Na semana que passou foram divulgados pelo Eurostat
dados relativamente à pobreza e exclusão social elaborados com novos
indicadores.
Em Portugal, cerca de 20% dos
cidadãos estão em risco de pobreza e exclusão sendo que relativamente a crianças e jovens até aos 18 anos é de 21,9% e nos idosos é 21,4%. Trata-se de taxas
ligeiramente superior às do INE que divulgará nos próximos dias dados já
calculados com os novos indicadores.
Ainda de acordo com um estudo
recente, "A Pobreza em Portugal – Trajectos e Quotidianos", da
Fundação Francisco Manuel dos Santos o risco de pobreza e exclusão atinge mesmo
pessoas com emprego estável, um terço das pessoas que vivem abaixo do limiar de
pobreza estão empregadas.
A pobreza tem claramente uma
dimensão estrutural e intergeracional, as crianças de famílias pobres demorarão
até cinco gerações a aceder a rendimentos médios, um indicador acima da mádia
europeia.
A escola é certamente uma
ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só,
dificilmente funciona como elevador social.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e
comportamento, é por demais conhecido. Essas circunstâncias constituem, aliás,
um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são
particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível
das necessidades básicas. Em qualquer parte do mundo, miúdos que passsam mal têm menor desempenho escolar e mais provavelmente vão continuar
pobres. Com ligeiras alterações as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e
incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação vão-se mantendo. Não estranhamos.
Dói, mas é “normal”, será o destino.
É verdade que com muita
frequência a escola distribui refeições e disponibiliza recursos a alunos mais
carenciados e ainda bem que o faz. No entanto, não compete à escola a resolução
de questões estruturais nas quais radica a pobreza continuada nem o
providenciar de necessidades básicas às crianças.
Assim, ou nos concertamos na
exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto
quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente
alteração nas políticas públicas, ou ciclicamente nos confrontamos com
indicadores desta natureza. Os dias que vivemos mostram como e difícil é
concertar perspectivas na promoção de um sentido comum, o bem-estar das
comunidades.
Não, não é destino que os filhos
dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres continuem pobres. Se
assim acontece e continuar a acontecer é a falência das políticas públicas e
dos que por elas são responsáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário