Nos últimos dias a imprensa tem divulgado episódios de violência preocupante ocorridos em comunidades escolares desencadeados por manifesta influência da série da Netflix, “Squid Game”.
Numa das abordagens, realizada pelo DN, foi-me solicitada alguma colaboração.
Em síntese do que procurei expressar
creio que agora falamos dos efeitos potenciais nos mais novos de conteúdos como
o “Skid Game”, como já falámos do “Fortnite”, da “Baleia Azul” ou mesmo de
comportamentos e desafios de risco desencadeados no contexto da rede “TikTok”.
Não tenho a convicção que
os autores e difusores deste tipo de produtos venham a desenvolver qualquer
dispositivo de regulação do seu consumo, afirmar que o “Squid Game” se destina
a maiores de 16 anos e, portanto, os mais novos não o consomem é, no mínimo,
pouco sério.
Sabemos ainda que a cultura e
valores dominantes acomodam sem grande sobressalto consumo de produtos de
diferentes tipos que, evidentemente, são tóxicos, física ou psicologicamente, e
potencialmente perigosos sobretudo para grupos mais vulneráveis.
Também sou pouco optimista na
disponibilidade e capacidade das comunidades para instituírem dispositivos de
regulação eficazes, veja o que actualmente se discute em torno do Facebook. São
conteúdos que valem muitos milhões, números demasiado grandes para que se “belisquem”.
É neste contexto que, como muitas
vezes afirmo, esta questão acaba por ficar mais reservada à acção educativa
familiar e escolar.
Sim, eu sei das dificuldades da
parentalidade nos contextos actuais, com estilos de vida que sustentam um tempo
limitado de interacção e também sei que não se pode exigir tudo à escola.
Por outro lado, sei, como afirmei
ao DN, que assentar a acção reguladora fundamentalmente em estratégias
proibicionistas tendem a não ser eficazes à medida que as crianças crescem.
Creio que o caminho passa
incontornavelmente pela promoção da literacia digital das famílias para ajudar
a perceber os “alçapões” que existem nos conteúdos que nos podem chegar através
do ecrã. Muitos pais, diz-me a experiência, desconhecem boa parte dos riscos.
Num tempo em que a escola, por
boas e más razões, a pandemia, entrou decididamente num tempo de recursos digitais.
No contexto da sua utilização talvez possamos introduzir proactivamente e numa
perspectiva de desenvolvimentos dos alunos uma abordagem a conteúdos e aos
riscos.
A abordagem em contexto familiar
ou escolar será, provavelmente, mais eficiente se assentar numa tentativa de mediação
nos consumos, o “ecrã” não deve ser a “babysitter” dos miúdos, e de
auto-regulação, ou seja, “eu sei o que é isto e decido ou não ver”, ou mesmo, “eu
vejo isto, mas … só vejo”.
Como também será claro, nada
disto garantirá a ausência de risco nem algo que não defendo e em que não
acredito, uma “educação para a santidade”.
Finalmente, uma referência à
necessidade de estarmos, pais, escola, comunidade, atentos a sinais que podem
notar-se em crianças e adolescentes que nos podem alertar para situações ou
comportamentos que não conhecemos, mas podem provocar mal-estar ou sofrimento.
Não se trata de uma tarefa fácil,
é a única certeza que tenho para além de que após o “Squid Game” surgirá
certamente qualquer outro conteúdo que nos fará voltar a pensar nestas questões.
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