sábado, 9 de maio de 2015

IMPRENSA E PODER

Do meu ponto de vista foi positiva a reacção das empresas de comunicação social à tentativa, ao que parece de geração espontânea, de um grupo de deputados do centrão, CDS-PP, PSD e PS, que sem surpresa são capazes de estabelecer consensos, de instituir um visto prévio na cobertura da campanha eleitoral.
Essa proposta caiu e o CDS-PP e PSD apresentam nova proposta de cobertura das campanhas eleitorais que está a merecer as críticas de duas dezenas de responsáveis editoriais de órgãos de comunicação social.
Algumas notas sobre este universo, a relação dos poderes, designadamente do poder político, com a comunicação social que tem algumas particularidades interessantes.
Se estivermos atentos, reparamos como todos se procuram servir da comunicação social para a defesa dos seus interesses pessoais, partidários, institucionais, económicos, etc. Nada de novo, sabemos o peso que a comunicação social tem nas sociedades actuais e nos últimos tempos também temos tido sucessivos episódios ilustrativos dessas nebulosas relações.
Nesta matéria, para além das consequências óbvias destes comportamentos, parece-me particularmente irritante a forma quase infantil, está um pouco na moda este tipo de infeliz comparação mas não resisto, como algumas figuras reagem ao ser abordadas pela imprensa sobre assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer. Surgem então as afirmações patéticas, “não tenho nada a acrescentar”, “desculpem, não comento”, “não estou aqui para falar dessas matérias,” “no estrangeiro não comento questões nacionais”, etc., etc. Este pessoal desenvolve assim uma espécie de surdez selectiva, só ouve o que lhe convém, de mutismo selectivo, só fala do que lhe convém, de cognição selectiva, só conhece o que lhe convém.
No entanto, são também estas as figuras que directamente ou através de terceiros, lambem as botas às redacções e aos jornalistas (quanto mais influentes melhor) e pedem, exigem, tempo de antena quando tal serve os seus diferentes interesses.
Algumas dessas figuras quando, quase sempre fruto do alpinismo partidário, ascendem a alguma forma de poder conseguem ainda ir mais longe nessa relação com a imprensa, se não lhes agrada calam-na como também não é raro. É um método velho e intemporal.
Devo confessar que tal cenário é, para mim, profundamente irritante e patético, sinto que nos insultam, que nos consideram destituídos, como se por não abordarem as diferentes matérias, elas não se passassem ou não existissem ou, noutros processos, que somos manipulados de forma nem sempre perceptível pela opacidade das situações.
Finalmente, incomoda-me também uma comunicação social, boa parte dela, passiva e resignada, que não confronta as figuras públicas com estes comportamentos, não os denuncia, e que acorre solícita quando essas figuras entendem que têm algo a dizer, as mais das vezes, irrelevante. Também lhe convém esta subserviência interesseira que alguns profissionais mantêm, também têm as suas agendas. Às vezes são recompensados.
É, quase, tudo farinha do mesmo saco como dizia a minha Avó Leonor.

2 comentários:

Anónimo disse...

40 anos em História é muito pouco tempo e há tiques que teimam em permanecer.

Zé Morgado disse...

Tiques?!