A tradição continua a ser o que tem sido.
Apesar de alguma melhoria global, a retenção escolar continua fortemente
associada ao nível socioeconómico das famílias dos alunos.
Dos dados agora divulgados pelo ME e em síntese releva que em
2018/2019 apenas 21% dos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar cumpriram
o 9º ano sem retenções, entre os alunos com meios familiares mais favorecidos a percentagem
de trajectos sem retenção foi 56%. No ensino secundário a diferença é menor,
mas ainda bastante significativa, 29% e 45%.
Os números ilustram uma situação que, lamentavelmente, não
tem nada de novo. Algumas notas.
Sabemos que muitas escolas são espaços de sucesso e que o
insucesso é mais elevado em escolas de periferia que servem territórios mais
vulneráveis em termos sociais e económicos e em escolas de concelhos do
interior mais desertificado, embora, sublinhe-se, mesmo nesses contextos
existam escolas que conseguem fazer a diferença.
Também sabemos que no âmbito do insucesso se identifica como
questão crítica a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática num
quadro curricular que carece de ajustamento para além da “mágica”
flexibilidade.
Creio que para muitos de nós que a retenção escolar, o
chumbo, só por existir, não transforma o
insucesso em sucesso, repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera
mais insucesso conforme os estudos mostram, quer se queira, quer não. Recordo
que já no relatório relativo ao PISA de 2012 a OCDE afirmava que a retenção, é
para os alunos portugueses o principal factor de risco para os resultados na
avaliação posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam … mas não
melhoram.
Também os dados do PISA de 2018 mostram que só 10% dos alunos mais carenciados onseguem atingir os níveis mais elevados de competência em leitura.
Parece claro que para promover mais sucesso e não empurrar
os alunos para os anos seguintes sem nenhuma melhoria nas suas competências ou
saberes é essencial promover e tornar acessíveis a alunos, professores e
famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e
genericamente ineficaz medida do chumbo.
Sabemos também que a escola pode e deve fazer a diferença,
em muitas escolas isso acontece. Mas para que isto seja consistente e não
localizado também sabemos que o sucesso se constrói identificando e prevenindo
dificuldades de forma precoce, com a definição de currículos adequados, com a
estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos
e professores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro
normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia,
organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto
e médio prazo, com a valorização do trabalho dos professores, com práticas de
diferenciação que não sejam "grelhodependentes", com expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com
melhores níveis de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer
para alunos, etc.
Não tenho nenhuma convicção que a multiplicação de projectos que emergem fora das escolas, com formas robustas de financiamento fora do sistema educativo, que alimentam agendas e corporações de interesses possam ser o caminho apesar de surgirem sempre alguns resultados ou avaliações que os pretendem legitimar. É com a escola, por dentro da escola e integrado em sólidos projectos de autonomia e responsabilidade e com recursos adequados que o caminho se constrói.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
Só falta um pequeno passo.
Que todos para todos os miúdos possam aceder com equidade a trajectórias de sucesso. Não,
não é uma utopia. Tal como o insucesso não é uma fatalidade do destino.
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