O Público divulga alguns dados de um estudo realizado pelo Centro de Investigação e Intervenção na Leitura do Instituto Politécnico do Porto que não sendo surpreendentes merecem atenção e, sobretudo, acção. O trabalho procurou identificar efeitos da suspensão das aulas no ano lectivo passado na competência de leitura de alunos agora no 2ºano de escolaridade.
O trabalho envolveu 542 crianças do 2.º ano de escolaridade
de 11 agrupamentos de escolas do Porto, cerca de um terço do universo
concelhio.
Em termos de resultados, neste início de ano 27% dos alunos
do 2.º ano evidenciaram um desempenho na leitura “muito pobre” (percentil 10)
neste início de ano lectivo e 10% no nível “frágil” (percentil 25).
Também sem surpresa a percentagem de alunos com nível “muito
pobre” oriundas de famílias não desfavorecidas é de 22% sendo que os alunos com
famílias carenciadas são 32%.
Este estudo tem sido realizado regularmente e mostra os
efeitos da situação atípica do ano lectivo passado, em edições anteriores e no
mesmo contexto a percentagem de alunos com níveis, “muito pobre” e “frágil” era
12% mais baixa. Apesar do esforço gigantesco realizado por professores e escolas no terceiro período do ano que passo, ficaram claros os impactos negativos e de natureza variada que a suspensão das aulas teve em muitos alunos como também este trabalho mostra.
A literacia é reconhecidamente uma das ferramentas críticas
na e para a aprendizagem bem como para o acesso ao conhecimento e
desenvolvimento.
Fragilidades no início do processo de aprendizagem formal da
leitura e da escrita podem comprometer trajectos educativos bem-sucedidos.
Nesta perspectiva e sabendo que foi definido como orientação
do ME que a fase inicial deste ano lectivo se centrasse na recuperação e
consolidação de aprendizagens importa que as escolas tenham os recursos
necessários e competentes para que esta consolidação e recuperação sejam tão
sólidas quanto possível.
É ainda necessário, como sempre, uma atenção particular aos
efeitos das variáveis sociodemográficas, contexto familiar, por exemplo, e
definir estratégias, mais uma vez com os recursos necessários e de forma
regulada, que possam minimizar ou ultrapassar os factores de risco que envolvem
muitas crianças.
De pequenino é que … se torce o destino.
Continuamos, pois, com um caderno de encargos bem pesado, não deixar crianças para trás.
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