terça-feira, 2 de novembro de 2021

DA POBREZA

 

Na semana que passou foram divulgados pelo Eurostat dados relativamente à pobreza e exclusão social elaborados com novos indicadores.

Em Portugal, cerca de 20% dos cidadãos estão em risco de pobreza e exclusão sendo que relativamente a crianças e jovens até aos 18 anos é de 21,9% e nos idosos é 21,4%. Trata-se de taxas ligeiramente superior às do INE que divulgará nos próximos dias dados já calculados com os novos indicadores.

Ainda de acordo com um estudo recente, "A Pobreza em Portugal – Trajectos e Quotidianos", da Fundação Francisco Manuel dos Santos o risco de pobreza e exclusão atinge mesmo pessoas com emprego estável, um terço das pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza estão empregadas.

A pobreza tem claramente uma dimensão estrutural e intergeracional, as crianças de famílias pobres demorarão até cinco gerações a aceder a rendimentos médios, um indicador acima da mádia europeia.

A escola é certamente uma ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só, dificilmente funciona como elevador social.

O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e comportamento, é por demais conhecido. Essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas. Em qualquer parte do mundo, miúdos que passsam mal têm menor desempenho escolar e mais provavelmente vão continuar pobres. Com ligeiras alterações as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação vão-se mantendo. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, será o destino.

É verdade que com muita frequência a escola distribui refeições e disponibiliza recursos a alunos mais carenciados e ainda bem que o faz. No entanto, não compete à escola a resolução de questões estruturais nas quais radica a pobreza continuada nem o providenciar de necessidades básicas às crianças.

Assim, ou nos concertamos na exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente alteração nas políticas públicas, ou ciclicamente nos confrontamos com indicadores desta natureza. Os dias que vivemos mostram como e difícil é concertar perspectivas na promoção de um sentido comum, o bem-estar das comunidades.

Não, não é destino que os filhos dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres continuem pobres. Se assim acontece e continuar a acontecer é a falência das políticas públicas e dos que por elas são responsáveis.

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