quarta-feira, 25 de março de 2020

SIM, É NECESSÁRIO AVALIAR, MAS AVALIAR O QUÊ?


Como tem sido amplamente referido e sentido o universo da educação, familiar e escolar, enfrenta desafios gigantescos.
As escolas, os professores, estão a desenvolver um esforço enorme no sentido de minimizar os efeitos do encerramento das escolas, da estadia dos alunos e de muitos pais recorrendo predominantemente aos dispositivos de natureza digital.
A situação é muito complexa e desigualdades reconhecidas nos recursos digitais e nos níveis de literacia das famílias, capacidade e acessibilidade das redes em muitos locais, disponibilidade das famílias que também têm que assegurar vida profissional, seja em teletrabalho, seja nos espaços habituais, estabelecem um quadro inquietante. Acresce a ameaça ao bem-estar psicológico que decorre das dificuldades emergentes de diferente natureza incluindo económicas ou a existência de necessidades específicas em muitos alunos.
Parece seguro que a recuperação de alguma normalidade estará certamente afastada no tempo, o terceiro período será vivido neste cenário.
Ninguém têm as respostas e os recursos necessários, eventualmente até seria difícil definir com algum rigor e confiança quais as respostas, quais os recursos e como disponibilizá-los em tempo útil.
Teremos agora uns dias para reflexão, chamar-lhes férias da Páscoa soa a estranho, mas não é fácil introduzir mudanças com impacto rápido.
Uma das questões que mais recorrentemente é referida prende-se com a avaliação dos alunos, como e quando realizá-la. Creio que a questão da avaliação é, de facto, muito importante, sendo que o seu impacto varia com os anos de escolaridade e natureza da avaliação, interna, externa, provas de aferição ou exames nacionais, sobretudo no secundário devido ao peso que assumem no acesso ao ensino superior.
Sendo certo que a avaliação é uma ferramenta imprescindível nos processos educativos vejo menos reflectido o outro lado da avaliação, a aprendizagem.
Que competências e saberes decorrentes dos conteúdos curriculares estão a ser adquiridas em função das circunstâncias que acima referi, uma enorme diversidade nos contextos familiares, nos recursos e competências disponíveis, a diversidade do trabalho realizado por escolas e professores em situações múltiplas na natureza, actividades, meios utilizados, duração, dispositivos de apoio, etc.
Sim, é necessário avaliar, mas avaliar o quê? Avaliar o que avaliaríamos num cenário de ”normalidade” adaptando os dispositivos e suporte?  Como regular e promover equidade no acesso ao que será objecto da avaliação.
E certamente também teremos de ir avaliando o que tem sido feito para sustentar melhor o que temos de fazer.
Creio que como a generalidade das pessoas, não tenho certezas, são muitas as dúvidas, são de mais.
É isso que me inquieta.

Sem comentários: