Embora não seja fácil procuro resistir a falar da crise e dos discursos políticos sobre a crise, fico-me por uma outra dimensão.
O JN de hoje divulga uns dados que me parecem interessantes e justificam umas notas de reflexão. Segundo o Eurostat e reportando-se a 2008, em Portugal, 47,6% dos homens entre os 25 e os 34 anos e 34,9% das mulheres na mesma faixa etária vivem ainda em casa dos pais. Estes valores são dos mais altos encontrados na União Europeia.
Estes números, que certamente passarão de forma discreta, podem ser encarados como uma outra dimensão da crise, bastante menos considerada. De facto, já perto de metade dos jovens em idade de autonomizar o seu projecto de vida, quer em termos profissionais, quer em termos pessoais, vê-se obrigada a permanecer na casa familiar na maioria dos casos por dificuldade na entrada no mercado de trabalho e mesmo entre os que conseguem, muitos envolvem-se em situações de precariedade. Tal situação implica, obviamente, uma quase ausência de estabilidade e meios para, por exemplo, conseguir casa própria e construir projectos de vida e de realização pessoal.
Como dado colateral mas de fortíssima importância, este cenário repercute-se seriamente na demografia pois o prolongamento da permanência junto da família tende a atrasar ou a inibir os projectos de maternidade e paternidade contribuindo assim para o preocupante inverno demográfico que atravessamos.
Finalmente, uma nota para uma outra dimensão envolvida com impacto significativo mas de difícil contabilização, refiro-me à confiança. Boa parte destes jovens terá feito um investimento, maior ou menor, numa perspectiva de futuro e num projecto de vida. Quando atingem a idade de o desenhar percebem como esse futuro de autonomia parece inacessível o que provavelmente conduzirá a uma percepção de desconfiança face ao futuro e à capacidade de o influenciar. Daí à desistência é um passo, pequenino e perigoso.
1 comentário:
Corroboro com o que disse. Eu sou exemplo disso, estive em casa dos meus pais até aos 33 anos. Penso que existem 2 factores como causa: (1)Os 40 anos de opressão política e opinativa (Os portugueses ficaram formatados de forma a obdecer ao regime, sem poder de reflexão - salvo algumas fanjas da sociedade. O poder de empreendorismo e de inovação ficou (e está)a cargo de algumas familias, usufruindo da obddiência do povo; (2) A fraca escolarização da população portuguesa que não ajudou em nada à reflexão crítica e ao poder de empreendorismo da grande maioria dos portugueses (pais da juventude dos 30 anos) Mais: Ficou muito enraizado a ideia de um empreso para a vida toda. Ficou atrofiado o poder de iniciativa, ficou-se com medo do dia de amanhã.
Estes factores foram decisivos para os jovens de então, homens de hoje com filhos de 30 anos, não querem que os fillhos passassem pelo mesmo. No entanto, a consequência foi antagónica, uma forte protecção dos filhos em relação ao desconhecido. Claro que falta de medidas sociais relevantes não ajudou em nada.
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