No calendário das consciências assinala-se hoje o dia o Dia
da Internet Mais segura. Como é habitual na imprensa surgem algumas referências
e de correm iniciativas diversificadas.
Embora tenhamos referência positivas, os dados de um Estudo Internacional de Alfabetização em Informática e Informação envolvendo 11 países
sugerem que os alunos portugueses são os mais bem preparados para usar a
internet de forma responsável, a maioria é direccionada para riscos e impactos
negativos.
No âmbito do Projecto Kids Online que envolve 30 países e
analisa a utilização da net e das redes sociais por crianças e adolescentes os
dados de 2018, cerca de 2000 alunos entre os 9 e os 17 anos mostraram
comparativamente a 2014 se verifica uma subida da frequência das situações de
risco a que parece também estar a associada a maior operacionalidade e o tempo
de contacto permitido pela migração da utilização dos pc para os mais
“operacionais” smartphones”.
Para além dos dados do EU Kids Online recordo um trabalho da
OCDE de 2018 "Curriculum Flexibility and Autonomy in Portugal – na
OECDreview” em que considerando dados de 2012 e 2015 (recolhidos no âmbito do
PISA), oito em cada dez adolescentes portugueses afirmam "sentir-se
mal" se não estiverem ligados à internet. Apenas os adolescentes franceses
e suecos de entre os 31 países envolvidos evidenciam uma taxa superior.
Podemos considerar mais um sinal dos tempos as múltiplas
referências ao tempo excessivo e dos riscos associados que que muitas crianças
e adolescentes despendem com a ligação à net nas suas múltiplas possibilidades
designadamente as redes sociais e os riscos associados. Os indicadores relativos ao cyberbullying são inquietantes.
Nesta perspectiva e tal como noutras áreas o recurso
privilegiado a estratégias proibicionistas não funciona. São mais eficientes a
promoção da utilização autoregulada e informada. A net e o mundo de
oportunidades, benefícios e riscos que está presente em todas as suas
potencialidades é uma matéria que deve merecer a reflexão de todos os que lidam
com crianças e jovens embora não lhes diga exclusivamente respeito. É o nosso
trabalho.
Em casa, têm durante muitas horas um ecrã como companhia
durante o pouco tempo que a escola "a tempo inteiro" e as mudanças e
constrangimentos nos estilos de vida das famílias lhes deixam
"livre". Também é verdade que a crescente "filiação" em
redes sociais virtuais pode “disfarçar” o fechamento, juntando quem “sofre” do mesmo mal e
o tempo remanescente para estar em família, frequentemente ainda é passado à
sombra de uma televisão.
De há muitos anos que se sabe que não se cresce só, cresce-se
na relação com pares e adultos. É por isso que, embora entenda a expressão,
ouvir chamar a este tempo, o tempo da comunicação, me faz sorrir, acho mais
apropriado considerá-lo o tempo do estar só ou a assistir à solidão dos outros.
Recordo a afirmação de um miúdo de 11 anos colocada num desenho, "a minha
consola é que me consola".
Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos
mais novos e os riscos potenciais, são problemas menos conhecidos para muitos pais. Considerando as implicações
sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada
aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora
da qualidade de vida das crianças e adolescentes. Existem demasiadas situações
em que desde muito cedo os “smartphones” funcionam como “babysitters”.
Por outro lado, a experiência mostra-me que muitos pais
desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.
Sabemos que estratégias proibicionistas tendem a perder eficácia com a idade.
A referência final para um indicador que foi considerado
pela primeira vez no estudo Kids Online que me parece positivo e encorajador,
crianças e adolescentes percebem que a sua “entrada” neste universo pode não
ser por sua iniciativa. Foram inquiridos sobre “sharenting”, partilha realizada
pelos pais de conteúdos que envolvem os filhos, e revelam algum desconforto,
28% afirmam que os pais publicaram conteúdos (textos, vídeos ou imagens” sobre
eles sem lhes perguntarem se estavam de acordo, 13% sentiram-se incomodados com
essas partilhas e 14% solicitaram aos pais que retirassem esses conteúdos.
Creio que o caminho terá de passar por autonomia,
supervisão, diálogo e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos
dão sobre o que se passa com elas.
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