É recorrente a referência a inclusão em qualquer discurso em matéria de políticas públicas o que poderia significar uma preocupação real, genuína com a inclusão e a solidariedade bens de primeira necessidade nos tempos que vivemos.
Apesar de algum cansaço da retórica sobre inclusão, ainda
quero acreditar nessa genuinidade, mas, de vez quando leio, oiço, conheço
situações que, recorrendo ao discurso de Almada Negreiros a propósito de Camões
e que de vez quando aqui refiro, me levam a pensar nesta estranha pátria em que
tanta gente enche a barriga de inclusão e outra tanta gente continua excluída e
vulnerável.
Vem esta introdução a propósito da divulgação de que em
consequência de uma mudança, necessária sublinhe-se, no quadro normativo relativo
à atribuição de bonificações no abono de família de crianças com deficiência realizada
em 2019 e apenas regulamentada em Maio deste ano, em final de Agosto ainda se
encontravam 7961 crianças sem acesso a essa bonificação.
Soubemos agora desta situação, a voz das minorias é sempre
uma voz mais baixa e os seus problemas são evidentemente … minoritários.
Lamentavelmente não é nada de novo, as crianças com
necessidades especiais, as suas famílias e muitos dos professores e técnicos
sabem, sobretudo sentem, um conjunto enorme de dificuldades para, no fundo,
aceder a algo básico e garantido constitucionalmente, os seus
direitos. É assim que as comunidades estão organizadas, pelo que não representa
nada de extraordinário e muito menos um privilégio.
Como também é evidente, as minorias são sempre mais
vulneráveis, falta-lhes voz.
Como sempre afirmo, os níveis de desenvolvimento das
comunidades também se aferem pela forma como cuidam das minorias.
Lamentavelmente, estamos num tempo que em que desenvolvimento se confunde com
mercados bem-sucedidos.
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