Era uma vez um miúdo chamado Pequeno. Tinha uns 13 anos e era, por assim dizer, um miúdo com medos, com muitos medos. Não gostava de mostrar os seus medos, nunca gostamos de o fazer. O Pequeno sentia-se muitas vezes mais pequeno que os outros, para mascarar o medo gostava de passar por maior. Nessas alturas, quem não o conhecia pensava que ele já não era o Pequeno. Mas quase sempre o Pequeno tinha um ar assustado, mesmo quando fingia não ter medos e tinha muitas vezes pesadelos onde lhe apareciam os medos.
O Pequeno tinha uma paixão, o seu
clube de futebol, era adepto do Clube Grande. Tinha tudo o que os adeptos têm e
que revela como gostam do clube. O Pequeno ia muitas vezes ao futebol com o pai
e o irmão ver o Clube Grande. Mas o que ele queria mesmo era um dia ir ver o
jogo lá no meio da claque. O problema é que o Pequeno tinha algum medo.
Um dia, encheu-se de coragem e
pediu ao pai se em vez de o levar para o pé dele, se podia comprar um bilhete
para o sítio da claque. Depois de muitos avisos o pai acedeu. No jogo seguinte,
o Pequeno pegou em todo o equipamento que tinha que achava que se devia levar
para a claque e, a medo, misturou-se com aquele pessoal.
Ao princípio estava, claro, com
algum medo, mas quando começou o jogo e a claque ferveu, o Pequeno sentiu-se
grande, de verdade. Gritava como ninguém, cantava de tal maneira que achava que
a sua voz e os seus incentivos ao clube se ouviam no estádio inteiro. No meio
da claque não se sentia um Pequeno.
Naquela noite, pela primeira vez
em muito tempo, os medos não lhe apareceram em pesadelos. Sonhou que era o
chefe da claque do Clube Grande e que toda a gente da claque o seguia.
PS – Tal como o Pequeno e desde
pequeno tenho uma enorme paixão pelo futebol. O episódio de ontem no Jamor não
podia ter acontecido, é uma obscenidade de que, certamente e mais uma vez, ninguém
será responsável. Não matem o futebol.
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