sexta-feira, 29 de maio de 2015

LIVROS, LEITORES E LIVREIROS

Ai está a Feira do Livro de Lisboa. Mais uma vez o esforço de atrair visitantes e bater recordes de afluência. Multiplicam-se iniciativas e eventos paralelos que animem o espaço. Destacam-se as sessões autógrafos como o objectivo de aproximar leitores e autores, dizem. Destes, uns desesperam por falta de procura, outros exasperam-se com filas sem fim e alguns outros gostam mesmo da tarefa de conhecer quem os lê.
No fim far-se-ão as contas, esperemos que com bons resultados e … até para o ano.
De facto, creio que a realização das Feiras do Livro, designadamente, as de Lisboa e Porto (em dúvida), para além das questões mais óbvias da venda dos livros, envolvem uma dimensão simbólica e cultural que não devem ser esquecidas, antes pelo contrário, mesmo num tempo em que as vendas on-line ganham espaço e competitividade em termos de preço.
O mercado livreiro estará, também, em recessão mas na verdade, de uma forma geral, os bens culturais em Portugal são um mercado caro, veja-se o preço dos livros, dos CDs e discos ou dos espectáculos.
O universo da cultura vive e vai viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm dificuldade em manter portas abertas, para não falar de investimento e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos cada vez mais apertados. A crise instalada agrava, naturalmente, a situação.
Por outro lado, e no que respeita ao mercado livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros será o reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De facto, à excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por questões de escala, o abaixamento do preço. Algumas editores ou grupos editoriais têm experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo custo, mas muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão adquirido pelo que, mais uma vez será difícil que sejam bem sucedidas essas edições. Se considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um pouco mais negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos num mercado gerido por meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do "rendimento" e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro como apenas um produto e não o distribui como um "bem".
No entanto, penso que a grande aposta deveria ser no leitor e não no livro, ou seja, criando mais leitores, talvez as edições, que poderiam em todo o caso ser menos exigentes em papel e grafismo, ficassem mais acessíveis como se verifica noutros países. Esta batalha ganha-se na escola mas também na comunicação social. É certo que existe em actividade o Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar alguns resultados, mas na comunicação social generalista, por exemplo na televisão, o livro está praticamente ausente embora exista o sketch do conhecido entertainer político, conhecido por Professor, que ao Domingo à noite despeja livros em cima de uma secretária enquanto faz, dizem, comentário político.
Insisto, é um problema de leitores, não de livros, aliás e estranhamente, nunca se publicou tanto como agora, aspecto que seria interessante analisar.

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