terça-feira, 12 de outubro de 2021

A UNIVERSALIDADE DO ACESSO À EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR. AINDA NÃO É DESTA

 Há alguns dias foi divulgada a versão preliminar da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza 2021-2030. Vai entrar em discussão pública e inclui uma proposta de alargamento da escolaridade obrigatória para quinze anos iniciando-se aos três anos.

O objectivo será que através da frequência universal da educação pré-escolar se combatam desigualdades que afectam as crianças e dificultam o seu trajecto de desenvolvimento e educação de forma bem-sucedida.

Hoje, com a divulgação da proposta de Orçamento de Estado para 2022 ficamos a saber que ainda não será garantida a universalidade do acesso a educação pré-escolar aos 3 anos pois implicaria um investimento não previsto na capacidade de resposta da rede existente.

Sou dos tenho alguma reserva face à obrigatoriedade da frequência do jardim-de-infância aos três anos, mas defendo a universalidade do acesso. Dito de outra maneira, nenhuma criança com três anos deve ser obrigada frequentar jardim-de-infância, mas qualquer família que precise de aceder a esta resposta deve ter acesso e em condições acessíveis e com qualidade.

Assim, mais do que discutir sobre o alargamento da escolaridade obrigatória a partir dos três anos importa, isso sim, assegurar, a universalidade da resposta o que ainda não será conseguido durante o próximo ano dificultando a situação de crianças e famílias.

Como aqui escrevi há dias a propósito desta questão, existem lista de espera de creches e jardins-de-infância no chamado sector social em que as mensalidades são indexadas aos rendimentos familiares. Esta situação afecta sobretudo zonas mais urbanas e a alternativa da resposta privada é inacessível para muitas famílias.

Acresce que para além da dificuldade de encontrar respostas os custos elevados do acesso aos equipamentos, boa parte privada ou da rede social, são dos mais altos no contexto europeu de acordo com o relatório "Starting Strong 2017" da OCDE. Aliás esta questão é contributiva para a baixa natalidade tal como vários outros aspectos das políticas públicas, designadamente as políticas de família.

Como já afirmei, tendo dúvidas sobre a obrigatoriedade da frequência, mas tenho a maior convicção na necessidade de garantir a universalidade do acesso à educação pré-escolar aos três anos criando uma rede de oferta com respostas de qualidade, acessíveis, logística e economicamente.

Sabemos todos como o desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente influenciado pela qualidade das experiências educativas familiares e institucionais nos primeiros anos de vida, de pequenino é que ...

Assim, existem áreas na vida das pessoas que exigem uma resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não existindo, se tornam uma ameaça muito séria ao futuro, a educação de qualidade universalmente acessível para os mais pequenos é uma delas.

No entanto e mais uma vez, a educação pré-escolar é bastante mais que a “preparação” para a escola, não deve ser entendida como uma etapa na qual os meninos se preparam para entrar na escola embora se saiba do impacto positivo que assume no seu trajecto escolar.

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