O Público de hoje aborda as prováveis implicações do enorme corte de 11,2% no orçamento previsto para a educação, designadamente no impacto em aspectos profissionais dos professores e titula “Sem alvo óbvio, os professores tardam em transformar o desânimo em revolta”, comparando a actual situação, de aparente acalmia, com a mobilização atingida no consulado de Maria de Lurdes Rodrigues. No trabalho cujo título parece revelar uma certa estranheza pela ausência, para já, de revolta, são ouvidas várias opiniões que parecem convergir na ideia de que os professores “ainda não se deram conta” dos problemas ou, numa versão mais popular, “ainda não sentiram na pele” os efeitos.
Devo dizer que não partilho muito deste entendimento. Os professores estão, creio, conscientes dos problemas e dos efeitos, a sua aparente desmobilização pode, é minha convicção, ser interpretada como consequência de um clima instalado, não só entre os professores, de desesperança. Esta desesperança, a que aqui já me tenho referido, promove e acumula um capital devastador de acomodação, de falta de confiança, de descrença que, do meu ponto de vista pode ter efeitos mais significativos que o corte previsto no orçamento.
Na legislatura anterior o cenário era, do meu ponto de vista, razoavelmente diferente, as decisões incompetentes e arrogantes da equipa ministerial faziam acreditar, pela sua própria inconsistência, que a mudança poderia ser possível.
Actualmente, a percepção social da possibilidade de mudança parece bem mais frágil, bem mais desesperada, pelo que o desânimo poderá estar instalado mas a revolta parece tardar. Vamos a ver se, e como, acontecerá.
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