domingo, 1 de março de 2020

A MATURIDADE DOS MIÚDOS


Uma das características dos tempos crispados que vivemos parece ser a incapacidade de comunicação, de diálogo, sem que rapidamente se passe à sobreposição de monólogos quando não à crispação e à agressividade.
A este propósito lembrei-me de uma situação a que assisti e que creio poder ser fonte de reflexão.
Há algum tempo no âmbito de um encontro informal com amigos e colegas, acabaram por se juntar dois miúdos de sete ou oito anos, um deles filho dos donos da casa. O miúdo da casa foi buscar uma série de brinquedos e no chão a um canto, os dois entretiveram-se a brincar durante algum tempo, a princípio sem grande envolvimento mas, de mansinho, a brincadeira começou a ser conjunta. A minha atenção prendeu-se no facto de não trocarem qualquer palavra, apenas olhavam um para o outro e a brincadeira ia-se desenrolando. No fim do serão quando a família visitante se retirou o miúdo perguntou aos pais.
Ele não fala?
Fala, fala inglês e quase nada em português. Tu sabes algumas palavras de inglês, mas vocês não falaram.
Não foi preciso, é meu amigo.
Finalizou o miúdo com um encolher de ombros de indiferença.
A maturidade dos putos não pára de me surpreender, sobretudo quando comparada com a imaturidade dos adultos que nem falando a mesma língua se conseguem entender.
Não tenho qualquer visão idealizada de crianças e jovens mas continuo a achar que terão mesmo de ser o melhor do mundo ainda que a afirmação seja de um Poeta que, como sabem, são uns fingidores.

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