No Expresso encontra-se um conjunto
de trabalhos sobre o universo dos professores que, recorrendo a uma expressão
recorrente, é motivo para estabelecer um alerta vermelho no mundo da educação.
Nesta altura continuam a faltar
professores em mais de mil turmas e as dificuldades de recrutamento são
crescentes mesmo recorrendo, em algumas situações, à contratação de pessoas sem
formação para a docência.
Acentua-se o envelhecimento da
classe docente sendo que em 2021 se aposentarão mais de 2000 professores e em
2023 estima-se que serão mais de 3000.
Acrescem os efeitos da mobilidade
por doença e ainda uma menor capacidade de atracção pela carreira nos jovens
que chegam ao ensino superior nos anos mais recentes. Por outro lado, existem múltiplos
aspectos relativos à carreira e à sua valorização como se verifica pela notícia
do Público referindo que Bruxelas desencadeou um procedimento de infracção contra Portugal por
incumprimento da legislação da UE relativo à não discriminação na contratação a
termo de professores nas escolas públicas. Estas questões têm implicações
devastadoras nos projectos de vida muitos professores quando uma carreira
valorizada deveria constituir um projecto de realização.
Lamentavelmente não é nada de
novo, há anos que sucessivos relatórios nacionais e internacionais têm alertado
para gravidade do envelhecimento da classe docente, dos efeitos associados, e
da certeza da falta de docentes a curto prazo como já está a acontecer. Algumas
notas.
O envelhecimento da classe
docente não é um problema exclusivo do nosso sistema, mas é particularmente
grave sendo que alguns países também afectados têm iniciativas já em
desenvolvimento no sentido de o minimizar o que não parece acontecer entre nós.
Ao perfil dos docentes em termos
de idade acresce que, como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente é
altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e
mental provocado pela vida profissional, frequentemente associado a níveis pouco positivos de
satisfação profissional.
Na verdade, este cenário só pode
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam na comunicação social perorando sobre educação
e sobre os professores.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a insuficiente renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens.
Não esqueçamos ainda a deriva
política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas,
criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um
desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm desenvolvido políticas que contribuem para
a desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e
nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais. Este cenário revela
uma das dimensões mais frágeis das políticas públicas de educação nos últimos
anos em que sempre se insistia na narrativa dos professores a mais com
resultados que estão à vista.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação por diferentes razões incluindo emocionais,
de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
Parece clara a necessidade
urgente de definir uma resposta oportuna e consistente a este trajecto. Pode
passar por um programa de acesso voluntário a reformas antecipadas, mas
obrigatoriamente terá de considerar a valorização da função docente.
Sabemos que os sistemas
educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores
são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
Não parece difícil perceber
porquê.
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