domingo, 3 de agosto de 2008

O CAJÓ FOI À PRAIA

O Cajó acordou a pensar em ir à praia. O Cajó é um rapaz que é mecânico e faz uns biscates para a malta do chunning (que é o tunning de quem não tem dinheiro). Acordou a Odete e disse-lhe para pôr na geleira umas “mines”, uns “semóis” para os miúdos e umas sandes, que iam todos para a praia. Tinham que ir cedo porque é Domingo e o pessoal vai todo para a praia.
Não começou muito bem porque o Punto não queria pegar e o Tólicas, o mais velho, não encontrava a bóia que tinham dado no Lidl. Chegaram à Ponte e, para ajudar, levaram uma hora para a atravessar. Já estava a começar a desatinar, mas a Micas, a mais nova, lá se calou e adormeceu. Finalmente, chegou à Costa e teve sorte, arranjou um lugar para estacionar, embora a tapar a saída a outro carro. Mas o Cajó achava que o gajo do carro era capaz de só sair depois deles e, portanto, “tá-se bem”.
Na praia, estava maré cheia e o espaço não abundava. Assim, pediu desculpa a um casal simpático que estava ali, afastaram-lhe as toalhas e estendeu as toalhas para a família toda. A geleira ficou debaixo do chapéu-de-sol que dizia Sporting, uma oferta do cunhado, um ganda lagarto. Para aquecer um bocado, e porque já não aguentava o cheiro da Odete toda besuntada para se estender ao sol, foi jogar à bola com o Tólicas. Mas como havia muita a gente, estava chato para jogar, porque estavam sempre a acertar com a bola nuns velhos que nem se desviavam, parecia que faziam de propósito para arranjar confusão. Foram então ao banho, mas a água estava fria “comó caraças” e resolveu estender-se ao sol um bocado. Então, o Cajó reparou que, pertinho, estava uma miúda “boa comó milho”, pôs-se mais a jeito, e para disfarçar, que a Odete é ciumenta “à brava”, enfiou os óculos escuros, por acaso muito giros, marca Ray-ban, que tinha comprado no mercado por 5 euros a um indiano. Às tantas, a Odete topou que ele não tirava os olhos da miúda do lado e armou uma peixeirada das antigas. Ficou o caldo entornado, comeram as sandes e o Cajó mandou arrumar a tralha para não apanhar bicha na Ponte. Quando chegou ao carro, quase que se pegou à pancada como o dono do carro que estava entalado e já estava à espera, disse ele, há uma hora. Lá se acalmaram.
Toda a gente deve ter pensado como o Cajó. Gastou mais uma hora e tal, mas lá conseguiu chegar a casa, os putos todos amassados a dormir no banco de trás do Punto, a Odete com umas trombas pior que a mãe e ele a pensar para consigo.
“Mas quem é que me mandou ir prá praia, porra. Tinha ido, sozinho, dar uma volta até ao Centro Comercial, via as miúdas à mesma, bebia umas imperiais, estava fresquinho, não gastava gasolina e não me chateava. Ganda camelo”.

4 comentários:

Elfrida Matela disse...

Adoro estes retratos do nosso quotidiano! Parabéns, Professor!

Anónimo disse...

Ai, os "Cajós" e as "Odetes" das nossas vidas... descansemos de nós e olhemos os outros.
Como eu gostei de ler este post!

Anónimo disse...

Para mim este é o seu melhor texto até à data.

O professor devia publicar estas pérolas da caparica.

Abraço
A.C.

Anónimo disse...

Lindo de rir ... :)