Depois de em 2018 Jorge Teixeira,
docente da Escola Secundária Dr. Júlio Martins, em Chaves, ter sido considerado
o melhor professor de Portugal pelo concurso "Global Teacher Prize" e
em 2019 integrar ficou na lista dos 50 melhores docentes do mundo no âmbito do
"Global Teacher Award 2020 & Teacher Inspiraton Week” foi-lhe
atribuído o prémio de 2020.
Uma saudação ao Professor Jorge
Teixeira e algumas notas repescadas.
Acho que este tipo de iniciativas
pode ter algum significado sobretudo como valor simbólico de valorização e
reconhecimento do trabalho dos professores num tempo em que tal reconhecimento
e valorização nem sempre são sólidos e expressos. Os tempos que temos vivido
recentemente tornaram ainda mais evidente a importância do seu trabalho.
No entanto, não acredito muito na
ideia do melhor professor de …
A esmagadora maioria dos
professores é competente e empenhada nesse trabalho, procurando desenvolvê-lo
com qualidade, rigor e eficácia, sem facilitismos, contrariamente ao que tantas
vezes se afirma de forma ignorante. Todos os dias, em todas as escolas muitos
professores fazem trabalhos de notável qualidade e empenho que mais frequentemente apenas
são valorizados e conhecidos … pelos seus alunos.
Como tantas vezes refiro, quando
qualquer de nós faz um esforço para recuperar lembranças positivas sobre os
professores, poucos ou muitos, com que nos cruzámos durante o nosso trajecto
escolar, creio que quase todos nos lembramos de professores que continuam na
nossa lembrança não só pelos saberes escolares que nos ajudaram a adquirir mas,
sobretudo, por aquilo que representaram e foram para nós, ou seja, pela forma
como nos marcaram. Cada um desses professores é, certamente, o melhor professor
que conhecemos.
Por isso, cada vez mais estou
convicto de que os professores, tanto quanto ensinar o que sabem, ensinam o que
são, ou seja, existem muitos que nos ensinam saberes, o que é bom e
indispensável, mas nem todos permanecem com a gente.
Parece-me sempre oportuno mas
nestes tempos mais que nunca acentuar a importância desta dimensão mais ética e
afectiva do ensino. Deve ser valorizada e promovida para que os miúdos possam,
posteriormente, falar dos professores que os marcaram e que, por essa razão,
continuaram com eles.
Para complementar permitam-me
recuperar uma história que já aqui coloquei, o Mestre Teixeira, o mestre de
Fusíveis. Por coincidência também é Teixeira.
O Mestre Teixeira foi há muitos
anos professor de uma escola que havia naquele tempo que se destinava mais a
ensinar o saber-fazer do que o saber-saber. Chamavam-lhes escolas técnicas,
umas mais dirigidas para a indústria, as industriais, outras mais dirigidas para
os serviços, as comerciais.
O Mestre Teixeira era professor
numa escola industrial e era especialista nas coisas da electricidade, sabia
tudo sobre esse mundo e tinha, isso é que o fazia ser como era, uma paixão
enorme por aquelas coisas. Algumas pessoas, o Mestre Teixeira era uma delas,
gostam que toda a gente goste das coisas que os apaixonam e era a partir dessa
paixão que ele se relacionava com os alunos.
Mas a grande virtude do Mestre
Teixeira era a sua capacidade para entender os alunos, ler os alunos, como eu
costumo dizer. Tinha uma capacidade notável de perceber o que se passavam com
os adolescentes, o que os levava aos comportamentos ou às dificuldades que
evidenciavam. Era quando ele falava qualquer coisa como "tens algum
fusível a precisar de ser visto ou a queimar". Tinha então a sabedoria
para perceber o que se passava e "arranjar" os fusíveis que não
estavam em boas condições. Tal sabedoria e faziam dele um daqueles professores
que nos marcam, ensinam o que são, mais do que o que sabem, mesmo quando sabem
muito, como era o caso do Mestre Teixeira.
Por isso toda a gente lhe chamava
O Mestre de Fusíveis. Hoje, mais do que nunca, fazem falta os Mestres de
Fusíveis.
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