O texto, diria o manifesto, de Carmen Garcia no Público, “Deficiência:
Não há cá coitadinhos” é uma impressiva e inspiradora reflexão sobre a experiência
de vida de pais com filhos com algum tipo de deficiência. A ler.
(…)
(…)
Permitam-me que insista em ideias e notas que muitas vezes
já aqui deixei.
A verdade, mais uma vez e sempre, é que sem ser por magia ou
mistério quando acreditamos que as pessoas, mais novas ou mais velhas, com
algum tipo de necessidade especial, são capazes, não se "normalizam"
evidentemente, seja lá isso o que for, mas são, na verdade, mais capazes, vão
mais longe do que admitimos ou esperamos, mesmo tão longe como qualquer outra
pessoa. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do meu
ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem, que
eles são capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o progresso
possível e níveis de realização significativos.
E isto envolve professores do ensino regular, de educação
especial, técnicos, pais, lideranças políticas, empregadores e toda a restante
comunidade.
No entanto, em algumas circunstâncias o trabalho
desenvolvido com e por estes alunos é ele próprio um factor de debilização, ou
seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da incompetência genérica dos
técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados e competentes, mas da sua
(nossa) própria representação sobre este grupo de pessoas, isto é, não
acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta representação resultam
situações e contextos de aprendizagem e formação, tarefas e materiais de
aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na definição de objectivos pouco
relevantes, que, obviamente, não conseguem potenciar mudanças significativas o
que acaba por fechar o círculo, eles não são, de facto, capazes. É um fenómeno
de há muito estudado.
Mais uma vez. A inclusão assenta em quatro dimensões
fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence
da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar (envolver-se
activamente da forma possível nas actividades comuns), Pertencer (sentir-se e
ser reconhecido como membro da comunidade) e Aprender (como qualquer pessoa
para potenciar as suas capacidades adquirindo competências e saberes). Estas
dimensões devem ser operacionalizadas assentes em modelos de diferenciação
justamente para que acomodem e respondam à diversidade das pessoas.
É neste sentido que devem ser canalizados os esforços e os
recursos que deverão, obrigatoriamente, existir. Não, não é nenhuma utopia.
Muitas experiências noutras paragens, mas também por cá como a que serve de
base a este texto, mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais difícil, tantas vezes o tenho
afirmado. É acreditar que eles são capazes e entender que é assim que deve ser.
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