domingo, 3 de outubro de 2021

A EDUCAÇÃO EM ALERTA VERMELHO

 No Público encontra-se um conjunto de trabalhos sobre o universo dos professores que, recorrendo a uma expressão recorrente, é motivo para estabelecer um alerta vermelho no mundo da educação. São abordados aspectos como o envelhecimento da classe e o seu não rejuvenescimento, o modelo de carreira com implicações devastadoras nos projectos de vida muitos professores quando deveria constituir um projecto de realização, falta de docentes em muitas escolas e em diferentes grupos disciplinares, incapacidade de para atrair estudantes para a formação nas áreas da docência, etc.

Lamentavelmente não é nada de novo, há anos que sucessivos relatórios nacionais e internacionais têm alertado para gravidade do envelhecimento da classe docente, dos efeitos associados, e da certeza da falta de docentes a curto prazo que, aliás, já se faz sentir em alguns grupos como este arranque de lectivo tem demonstrado. Algumas notas.

O envelhecimento da classe docente não é um problema exclusivo do nosso sistema, mas é particularmente grave sendo que alguns países também afectados têm iniciativas já em desenvolvimento no sentido de o minimizar.

Acresce que recordando um trabalho do CNE por solicitação da Parlamento, até 2030 mais de metade do corpo docente, 57,8%, sairá para a aposentação. Para além da elevada idade média, considerando os modelos de selecção e recrutamento, é ainda significativo que, como também já era conhecido, em cinco anos a inscrição de alunos em cursos de formação para a docência baixou para metade, os cursos de formação de professores, de uma forma geral, perderam atractividade, menos 70% desde o início do século.

Ao perfil dos docentes em termos de idade acresce que como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente é altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a níveis pouco positivos de satisfação profissional a que se soma os riscos acrescidos da situação que atravessamos

Na verdade, este cenário só pode surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam na comunicação social perorando sobre educação e sobre os professores.

Também se sabe que as oscilações da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do sistema, novos e velhos, como também não explicam a insuficiente renovação, contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é bastante superior a presença de docentes mais jovens.

Não esqueçamos ainda a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm desenvolvido políticas que contribuem para a desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais. Os últimos tempos têm sido particularmente elucidativos.

Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação por diferentes razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.

Com a previsível aposentação de milhares de professores num prazo relativamente curto teremos uma significativa falta de docentes. O problema é que, como já referi, muito pelo contributo de opinadores e por efeitos de algumas das políticas públicas em matéria de educação a profissão de professor perdeu capacidade de atracção como o trabalho do CNE também sublinha.

Parece clara a necessidade urgente de definir uma resposta oportuna e consistente a este trajecto. Pode passar por um programa de acesso voluntário a reformas antecipadas, mas obrigatoriamente terá de considerar a valorização da função docente.

Sabemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.

Não parece difícil perceber porquê.

1 comentário:

Babel & Caim disse...

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