No Público encontra-se um conjunto de trabalhos sobre o universo dos professores que, recorrendo a uma expressão recorrente, é motivo para estabelecer um alerta vermelho no mundo da educação. São abordados aspectos como o envelhecimento da classe e o seu não rejuvenescimento, o modelo de carreira com implicações devastadoras nos projectos de vida muitos professores quando deveria constituir um projecto de realização, falta de docentes em muitas escolas e em diferentes grupos disciplinares, incapacidade de para atrair estudantes para a formação nas áreas da docência, etc.
Lamentavelmente não é nada de
novo, há anos que sucessivos relatórios nacionais e internacionais têm alertado
para gravidade do envelhecimento da classe docente, dos efeitos associados, e
da certeza da falta de docentes a curto prazo que, aliás, já se faz sentir em
alguns grupos como este arranque de lectivo tem demonstrado. Algumas notas.
O envelhecimento da classe
docente não é um problema exclusivo do nosso sistema, mas é particularmente
grave sendo que alguns países também afectados têm iniciativas já em
desenvolvimento no sentido de o minimizar.
Acresce que recordando um
trabalho do CNE por solicitação da Parlamento, até 2030 mais de metade do corpo
docente, 57,8%, sairá para a aposentação. Para além da elevada idade média,
considerando os modelos de selecção e recrutamento, é ainda significativo que,
como também já era conhecido, em cinco anos a inscrição de alunos em cursos de
formação para a docência baixou para metade, os cursos de formação de
professores, de uma forma geral, perderam atractividade, menos 70% desde o início do século.
Ao perfil dos docentes em termos
de idade acresce que como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente é
altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e
mental provocado pela vida profissional, associado a níveis pouco positivos de
satisfação profissional a que se soma os riscos acrescidos da situação que
atravessamos
Na verdade, este cenário só pode
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam na comunicação social perorando sobre educação
e sobre os professores.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a insuficiente renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens.
Não esqueçamos ainda a deriva
política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas,
criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um
desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm desenvolvido políticas que contribuem para
a desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e
nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais. Os últimos
tempos têm sido particularmente elucidativos.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação por diferentes razões incluindo emocionais,
de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
Com a previsível aposentação de
milhares de professores num prazo relativamente curto teremos uma significativa
falta de docentes. O problema é que, como já referi, muito pelo contributo de
opinadores e por efeitos de algumas das políticas públicas em matéria de
educação a profissão de professor perdeu capacidade de atracção como o trabalho
do CNE também sublinha.
Parece clara a necessidade urgente
de definir uma resposta oportuna e consistente a este trajecto. Pode passar por
um programa de acesso voluntário a reformas antecipadas, mas obrigatoriamente
terá de considerar a valorização da função docente.
Sabemos que os sistemas
educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores
são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
Não parece difícil perceber porquê.
1 comentário:
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