No DN encontra-se uma entrevista com a Professora Teresa Paiva, uma referência nos estudos e intervenção sobre o sono, que merece
leitura e reflexão.
A qualidade e higiene do sono são, de facto, matérias de
grande importância no bem-estar e qualidade de vida das pessoas e em todas as
idades. No entanto nem sempre têm a atenção devida.
É conhecido o aumento exponencial do consumo de produtos
para “ajudar” a dormir e ao facto de muitos trabalhos evidenciarem a
insuficiência do tempo de sono presente no estilo de vida de muitos de nós e
que as circunstâncias excepcionais que atravessamos potenciam. Esta situação é
particularmente importante nos mais novos e muitas vezes aqui a tenho referido.
De novo algumas notas.
Recordo um estudo de 2016 da Universidade do Minho que
sugere que cerca de 72% de mais de quinhentas crianças e adolescentes
inquiridos, dos 9 aos 17, dormem menos do que seria recomendável para as suas
idades. Aliás, estudos liderados pela Professora Teresa Paiva mostram isso
mesmo.
Para além das questões ligadas aos estilos de vida e às
rotinas, uma das causas apontadas é a presença de aparelhos como computadores,
tablets ou smartphones no quarto.
O período de confinamento e sobrevalorização da presença dos
dispositivos digitais no dia-a-dia acentuou algumas preocupações.
Em 2013, um estudo da University College of London mostrava
o impacto negativo que a ausência de rotinas como deitar à mesma hora podem ter
no bem-estar e saúde das crianças afectando, por exemplo, o processamento da
aprendizagem.
Um estudo recente realizado nos EUA acompanhando durante
seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de relação entre perturbações
do sono e o desenvolvimento de problemas de natureza diferenciada no
comportamento e funcionamento das crianças.
Esta questão, os padrões e hábitos de sono das crianças e
dos adolescentes, é algo de importante que nem sempre parece devidamente considerada.
A falta de qualidade do sono e do tempo necessário acaba,
naturalmente, por comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes,
incluindo o rendimento e comportamento escolar. Todos nos cruzamos
frequentemente nos Centros Comerciais, por exemplo, com crianças, mais pequenas
ou maiores, a horas a que deveriam estar na cama e que, penosa mas
excitadamente, deambulam atreladas aos pais.
Alguma evidência sugere que parte das alterações verificadas
nos padrões e hábito relativos ao sono remete para questões ligadas a stresse
familiar e sublinha o aumento das queixas relativas a sonolência e alterações
comportamentais durante o dia.
As situações de stresse familiar serão importantes, mas
parece-me necessário não esquecer alguns aspectos relacionados com os estilos
de vida, com as rotinas ou com a utilização nem sempre regulada das novas
tecnologias. Muitos trabalhos mostram também que boa parte das crianças e
adolescentes que acedem a computador ou smartphone o fazem no quarto.
Acontece assim que durante o período que seria dedicado ao
sono, sem regulação familiar muitas crianças e adolescentes continuam diante de
um ecrã. Como é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar
consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção,
ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro
geral de pior qualidade de vida.
Creio que, com alguma frequência, alguns comportamentos e
dificuldades escolares dos miúdos, sobretudo nos mais novos que por vezes,
sublinho por vezes, são de uma forma aligeirada remetidos para problemas como
hiperactividade ou défice de atenção, podem estar associados aos seus estilos
de vida ou aos modelos educativos, universo onde se incluem os hábitos e
padrões de sono como, aliás, alguns estudos e a experiência de muitos
profissionais parecem sugerir.
Considerando as implicações sérias na vida diária importa
que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para estas questões
e que apesar a utilização imprescindível e útil destes dispositivos seja regulada
e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes
A experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram
necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.
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