Foi ontem apresentado um trabalho realizado por
investigadores da Nova School of Business and Economics (SBE) e do University
College London para o think tank Edulog sobre o impacto do trabalho dos professores.
Para o efeito foi definida uma medida, o VAP – Valor
Acrescentado do Professor e consoante o seu VAP divididos em percentis. Lê-se
no Público que os investigadores concluíram que “se todos os docentes que estão
no percentil 10 – ou seja, entre os 10% com menos efeito nas notas – passassem
a ter o desempenho dos colegas do percentil 90 – isto é, os 10% com mais
impacto – havia uma melhoria substancial dos resultados dos estudantes”. Como
exemplo e referindo o secundário, se os docentes com menor VAP (percentil 10)
estivessem incluídos no percentil 90, a percentagem de notas negativas caía de
70% para 23%. Também o número de estudantes com classificação máxima passava de
zero para 17%.
Não conheço o estudo, nem como é construído o VAP, mas
assumo recorrentes dúvidas sobre estudos desta natureza em que predomina
economia e falta educação. Apesar de não conhecer o construto Valor Acrescentado
do Professor e certamente por iliteracia minha em economia da educação, temo o
risco ver definida a avaliação dos raros alunos dos cursos de formação de
professores pelo seu potencial de VAP ou avaliar os professores pelo VAP. A ver
vamos.
No entanto, dito isto, também conheço e reconheço de há
muito o impacto que o trabalho dos professores tem no desempenho dos alunos, o Council
for Exceptional Children, entidade dos EUA, afirmava em 2000 que "O
factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência
de um professor qualificado e empenhado".
É também verdade que raramente a profissão professor tem
estado tanto em foco como nos últimos anos bem como a necessidade de defender a
qualidade da escola pública.
Múltiplas acções e decisões políticas, bem como alguma
imprensa e "opinion makers" têm contribuído para degradar a sua
função, fragilizar a sua imagem social e comprometer o clima e a qualidade do
trabalho desenvolvido nas escolas apesar dos professores continuarem a ser uma
das classes profissionais em que os portugueses mais confiam.
A atenção que tem estado centrada nos professores advém de
boas e más razões. Não cabe aqui um balanço, e entendo que, tal como os miúdos,
os professores não têm sempre razão, os discursos dos seus representantes são,
por vezes parte do problema e não parte da solução e também sei que existem
alguns professores que o não deviam ser. No entanto, a verdade é que a
esmagadora maioria dos docentes são ... Professores, muito bons Professores,
talvez tenham mesmo um bom “VAP”.
Ser professor no ensino básico e secundário por razões
conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de extrema dificuldade e
exigência que social e politicamente justifica um reconhecimento e valorização
frequentemente negligenciados. Acresce que é uma tarefa desempenhada por uma
classe extremamente envelhecida e cansada como tem sido amplamente estudado e
divulgado.
Por um momento, pensemos no que é ser professor em algumas
escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística, nas políticas
sociais e consequente guetização social produziram.
Pensemos ainda na forma como milhares de professores cumprem
a sua carreira, muitos deles sem a possibilidade de desenharem projectos de
vida para si quando são os principais responsáveis por lançar projectos de vida
para os miúdos com quem trabalham. Aliás, nos últimos anos, milhares de
professores, de bons professores e professores necessários, foram constrangidos
à reforma e muitos ao desemprego por uma política de contabilidade inimiga da
educação pública e da qualidade.
Pensemos em como os professores são injustiçados nas
apreciações de muita gente que no minuto a seguir a dizer uma qualquer
ignorante barbaridade, vai numa espécie de exercício sadomasoquista entregar os
filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal
aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Pensemos como é imprescindível que a educação e os problemas
dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos
interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus
representantes.
Pensemos que a forma como os miúdos, pequenos e maiores,
vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como
os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos finalmente nos professores que nos ajudaram a
chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que carregamos bem guardadinhos na
memória, pelas coisas boas, mas também pelas más, tudo contribuiu para sermos o
que somos.
A valorização social e profissional dos professores em
diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com
mais qualidade.
Gostava ainda de deixar uma ideia do enorme João dos Santos,
“O Professor João, foi meu professor porque foi meu amigo” e uma convicção
pessoal que a idade cada vez mais cimenta, qualquer professor ou educador,
tanto ou mais do que aquilo que sabe, ensina aquilo que é. É da relação que
tudo nasce numa sala de aula, qualquer que seja a configuração.
A verdade é que de todos os professores que connosco se
cruzaram os que mais nos marcaram positivamente foi sobretudo pelo que eram e
menos pelo que nos ensinaram por importante que seja. Deixaram-nos um “Valor
Acrescentado” que não sabemos medir, mas sabemos que ficou.
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