Há alguns dias foi divulgada a versão preliminar da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza 2021-2030. Vai entrar em discussão pública e inclui uma proposta de alargamento da escolaridade obrigatória para quinze anos iniciando-se aos três anos.
O objectivo será que através da frequência universal da
educação pré-escolar se combatam desigualdades que afectam as crianças e
dificultam o seu trajecto de desenvolvimento e educação de forma bem-sucedida.
Hoje, com a divulgação da proposta de Orçamento de Estado
para 2022 ficamos a saber que ainda não será garantida a universalidade do acesso a educação pré-escolar aos 3 anos pois implicaria um investimento não previsto na capacidade de resposta da
rede existente.
Sou dos tenho alguma reserva face à obrigatoriedade da frequência
do jardim-de-infância aos três anos, mas defendo a universalidade do acesso.
Dito de outra maneira, nenhuma criança com três anos deve ser obrigada frequentar
jardim-de-infância, mas qualquer família que precise de aceder a esta resposta
deve ter acesso e em condições acessíveis e com qualidade.
Assim, mais do que discutir sobre o alargamento da
escolaridade obrigatória a partir dos três anos importa, isso sim, assegurar, a
universalidade da resposta o que ainda não será conseguido durante o próximo
ano dificultando a situação de crianças e famílias.
Como aqui escrevi há dias a propósito desta questão, existem
lista de espera de creches e jardins-de-infância no chamado sector social em
que as mensalidades são indexadas aos rendimentos familiares. Esta situação
afecta sobretudo zonas mais urbanas e a alternativa da resposta privada é
inacessível para muitas famílias.
Acresce que para além da dificuldade de encontrar respostas
os custos elevados do acesso aos equipamentos, boa parte privada ou da rede
social, são dos mais altos no contexto europeu de acordo com o relatório
"Starting Strong 2017" da OCDE. Aliás esta questão é contributiva
para a baixa natalidade tal como vários outros aspectos das políticas públicas,
designadamente as políticas de família.
Como já afirmei, tendo dúvidas sobre a obrigatoriedade da
frequência, mas tenho a maior convicção na necessidade de garantir a
universalidade do acesso à educação pré-escolar aos três anos criando uma rede
de oferta com respostas de qualidade, acessíveis, logística e economicamente.
Sabemos todos como o desenvolvimento e crescimento
equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente influenciado pela qualidade das
experiências educativas familiares e institucionais nos primeiros anos de vida,
de pequenino é que ...
Assim, existem áreas na vida das pessoas que exigem uma
resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não existindo, se tornam uma
ameaça muito séria ao futuro, a educação de qualidade universalmente acessível
para os mais pequenos é uma delas.
No entanto e mais uma vez, a educação pré-escolar é bastante
mais que a “preparação” para a escola, não deve ser entendida como uma etapa na
qual os meninos se preparam para entrar na escola embora se saiba do impacto
positivo que assume no seu trajecto escolar.
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