domingo, 10 de outubro de 2021

A SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E JOVENS

 Na agenda das consciências cumpre-se hoje o Dia Mundial da Saúde Mental que, como muitas afirmo, é o parente pobre das políticas de saúde. Os indicadores disponíveis mostram com as perturbações no âmbito da saúde mental constituem um problema grave em Portugal com impactos fortíssimos no bem-estar pessoal e familiar e económicos através da perda de funcionalidade e de gastos brutais em medicação de que somos dos maiores consumidores europeus.

Algumas notas repescadas pensando sobretudo nos mais novos.

Em Agosto foi divulgado um trabalho realizado pela Universidade de Calgary, no Canadá em que foram analisados 29 estudos de diferentes países envolvendo 80879 crianças e jovens. Como dado mais relevante constata-se que um em cada quatro crianças ou jovens tem sintomas de depressão elevados e um em cada cinco apresenta sintomas de ansiedade altos devido à pandemia da covid-19.

Complementando recordo que em Março deste ano foi divulgado que em alguns hospitais se registou um aumento do número de crianças e jovens que chegaram ao serviço de urgência com problemas de ansiedade ou humor. No Hospital D. Estefânia, por exemplo, o número de crianças e jovens que tiveram contacto com a pedopsiquiatra através de serviço de urgência aumentou quase 50% no início de 2021 face ao mesmo período do ano passado.

De facto, têm sido múltiplos os estudos que referem esta questão, a deterioração da saúde mental de crianças e jovens, mas também de adultos, no quadro da pandemia. O confinamento que se associou a isolamento e falta de rede social, as dificuldades de diversa ordem sentidas nos contextos familiares terão dado um contributo significativo.

Deste quadro resulta a necessidade de atenção à saúde mental, normalmente um parente pobre das políticas públicas de saúde.

O impacto da pandemia nas aprendizagens tem sido muito referido e está a ser objecto de um plano específico, Plano 21/23 Escola +. Seria importante que a esta recuperação no plano das aprendizagens estivesse associada a uma forte preocupação com a saúde mental de crianças e jovens mobilizando os recursos necessários.

Crianças e jovens que passam mal, não aprendem, vivem pior e correm riscos sérios de comprometer o futuro pelo que os apoios e resposta não podem, não devem, falhar.

Como o povo diz, é de pequenino que se torce o … destino.

Acresce que tem vindo a verificar-se em muitos agregados familiares e em contextos escolares a emergência de discursos que pressionam os mais novos no sentido de atingirem a excelência nos resultados escolares ou em qualquer actividade “importante” pois será, dizem, a “única” forma de atingir um patamar de sucesso futuro.

Como se sabe e a experiência mostra, muitas crianças e adolescentes não suportam com tranquilidade esta pressão o que se repercute no seu bem-estar e na sua saúde mental. Para complicar um pouco mais, ainda se verifica que algumas pessoas desvalorizam estes fenómenos, entendendo que é preciso ser exigente e bem-sucedido e não percebendo o sofrimento de algumas crianças e jovens.

Por outro lado, é também conhecida a enorme dificuldade que muitas instituições que acolhem menores estão a passar dificultando a resposta com a qualidade bem como a possibilidade de responder a novas situações.

Os miúdos, nas famílias preferencialmente, ou nas instituições, necessitam de um aconchego, um ninho, uma qualidade de vida que os cuidadores, por diversas razões, não sabem, não querem, não podem ou não são capazes de providenciar. Tal cenário implica riscos fortíssimos de compromisso do seu futuro pelo que os apoios e resposta são fundamentais, mas não podem passar apenas pela medicação.

Como o povo diz, é de pequenino que se torce o … destino.

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