta nos discursos de alguns
economistas da educação.
É também fundamental considerar
as diferentes características dos diversos territórios educativos
independentemente da sua classificação como TEIP. Na verdade, é necessário
considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada
escola, as características e dimensão da escola, a constituição do corpo
docente, os recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a qualidade
e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores,
sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar,
vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos
de organização e funcionamento da sala de aula e da escola, recursos e
dispositivos de apoios, bem como o nível de autonomia de cada escola ou
agrupamento, entre outros. Daí a importância de promover uma autonomia real.
Aliás, dentro do que entendo por verdadeira autonomia das escolas, deveriam ser
a ter a competência para definir e organizar as turmas embora aceite a
existência de orientações nesse sentido.
Aliás, também com base na
autonomia das escolas poderiam ser consideradas outras opções como a presença
de dois professores em sala de aula ou, insisto, programas de tutoria com
recursos suficientes. Em algumas circunstâncias pode ser mais vantajosa que a
redução do número de alunos por turma.
Acresce nesta matéria a
importância da qualidade do trabalho em turmas com alunos com necessidades
educativas especiais o que, evidentemente, deve ser considerado na análise do
efectivo de turma, desde logo cumprindo o que esteja legislado e acautelando a
tentação de “inclusões administrativas” em que os alunos ficam “entregados” e
não “integrados”.
Diga-se ainda, que é quase
dispensável referir a diferença entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num
estabelecimento privado de acesso “protegido” ou com o mesmo número de alunos
num mega-agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias
turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
Não só por esta razão, dimensão
das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos
professores, também me parece que deveria ser promovida uma verdadeira
desburocratização do trabalho nas escolas e promovido algum ajustamento na sua
organização e funcionamento o que certamente libertaria tempo de professores
para trabalho em turma ou em apoios que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido
são politicamente difíceis e terão custos. No entanto, são imprescindíveis e os
custos do insucesso e da exclusão são incomparavelmente mais caros.
Aguardo o que também neste âmbito
integrará o Plano 21/23 Escola +.
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