Na agenda das consciências cumpre-se hoje o Dia Mundial da Saúde Mental que, como muitas afirmo, é o parente pobre das políticas de saúde. Os indicadores disponíveis mostram com as perturbações no âmbito da saúde mental constituem um problema grave em Portugal com impactos fortíssimos no bem-estar pessoal e familiar e económicos através da perda de funcionalidade e de gastos brutais em medicação de que somos dos maiores consumidores europeus.
Algumas notas repescadas pensando
sobretudo nos mais novos.
Em Agosto foi divulgado um
trabalho realizado pela Universidade de Calgary, no Canadá em que foram
analisados 29 estudos de diferentes países envolvendo 80879 crianças e jovens.
Como dado mais relevante constata-se que um em cada quatro crianças ou jovens
tem sintomas de depressão elevados e um em cada cinco apresenta sintomas de
ansiedade altos devido à pandemia da covid-19.
Complementando recordo que em
Março deste ano foi divulgado que em alguns hospitais se registou um aumento do
número de crianças e jovens que chegaram ao serviço de urgência com problemas
de ansiedade ou humor. No Hospital D. Estefânia, por exemplo, o número de
crianças e jovens que tiveram contacto com a pedopsiquiatra através de serviço
de urgência aumentou quase 50% no início de 2021 face ao mesmo período do ano
passado.
De facto, têm sido múltiplos os
estudos que referem esta questão, a deterioração da saúde mental de crianças e
jovens, mas também de adultos, no quadro da pandemia. O confinamento que se
associou a isolamento e falta de rede social, as dificuldades de diversa ordem
sentidas nos contextos familiares terão dado um contributo significativo.
Deste quadro resulta a
necessidade de atenção à saúde mental, normalmente um parente pobre das
políticas públicas de saúde.
O impacto da pandemia nas
aprendizagens tem sido muito referido e está a ser objecto de um plano
específico, Plano 21/23 Escola +. Seria importante que a esta recuperação no
plano das aprendizagens estivesse associada a uma forte preocupação com a saúde
mental de crianças e jovens mobilizando os recursos necessários.
Crianças e jovens que passam mal,
não aprendem, vivem pior e correm riscos sérios de comprometer o futuro pelo
que os apoios e resposta não podem, não devem, falhar.
Como o povo diz, é de pequenino
que se torce o … destino.
Acresce que tem vindo a verificar-se
em muitos agregados familiares e em contextos escolares a emergência de
discursos que pressionam os mais novos no sentido de atingirem a excelência nos
resultados escolares ou em qualquer actividade “importante” pois será, dizem, a
“única” forma de atingir um patamar de sucesso futuro.
Como se sabe e a experiência
mostra, muitas crianças e adolescentes não suportam com tranquilidade esta
pressão o que se repercute no seu bem-estar e na sua saúde mental. Para
complicar um pouco mais, ainda se verifica que algumas pessoas desvalorizam
estes fenómenos, entendendo que é preciso ser exigente e bem-sucedido e não
percebendo o sofrimento de algumas crianças e jovens.
Por outro lado, é também
conhecida a enorme dificuldade que muitas instituições que acolhem menores
estão a passar dificultando a resposta com a qualidade bem como a possibilidade
de responder a novas situações.
Os miúdos, nas famílias
preferencialmente, ou nas instituições, necessitam de um aconchego, um ninho,
uma qualidade de vida que os cuidadores, por diversas razões, não sabem, não
querem, não podem ou não são capazes de providenciar. Tal cenário implica
riscos fortíssimos de compromisso do seu futuro pelo que os apoios e resposta
são fundamentais, mas não podem passar apenas pela medicação.
Como o povo diz, é de pequenino
que se torce o … destino.
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