Alexandre Homem Cristo retoma no
Observador um tema recorrente, são fundamentalmente os alunos com notas mais
baixas no trajecto e exames do secundário que concorrem à formação em educação
para a acesso à profissão docente.
No led do texto lê-se que “Na licenciatura em Educação Básica, só numa instituição a nota do último colocado superou 14 valores. Apenas noutras 4 (20%) superou 13 valores. E em 11 instituições (55%) ficou abaixo de 12 valores” pelo que AHC conclui “Os bons alunos (ainda) não querem ser professores” inferindo-se que alunos com notas mais baixas no secundário e nos exames não podem tornar-se bons professores o que me parece ser apressado, para ser simpático.
Em primeiro lugar julgo ser
necessária prudência sobre a interpretação destes dados e o seu impacto na
qualidade dos trajectos futuros, a relação entre o perfil de desempenho de um
aluno de 15 anos ou as médias do acesso ao ensino superior e o seu potencial
desempenho futuro como professor deve ser vista com extrema reserva. Não é
garantido que estes alunos venham a ser maus profissionais como não é garantido
que todos os alunos com médias mais elevadas que se candidatam a outras áreas
científicas venham a ser excelentes profissionais. Aliás, alguns estudos,
nomeadamente, da Universidade do Porto mostram que muitos alunos que entram n
Superior com notas muito altas nem sempre mantêm esse trajecto
Uma segunda nota para defender
que este cenário também se liga ao mecanismo de acesso ao superior. De há muito
que defendo que as médias de conclusão do secundário deveriam ser apenas um dos
critérios de acesso ao superior e que deveriam ser as instituições de ensino
superior a estabelecer o conjunto de critérios na ordenação do acesso às
diferentes áreas científicas. Um caso simples (talvez demasiado simples) para
ilustrar isto. Eu quero ser professor mas sei que as notas de acesso são baixas
devido à baixa procura. Assim e como não me parece particularmente motivador o
que ando a aprender no secundário, cumpro a formação com resultados baixos que
me permitem aceder ao meu sonho no qual vou investir e ser bom aluno e bom
profissional. É inverosímil? Não creio.
No caso dos professores e das
ciências da educação, como noutras áreas, não é impossível desenhar
dispositivos de acesso que despistem vocações e motivações, competências
diversas e requisitos considerados pertinentes e considerem também,
naturalmente, as médias de conclusão do secundário.
No que que respeita à construção
de um bom professor importa ainda não esquecer variáveis fundamentais, a
qualidade da sua formação o que obriga a reflectir sobre o que é feito nesta
matéria e a regulação do acesso à carreira profissional através da única forma
de o fazer correctamente, o desempenho em sala de aula, e não uma sinistra PACC
de má memória.
Em síntese e como muitas vezes
afirmo, estou bastante mais inquieto com o que é construído com os alunos
durante o tempo que frequentam o ensino superior, seja na formação de
professores ou noutra área, do que preocupado com as notas ou percursos de entrada,
desde que transparentes e legais. Aliás, e como disse acima os mecanismos de acesso
ao superior deveriam ser revistos.
Por outro lado, outros aspectos
merecem consideração. Não creio que a este cenário seja alheio alguns discursos
produzidos sobre os professores que desvalorizam e empobrecem o seu estatuto
social e a representação sobre a classe e que são produzidos, por exemplo, por
“opinion makers” que frequentemente têm agendas implícitas e quase sempre estão
mal informados.
Talvez também não seja alheia a
instabilidade nas políticas educativas com impacto óbvio na estabilidade das
carreiras e da sua valorização. Provavelmente em muitas famílias, as que mais
probabilidades terão de ter filhos com melhor desempenho escolar, a profissão
professor não é uma escolha incentivada ou, no mínimo, bem aceite.
Também alguns discursos vindos
dos próprios representantes dos professores podem muitas vezes contribuir para
equívocos e representações desajustadas sobre os professores e os seus
problemas.
Julgo ainda que deve ser
considerado o impacto de alterações nos valores, padrões e estilos e vida das
famílias que fazem derivar para a escola, para os professores, parte do papel
que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem
qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo em
climas institucionais pouco favoráveis.
Deste cenário resulta como tantas
vezes tenho afirmado a necessidade da valorização dos docentes e da sua
profissão de modo a que se torne mais atractiva.
Tenho a maior das dúvidas relativas a estes estudos e a forma como são divulgados não se inscrevem numa agenda de
desvalorização e diabolização dos professores que certamente terá um enorme
custo de que, evidentemente, ninguém será responsável.
Sem comentários:
Enviar um comentário