quinta-feira, 31 de julho de 2008

DEVE SER UM VOTO DE BOAS FÉRIAS

A inédita decisão do Presidente Cavaco Silva de interromper as férias e oferecer uma intervenção no nobre horário das 20 está, naturalmente, a agitar o país, especulando-se sobre o provável conteúdo(s) da conversa. A generalidade dos analistas, inclina-se para uma referência ao veto do Tribunal Constitucional ao Estatuto dos Açores e/ou à promulgação (ou não) de alguns diplomas que a aguardam.
Podem confirmar-se estas análises, no entanto, creio que outras hipóteses devem ser consideradas. Vejamos algumas.
Confirmando-se a suspensão de dois anos a Pinto da Costa, como irá o país futebolístico reagir e manter a serenidade? É importante a ponderada opinião do Professor Cavaco Silva.
A agitação extraordinária do Dr. Portas sobre o Rendimento Social de Inserção atribuído aos parasitas e marginais pode, também, justificar uma palavra de apaziguamento de Cavaco Silva.
Seis milhões (pelo menos) de portugueses estão sem saber o que vai acontecer a Mantorras e muitos outros inquietam-se com os problemas de Moutinho e a sua saída do Sporting. Importa uma palavra de tranquilidade do PR, que pode, até, incluir uma referência tranquilizadora a Cristiano Ronaldo e à sua eventual ida para o Real Madrid e à manutenção de Quaresma no Porto.
Outra hipótese, pode ser informar o país que, afinal, a Dra. Manuela Ferreira Leite, já lhe comunicou uma ideia para fazer oposição ao PS.
Finalmente, pode, simplesmente acontecer que o Professor Cavaco Silva esteja preocupado com o desaparecimento do Menino Guerreiro, Santana Lopes, que já foi visto de IPhone e quer um Magalhães.
De resto, só mesmo para nos desejar boas férias.

NOVAS OPORTUNIDADES PARA LICENCIADOS

Se não estivesse em jogo a dignidade das pessoas envolvidas, poderíamos estar em presença de um excelente contributo para a “silly season”, que este ano tão discreta tem estado. Segundo o Correio da Manhã, funcionários do Ministério da Agricultura em situação de Mobilidade Especial, terão recebido ofertas no sentido de participarem em acções de formação. O meritório objectivo, seria promover para estes funcionários a aquisição de habilitações ao nível do 9º e 12º ano. Existe, no entanto, um pormenor, os funcionários são economistas, engenheiros ou detentores de outras licenciaturas. Extraordinário. O ministro Jaime Silva, certamente convertido ao emblemático Novas Oportunidades, ou, outra hipótese, desconfiado das habilitações académicas dos seus funcionários, ou ainda, pela incompetência política e pressa de mostrar serviço ao dono, ofereceu um, mais um, exemplo de como não se devem tratar as pessoas, por mais razoáveis e necessárias que possam ser as mudanças. Mas vai acontecer nada, “comme d’habitude”.

PERDIDO

Nascer perdido, do acaso.
Crescer perdido, do abandono.
Viver perdido, do rumo.

Amor perdido, da ausência.
Tempo perdido, do vazio.
Pensamento perdido, da descrença.
Sentido perdido, da vida.
Corpo perdido, do cansaço.
Perdido, de só.
Perdido, de sempre.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O MAGALHÃES E O PENSAMENTO MÁGICO

É de saudar o investimento anunciado de 400 milhões de euros em educação que permitirá, designadamente, a instalação de acesso à net em todas as salas de aula e o aumento da largura de banda. Sobre a questão da videovigilância nas escolas conversaremos um dia destes. O anúncio deste investimento foi feito numa sessão “à la Gates”, organizada para a apresentação do Magalhães, um portátil destinado a todos os alunos dos seis aos dez anos. Magalhães, palavras para quê? É um portátil português. O Primeiro-ministro, numa cuidada coreografia, passeava em mãos livres por um palco “high tech” e parecia completamente em transe numa conversão absolutamente mística ao milagroso poder das novas tecnologias para nos livrar dos embaraçantes números da nossa educação.
Cuidado Senhor Engenheiro, existe uma altura no desenvolvimento dos miúdos em que eles acreditam num poder mágico, capaz de modelar a realidade, convicção essa que, com a idade, tende a desaparecer, para o melhor e para o pior. É importante que não se convença do poder mágico das tecnologias. São importantes, sem dúvida, mas são parte da solução, não são a solução.

PS – Se o Magalhães tiver uma calculadora instalada, vamos ter que ouvir o Génio Crato.

A NECESSÁRIA NÃO DISCRIMINAÇÃO

Confirmando-se a descida, segundo notícia do Público, dos números internacionais e nacionais relativos ao número de indivíduos infectados com HIV/sida, temos um bom motivo de optimismo e satisfação, apesar de em Portugal a situação ser ainda muito grave. Naturalmente que muito continua por fazer no domínio da prevenção e tratamento. No entanto, considerando também o prolongamento, já atingido, da expectativa de vida dos indivíduos infectados, importa desenvolver um combate pela sua não discriminação. É sabido que, em diversas áreas de serviços, se verifica essa discriminação. São exemplos o acesso à banca e seguros, ao mercado de emprego, aos serviços de educação e mesmo aos serviços de saúde. Assim, parece positiva a apresentação no parlamento, por parte do BE, de uma iniciativa legislativa que combata essa discriminação e à qual o PS já mostrou sensibilidade. Em boa verdade, seria dispensável esta legislação se cumpríssemos as disposições constitucionais no âmbito dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos mas, provavelmente, será necessário ser mais directo e eficaz.
Como frequentemente afirmo, o nível de desenvolvimento de uma comunidade também se avalia pela forma como cuida das suas franjas mais vulneráveis ou fragilizadas.

DUAS FÉRIAS

No último dia de aulas, a Ana foi à biblioteca da escola entregar um livro. Quando estava para sair, o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, disse-lhe adeus e desejou-lhe boas férias. A Ana riu-se.
Vão ser boas, Velho, vou ter duas férias.
Duas férias, Ana? Como é isso?
Primeiro, vou de férias com a minha mãe, com o amigo dela, o João, e com o Manel que é filho do João. Depois, vou de férias com o meu pai, a amiga dele, a Sara, e com o Tito que é o filho da Sara.
Estás contente?
Claro. Eles são todos fixes e a gente farta-se de brincar. Brinco mais do que brincava quando vivia com o pai e a mãe. Eles estavam sempre um bocado chateados e a gente não brincava muito. Já viste Velho, tinha uma família chata e agora tenho duas famílias mesmo fixes.
Sorte a tua, Ana, boas férias.

terça-feira, 29 de julho de 2008

MASSAGENS NA PRAIA? PENSAM QUE O ALL GARVE É O QUÊ?

Sim, eu sei, não será um assunto de transcendente importância mas, desculpem, não posso deixar de o referir. Então não é que o Comandante Reis Ágoas, do Comando Marítimo do Sul, proibiu as massagens nas praias do All Garve? Diz o comandante que “Toda a gente sabe como começa uma massagem, mas ninguém sabe como vai acabar”. O Comandante Ágoas tem toda a razão. Onde é que isto iria parar? Pois é, como ele explicou, o pessoal parece saber como começar a massagem, o problema é depois. Sabe-se lá se ainda se chega a desavergonhices. Pensam que as praias são o quê? Lá por o ministro Pinho andar a promover o All Garve e mais os golfes, e mais os spas e resorts (sem serviço de massagem), não podem pensar que dão cabo dos sólidos costumes lusos, Já nos basta os estragos causados por essa enorme figura do All Garve, o mítico Zézé Camarinha. Agora que o homem parece estar em retirada, queriam massagens nas praias. Não pode ser. Deus o abençoe, Comandante Ágoas, por tão nobre decisão e coragem, não ligue às vozes críticas. Essas, são daqueles que estão à espera que a massagem acabe onde o Senhor Comandante não quer que acabem. Malandros, façam mas é castelinhos na areia e apanhem conquilhas na maré vaza.

TEMPO

(Foto de Filipe Arruda)

Tempo, com tempo.
Tempo de parar,
tempo de andar.
Tempo de recordar,
tempo de esquecer.
Tempo de esperar,
tempo de desesperar.
Tempo de ser,
tempo de desaparecer.
Tempo de viver,
tempo de morrer.
Tempo, sem tempo.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

UM GRANDE BEM-HAJA A VOSSA EXCELÊNCIA

Senhor Primeiro-ministro, Engenheiro José Sócrates,

Perdoar-me-á o atrevimento, mas imperativos de justiça obrigam-me a dirigir-lhe esta nota. Não o merecemos, como, aliás, não merecemos outros vultos de excelência que nos têm governado, como é o caso, fez bem recordá-lo, da Dra. Leonor Beleza. Em nome de um povo que não consegue entender, na hora, o alcance das suas políticas e a genialidade da sua acção, queira aceitar as minhas desculpas. Não me orgulho nada de o dizer, mas somos, como sabe, um povo com baixa qualificação académica. Esta fraca preparação não nos deixa entender o nível superior em que se move o seu espírito e justeza das suas decisões. Estamos ansiosamente à espera que os resultados da política educativa de que é, afinal, o último responsável, nos tirem desta apagada e vil tristeza intelectual. Talvez fruto dessa obra-prima de qualificação acelerada, o emblemático Novas Oportunidades, tenhamos, já com um nível de qualificação estatisticamente adequado e sem ironia, novas oportunidades para entender aquilo que agora nos parece difícil. O Senhor tem sido de uma paciência inesgotável, embora, às vezes, se note alguma exasperação, compreensível, com as constantes, injustas e ignorantes críticas. O Senhor até me faz lembrar, desculpe-me a comparação, o meu saudoso pai que me dizia tanta vez, “é para teu bem” e o que eu refilava. Não entendia como aquelas cargas de marmeleiro, que tanto me doíam, me iriam fazer bem. Pois é, fizeram, cá estou, cidadão responsável, honesto e pagador de impostos.
Por tudo isto, com um renovado pedido de desculpas, um grande bem-haja a Vossa Excelência.

UM RAPAZ DISTRAÍDO

Um dia, na biblioteca da escola, estava o João de volta de uns livros e do computador. O Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, parou a observá-lo sem que o João desse por isso. Quando o viu até se assustou.
Estavas tão concentrado que nem me viste.
Velho, o que é estar concentrado?
É estar a fazer alguma tarefa ou a pensar em alguma coisa com muita atenção.
Então eu estava com muita atenção?
Claro que estavas.
Velho, pode-se estar com atenção a duas coisas ao mesmo tempo?
É muito difícil, João, por isso é que quando estavas concentrado no teu trabalho, nem viste que eu estava aqui.
Pois é Velho. Nas aulas, às vezes, os professores estão a falar de coisas que eu não percebo bem para que serve aprendê-las, então ponho-me a pensar noutras coisas e eles dizem que estou distraído. Eu respondo que não estou distraído, estou a pensar e, portanto, estou concentrado, não é?
É verdade, mas não te esqueças de que, durante a vida, aprendemos coisas que só mais à frente percebemos melhor para que servem.

domingo, 27 de julho de 2008

DAR LIÇÕES, A PAIXÃO DA EDUCAÇÃO

Afinal não foi o Canas. Se calhar não está de serviço e então mandaram o Dr. Alberto Martins. A justificação das críticas do Eng. Cravinho também não foi com a distância a que se encontra, em Londres.
Desta vez, a resposta veio naquele tom irritante que o Primeiro-ministro também usa frequentemente no debate político, isto é, certamente, devido à paixão pela educação, ao sucesso das políticas educativas, ao choque tecnológico ou à simples consequência da genialidade, não temos nada que aprender, apenas, obviamente, para ensinar. É uma maçada, não percebem as nossas políticas e ainda criticam. Vão mas é estudar.

NÃO SABE, ESTÁ EMIGRADO

Estou a estranhar a ausência de resposta de Vitalino Canas à entrevista do Eng. Cravinho. Lembrar-se-ão que, há algum tempo atrás, outro ilustre membro do PS, o Eng. Ferro Rodrigues, “exilado” em Paris, na OCDE, teceu algumas leves críticas às políticas do Governo e logo “his master’s voice”, o Dr. Canas, veio à praça pública explicar que as críticas se deveriam ao facto de estar longe e, portanto, distante da genialidade da acção governativa.
Agora é o Eng. Cravinho, “exilado” em Londres na direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento que vem dizer no Público, RR e RTP2, que o PS andou mal na forma como tratou as suas propostas de combate à corrupção e, pior, este fenómeno está em expansão. Ninguém vai acreditar nisto. Nem é preciso o Dr. Canas vir negar porque, temos todos essa convicção, a corrupção é residual porque o combate desencadeado por todo o aparelho do Estado e pelos dispositivos de segurança, tem sido de uma eficácia e empenho absolutamente extraordinários. O facto de o Eng. Cravinho encontrar fragilidades na luta contra a corrupção deve-se, obviamente, a estar longe e, portanto, ignorante do que se passa. É também coincidência, certamente, dois ex-dirigentes do PS, dois engenheiros, dois emigrantes em postos de trabalho de altíssimo nível, dois críticos de aspectos da acção governativa. Que fale o Canas.
PS – Talvez o Dr. Canas esteja a preparar-se para responder às previsíveis pérolas de oratória vindas do Chão da Lagoa pela vozes inimputáveis de Alberto João e do seu “pastor-alemão”, Jaime Ramos. O Eng. Cravinho deve ser levado mais a sério.

sábado, 26 de julho de 2008

O DIREITO AOS AVÓS (TAKE 2)

A agenda das consciências determina hoje um pensamento dirigido ao grupo dos seniores, da terceira idade, dos velhos, dos mais experientes, ou, expressão para hoje, dos Avós. A situação mais habitual destas pessoas espelha uma das consequências que as muitas e significativas mudanças nas sociedades têm implicado. Com a desagregação geográfica das famílias e com a cultura, hábitos e rotinas que, de mansinho, se vão instalando, este grupo social aparece cada vez mais isolado (abandonado) ou, em alternativa, institucionalizado, por vezes, em más condições. Hoje, talvez alguns destes recebam um rápida visita e uma prendinha “espanta consciências” por parte da família.
Por outro lado, verificamos também que as crianças e jovens passam uma parte significativa do seu tempo abandonados mas, paradoxalmente, acompanhados do mais presente, potente e actual "baby-sitter", o Sr. Ecrã (de computador, consola ou TV).
É neste contexto, que, retomando um texto já aqui divulgado, reafirmo a proposta de que se legisle no sentido de estabelecer o DIREITO AOS AVÓS e, naturalmente, o DIREITO AOS NETOS. De facto, existindo tantos velhos sós e tantas crianças e jovens sós, um Decreto-lei poderia juntá-los conseguindo um fantástico dois em um. Os velhos passariam a ter netos com quem (con)viver e os miúdos a ter avós com quem (con)viver, trocando a vontade de ser gente com a vontade de continuar gente. Esta relação, que para a maioria das pessoas que a conheceram e conhecem é fantástica, providencia ainda, de acordo com os técnicos, um bom contributo para o bem-estar de novos e velhos. Em termos práticos, a coisa também não parece assim tão difícil, uma vez que existe sempre um Lar de Terceira Idade e um Jardim de Infância ou Escola, não muito longe um do outro, onde se podem encontrar, Iniciativas deste tipo podem constituir bons exemplos, estes sim, de uma educação a tempo inteiro em vez de "só" escola a tempo inteiro. Conheço, aliás, alguns exemplos avulsos e interessantes de experiências neste âmbito.
E porque não promover estes encontros, mesmo sem Decreto que os determine?

COMO É QUE SE FAZ PARA SONHAR?

Professor Velho, há muita gente que fala dos sonhos que tem. Eu nunca sonho. Às vezes quando vou dormir, penso, vou sonhar. Depois adormeço e, quando acordo, ponho-me a ver se sonhei e não me lembro de nada. Gostava de sonhar também. Como é que se faz para sonhar?
Manel, eu acho que sonhar não é difícil. E podemos sonhar sem estar a dormir. Quando estamos a dormir, estamos tão distraídos que nem reparamos nos sonhos. Queres sonhar um bocado?
Claro, Velho, mas acho que não sou capaz.
Ès Manel. Pensa num bocadinho do mundo que tu já conheceste e de que gostaste muito.
O monte que o meu avô Xico tinha no Alentejo
Então vamos ao monte do avô Xico. Que pessoas é que tu gostavas de encontrar lá?
O meu pai António, que já morreu, e a minha amiga Joana.
Já estou a vê-los lá no monte, tu, o teu pai António e a tua amiga Joana. E que estão a fazer?
O meu pai está a contar à gente umas histórias muito engraçadas que ele inventava. E a gente está a rir-se muito, porque ele está contar aquela história do mecânico trapalhão que avariava ainda mais os carros em vez de os arranjar.
Manel, reparaste que, sem sair daqui, fomos ao monte do teu avô Xico, encontrámos a Joana e o teu pai António que contou a história do mecânico trapalhão que nos divertiu. Sonho bonito não achas?
Tens razão, Velho. Agora que já percebi como é, não vou parar de sonhar. Depois conto-te.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O MEU PARECER

Se não se importam, o meu parecer.
1 – Parece-me que este processo é um bom fresco, hiper-realista, do futebol português;
2 – Parece-me que o Direito é uma ferramenta que cada um usa para afirmar a sua verdade;
3 – Parece-me que Freitas do Amaral mexeu com o vespeiro;
4 – Parece-me que anda muita gente a mais no futebol;
5 – Parece-me que tudo seria mais fácil, se os juristas elaborassem um conjunto de normas, processos e níveis que regulassem a corrupção. Dar-lhe-ia transparência.
6 – Parece-me que se poderia optar por atribuir, rotativamente, a Benfica, Porto e Sporting o título de campeão. A cada 4 anos, o título seria atribuído, por sorteio, a uma das outras equipas;
7 – Parece-me que o Dr. Madail está como o Martim Moniz, isto é, entalado;
8 – Parece-me que se justifica solicitar outro parecer a uma pool de eminentes professores. Sugiro o Prof. Neca para arquitectar o parecer, o Prof. Manuel Machado para o escrever, o Prof. Marcelo, conhecido entertainer e comunicador, para o divulgar e o Prof. Karamba para adivinhar o granel que isto ainda vai dar;
9 – Parece-me que o futebol deveria mudar de tutela. Deveria ser integrado no Ministério do Ambiente com uma rede dedicada de Estações de Tratamento;
10 – Parece-me, finalmente, que nada vai ficar como antes, ou seja, vai ficar tudo na mesma.

UM HOMEM CHAMADO NÃO SE SABE O QUÊ

Era uma vez um homem chamado Não Se Sabe O Quê. Tinha vindo de algures e vivia não se sabe onde. Teria uma família que não se conhecia e de quem não falava. Aliás, o homem, praticamente, não falava, apenas trabalhava, fazendo tudo o que lhe pedissem sem a menor reserva. Fora do trabalho, estava não se sabe onde, fazendo não se sabe o quê. Quando se conseguia olhar nos seus olhos, o que era raro, eles parecia sempre olhar para longe, não se sabe para onde. Nos intervalos do trabalho ficava num canto, com ar de quem estava a pensar, não se sabe em quê. Alguns colegas disseram que, às vezes, parecia que chorava, não se sabe porquê.
Um dia, levaram-no, não se sabe para onde. O seu verdadeiro nome era, Clandestino.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

FALTA DE RECEPTIVIDADE? FALTA DE SOLIDARIEDADE, ISSO SIM

Uma deslocação profissional ao Algarve, só agora me permitiu saber deste verdadeiro atentado à maior onda de solidariedade alguma vez prevista para Portugal. Com efeito, a ERSE, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, deixou cair, “por falta de receptividade”, a proposta de imputar aos consumidores de boas contas, os custos dos clientes incobráveis da EDP. Não está certo, Falta de receptividade?! Então um dos mais generosos povos do mundo não está receptivo a pagar as dívidas dos incumpridores. Que andam os educadores deste país a fazer? Com que valores estamos a ser formados? Eu, uma pessoa que gosto de me sentir solidário, estou, obviamente, receptivo a pagar as dívidas à EDP de quem não queira, ou não possa, pagar os seus consumos. Se acharem por bem, também estou receptivo para pagar os impostos de quem se balda, para pagar a gasolina de quem se pira das estações de serviço sem pagar o abastecimento, para ajudar os ex-administradores do BCP a pagar aqueles empréstimos a familiares, etc. Só não quero é que digam que não estou receptivo à solidariedade.

UM DIA PERFEITO

Estranhamente, porque não era hábito, levantou-se com a melhor das disposições para enfrentar mais um dia. A mulher, já a pé a despachar os filhos para a escola, sorriu para ele. Estranhou, não era hábito. A torrada não queimou, como era hábito, e saiu de casa estranhamente bem-disposto, mas com a vaga sensação de que se tinha esquecido de algo. O Luís, o do café, estranhamente, não gozou com o seu Benfica enquanto tomava a bica. Mantinha a sensação de que se tinha esquecido de alguma coisa. A manhã de trabalho no banco foi perfeita, só clientes simpáticos e com problemas simples. Estranhou, a si sempre lhe tocavam os chatos que só percebem o que se lhes explica à décima vez. Continuou com a sensação de que se tinha esquecido de algo. O almoço foi excelente no sítio do costume. Até, contra o que era hábito, o seu prato preferido ainda não tinha esgotado. Ainda deu para dar uma volta no centro comercial e cruzar-se com duas mulheres, lindíssimas, que lhe retribuíram o sorriso. Mas a sensação de que se tinha esquecido de algo continuava. O resto do dia de trabalho correu lindamente. O Chefe, o Dr. Lopes, em vez de o chatear ao fim do dia com algum processo para despachar com urgência, teve quase uma hora de conversa sobre banalidades e namoradas. Quando voltou para casa, sempre com a sensação de que se tinha esquecido de alguma coisa, os miúdos estavam entretidos a brincar, quietinhos, sem a algazarra do costume e sem o obrigarem a deitar-se no chão para os levar às cavalitas. A mulher, que o recebeu com um beijo daqueles de que já não se lembrava, tinha preparado um petisco de se lhe tirar o chapéu. A sensação de que se tinha esquecido de algo continuava. Já tarde, contra o que era hábito, recordou com a mulher as primeiras noites de paixão. Quando, depois do dia perfeito, se preparava para dormir, lembrou-se, finalmente, do que se tinha esquecido logo de manhã.
Tinha-se esquecido de acordar.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

NOVAS OPORTUNIDADES, "YES, WE CAN"

Eu bem tento, mas é impossível fugir a falar da crise. Tinha alguma esperança na chegada da “silly season”, mas até esta parece em crise, de tão discreta que se tem mostrado. Voltemos, portanto, à crise, agora abordada de um outro ângulo, os roubos nos super e hipermercados. Um estudo hoje revelado pela APED, (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), refere que os valores envolvidos nestes roubos têm vindo a aumentar significativamente, estando já ao nível dos valores verificados no último período recessivo da economia portuguesa, 2003.
É óbvio que, do ponto de vista das empresas, esta situação está longe de ser simpática. No entanto, esforçando-me por encarar a realidade de forma optimista, seguindo, aliás, a visão do Primeiro-ministro, talvez possamos encontrar alguns sinais positivos neste comportamento de consumidores e empregados destes estabelecimentos comerciais.
Em primeiro lugar, podemos admitir que, para fazer face às necessidades diárias recorrem a Novas Oportunidades de o fazerem, mostrando empreendorismo e iniciativa, contrariando a passiva atitude, mais habitual, de reclamar e esperar por mais subsídios, um pouco seguindo a "Obamática" perspectiva de “yes, we can”. Lindo.
Parece-me também de saudar esta democratização do roubo. As notícias nesta matéria referem-se, sobretudo, aos grandes “negócios”, pelo que recuperarmos a portuguesa tradição do “pilha-galinhas”, pequeno delinquente, para além de introduzir equidade no universo da delinquência, ainda preserva as nossas tradições sociais e culturais. É certo que, na mesma linha, são os que têm mais probabilidades de serem “apanhados” pela justiça portuguesa, forte com os fracos e fraca com os fortes, mas também, última nota de optimismo, tal facto, introduz uma pontinha de adrenalina que ajuda a animar os cinzentos dias que a crise, sempre a crise, nos proporciona.

PODE ALGUÉM SER QUEM NÃO É?

Professor Velho, há pessoas que quando estão a falar de si para outras pessoas, dizem muitas coisas sobre o que pensam, o que fazem, como tratam os outros, do que gostam, do que não gostam, de quem gostam, de quem não gostam e outras coisas. Depois, quando vemos essas pessoas a fazer, não são nada como disseram. Velho, pode alguém ser quem não é?
É uma boa pergunta, Francisco. É engraçado que há muito tempo havia uma canção que falava da mesma questão. Sabes, existem muitas pessoas que quando olham para si, não gostam muito do que vêem. Então, quando falam de si para os outros, descrevem-se como gostariam que os outros as vissem. É como se dissessem, “reparem bem, eu sou assim”. Quando se comportam sem estar a pensar no que os outros estão a pensar de si, parecem-se mais com o que são verdadeiramente. Por isso, ninguém pode ser quem não é, só no teatro e no cinema.
E as pessoas são todas assim, Velho?
Francisco, estás satisfeito contigo?
Oh Velho, às vezes faço umas asneiras e desatino, mas sinto-me bem.
Então não vais precisar de ser quem não és. Entendes?

terça-feira, 22 de julho de 2008

"TALVEZ OS GAJOS NÃO TOPEM"

Ontem referi aqui que os efeitos do arquivamento do processo envolvendo o trágico desaparecimento de Maddie McCann, estão bem para lá do drama familiar. Atingem de forma demolidora a confiança na justiça.
Hoje, numa área completamente diferente temos um relatório do Tribunal de Contas arrasador da gestão de quatro Universidades cujos efeitos estão, também, para além dos factos relatados. Sabemos que, sendo as organizações, qualquer que seja a sua natureza, uma obra humana, carregam, incontornavelmente, o risco do erro. Mas também sabemos que nas sociedades mais desenvolvidas, as Universidades são, devem ser, percebidas socialmente como nichos de excelência face à sua enorme responsabilidade na preparação e qualificação dos indivíduos, riqueza última e essencial ao desenvolvimento de qualquer país. Não é assim possível, sem algum desconforto, perceber que, por erros grosseiros e inadmissíveis de gestão, universidades, espaços onde se verifica a maior densidade de sinapses de boa qualidade por metro quadrado, são, também elas, o reflexo de um país incompetente, de lápis na orelha, à espera do subsídio salvador ou do truque de contabilidade que “talvez os gajos não topem”.

UM RAPAZ CONTENTE E TRISTE

Professor Velho, a gente pode estar contente e triste ao mesmo tempo?
Por que perguntas, Manel?
Estou um bocado baralhado. Dantes, quando me aconteciam coisas de que eu gostava ficava contente e, quando me aconteciam coisas de que eu não gostava, ficava triste. Mas hoje, aconteceu-me uma coisa fixe, fui ver as notas e foram boas, tive um 5, dois 4 e o resto três. Fiquei contente, mas olhei para as notas da Joana e fiquei triste porque ela teve notas más. Como eu gosto muito dela fiquei triste, e quando a encontrar nem vou mostrar que estou contente com as minhas notas.
Manel, quando a gente cresce começa a ser capaz de ver mais coisas ao mesmo tempo. E outra coisa muito importante, também começa a pensar no que as outras pessoas pensam, especialmente quando gostamos delas. Sabes que a Joana vai ficar triste, gostas dela e, por isso, ficas triste. Entendes?
Acho que sim, Velho.
Então, quando encontrares a tua amiga Joana não precisas de esconder que estás contente, porque ela, como também gosta de ti, vai ficar contente com as tuas notas e triste com as notas dela. Cá para mim, ainda vai ficar mais contente se lhe disseres que vais estudar com ela para ajudar as notas a ficar fixes, como tu dizes.
Boa ideia, Velho.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

ARQUIVE-SE A CONFIANÇA NA JUSTIÇA

Como anunciado de há muito, o “caso” Maddie foi arquivado. É óbvio que se torna impossível garantir que todos os processos criminais tenham resolução. Mas, por tudo o que rodeou este longo drama, este era o “único” caso que não poderia ser arquivado por falta de provas.
O seu arquivamento, para além dos contornos emocionais pesadíssimos do desconhecimento sobre o que aconteceu à pobre garota, representa o arquivamento de mais uma parcela da nossa confiança na equidade e funcionamento eficaz da justiça. Pouco a pouco não restará nenhuma. Tal como o destino de Maddie, é uma consequência sem preço.

OS MIÚDOS DE ONTEM

Uma vez, um grupo de professores falava dos seus alunos. De uma forma geral, entendiam que os alunos de agora eram piores que os alunos de ontem e de outros ontem. Um dos professores, uns dias depois, contava esta conversa ao Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros. O Professor Velho sorria à medida que ia ouvindo. Depois, naquele jeito baixinho, falou.
“É muito engraçado. Quando crescemos e ficamos mais velhos, começamos a achar que tudo o que era antes, era melhor. Não acontece só com os professores a falar dos miúdos. Toda a gente, de quando em vez pensa, no meu tempo é que era bom, agora é pior.
E porquê Velho?
Quando nós, todos nós, nos confrontamos com coisas, ideias, comportamentos, etc. que não conhecemos bem, não entendemos, ou não nos sentimos preparados, ficamos um bocadinho surpreendidos e inseguros. Então, começamos a recordar o que já conhecemos e que, por isso, não nos inquieta tanto. Assim, pensamos que, se fosse como era antes, saberíamos o que fazer, pensar, entender, o que nos devolve a segurança.
No fundo, todos nos sentimos mais confortáveis com o que já conhecemos. E todos os anos, os professores têm alunos novos. Entendes?”

domingo, 20 de julho de 2008

"BOA" GESTÃO HOSPITALAR E "REALPOLITIK"

Mas porquê? Fará parte do ADN? É uma questão de escola cultural? É moda? É o destino? Um relatório da Inspecção Geral de Saúde refere que, em 2003 e 2004, se verificou na gestão e administração de Hospitais do Sistema Nacional de Saúde a utilização indevida de 1 milhão e 200 000 €. A verba foi administrada em mordomias diversas para os gestores, sem cobertura legal. Ao que parece, parte dessa verba foi já devolvida pelos competentíssimos administradores, quem sabe com medo de não continuarem ou de não serem “deslocalizados” para outros Conselhos de Administração. E não acontece nada? São inimputáveis? Como entender isto, quando a Administração Fiscal acciona a penhora de vencimentos por dívidas fiscais de menor monta do cidadão comum, sobreendividado? Vergonha!
O Primeiro-ministro fez duas rápidas visitas a dois países irmãos, baluartes da democracia onde se realiza um “trabalho notável” em prole do desenvolvimento e do bem-estar dos respectivos povos, Angola e Líbia. É certo que a necessidade do petróleo e dos negócios exige esta “realpolitik”, mas alguma contenção na linguagem seria mostrar alguma dignidade e sentido de democracia que não se vendem por meia dúzia de barris de petróleo ou uns negócios, por mais importantes que sejam. Depois ficaram ofendidos com o Dr. Bernardino Soares por falar da democracia norte-coreana. Os amigos são para as ocasiões.

sábado, 19 de julho de 2008

DESTINO

(Foto de Adriane)

O destino,
de quem por destino tem,
andar sem destino,
à procura de um destino,
que destinado está.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Neste dia de intenso calor, uma referência ao nosso Portugal dos Pequeninos, em particular ao Portugal futebolístico. Parte da rapaziada do futebol, com o trovejante e incontornável Major à cabeça, foram condenados por prevaricação e abuso de poder e absolvidos da caluniosa acusação de corrupção. É certo que as penas são suspensas, tal como a justiça, que continua suspensa. É claro que o Major também já fez saber que vai recorrer, naturalmente, e concorrer de novo à presidência da Câmara de Gondomar. Sem comentários.
O miúdo de bons pés e pouca cabeça, o Cristiano Ronaldo, é considerado uma referência importante para os portugueses, em particular dos mais novos. Reparem como a provinciana imprensa se refere ao Manchester de Ronaldo, como se o inglês clubezeco de terceira em que joga o génio, fosse uma criação sua. Pois esse modelo inspirador da juventude, ao que a imprensa refere, gastou 12000 € numa noite de copos num bar em Los Angeles. Também sem comentários, apenas dizer-vos que estou a olhar para uma notícia, que refere que o número de casas leiloadas detidas pela banca, devido à execução das hipotecas por incumprimento das famílias, duplicou. Sim, eu sei, é um bocadinho demagógica a referência, mas que me incomoda, incomoda.

UM HOMEM CONTENTE

Era uma vez um homem chamado Contente. Estava sempre com o ar mais feliz que se possa imaginar. Nada de menos positivo parecia incomodá-lo. Não se preocupava com nada que pudesse perturbar o seu contentamento, nem sequer lia jornais ou via televisão para não estragar o estado de felicidade em que, permanentemente, vivia. A relação do Contente com as pessoas era a melhor possível, sem sombra de atrito. Na sua perspectiva, o Contente tinha a família perfeita, a casa perfeita o carro perfeito, as rotinas perfeitas, enfim, a vida perfeita. O Contente sentia-se a pessoa mais feliz do mundo, do seu mundo.
Um dia, inesperadamente, faleceu. Quando procederam aos exames necessários para determinar a causa, os médicos descobriram que, surpreendentemente, o Contente era apenas um invólucro. Por dentro, apenas o nada.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

PORREIRO, PÁ

Está a ser um tempo horribilis para os funcionários públicos. O governo, como se sabe, tem entre os princípios fundadores das suas políticas, o princípio da convergência. A primeira grande batalha foi a convergência dos indicadores da nossa economia com os dos restantes países da zona euro. Tem sido o sucesso que conhecemos. Outro grande desígnio de convergência tem sido o rendimento disponível das famílias que, como pode ser facilmente comprovado, é claramente convergente com outras realidades europeias. Temos também convergido na lentidão da justiça, nas listas de espera do SNS, nos resultados escolares dos nossos alunos, designadamente nos níveis de abandono, etc. Sintetizando, estamos fartos de convergir.
Bom, em mais um sinal desta política, os funcionários públicos vão ver a sua reforma obedecer a uma ideia de convergência com a situação dos trabalhadores do sector privado, isto é, passarão a trabalhar mais, até aos 65 em vez dos 60 anteriores, portanto a descontar durante mais tempo, mas, para compensar e convergir, também passam a receber menos, cerca de 18%, de acordo com o estudo do Banco de Portugal referido no Público. Porreiro, pá.

UM HOMEM DIFERENTE

Era uma vez um homem chamado Diferente. Desde pequeno, ainda na escola, o achavam diferente de todos. A família sempre o considerou diferente e Diferente ficou, para sempre. Os colegas entendiam que era diferente e, muitas vezes, tratavam o Diferente de forma diferente. Os professores também o achavam diferente, muito diferente. Os vizinhos desde que conheciam o Diferente também o consideravam diferente e, por isso, de maneira diferente se relacionavam com ele.
O Diferente foi-se acostumando à ideia de que era diferente. Assim, cresceu diferente, viveu diferente e morreu diferente.
Quando o Diferente morreu, todas as pessoas, com um ar ansioso, começaram a olhar à sua volta. Precisavam, urgentemente, de encontrar outro Diferente que as fizesse sentir, tranquilamente, iguais.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

OLÁ SOU O MANEL E TENHO SEIS ANOS

Considerando a referência do Público ao estudo do SPGL envolvendo as Actividades de Enriquecimento Curricular e pedindo desculpa da repetição, aqui fica um texto já publicado, mas que o meu amigo Manel pediu que voltasse a mostrar.
Olá, sou o Manel, tenho seis anos e ando no 1º ano numa escola nova. Não sei ainda escrever muito bem e pedi ajuda para dizer isto. Quando andava no Jardim de Infância que se chamava O Paraíso da Criança, a educadora Tita e a outra ai… a Beca diziam que esta escola ia ser boa e ia aprender muita coisa, até a ler e a fazer contas e problemas. Também disseram que podia brincar à mesma mas eu não acreditei porque o meu pai disse que umas pessoas que escrevem no jornal dizem que não se pode brincar na escola. Tem que se trabalhar a sério e se calhar ainda mais que os grandes porque os jornais também dizem que eles, os grandes, não têm ai…isso, produtividade. Mas vim para a escola e até estava animado. Havia uns meninos e umas meninas que eu já conhecia. Outras não, mas são fixes. A professora Maria também é fixe. Às vezes zanga-se e grita. É melhor porque a gente assim ouve-a. Umas vezes fala com as outras professoras e ficam zangadas com uma senhora que se chama Ministra. Dizem que essa senhora é que devia estar a ensinar a gente. Não sei bem porquê mas eu não quero outra professora. Gosto da minha. Ela também gosta de mim. Ela disse-me e eu acredito. O que eu não gosto muito é da escola ser tão comprida. Muito comprida. Só para saberem vou dizer como é a segunda-feira.
Levanto-me às sete e meia e a minha mãe primeiro larga o meu irmão no Jardim de Infância e depois deixa-me na escola quase às nove. O meu amigo João já está à minha espera porque ele chega às 8 aos Tempos Livres e o dia da gente é assim:
Das 9 às 9 e 45 temos Matemática. Fazemos umas fichas do livro e professora explica coisas. Às vezes não percebo e ela diz que já vem mas os outros também não percebem e temos que esperar. Não se pode falar mas a gente fala e é quando a professora grita.
Das 9 e 45 às 10 e 30 é a mesma coisa mas com mais barulho.
Das 10 e 30 às 11 temos um intervalo para brincarmos à bola e ao wrestling.
Das 11 às 12 temos Língua Portuguesa. É o que eu gosto mais e já quase sei ler mas também temos barulho. Eu não me importo com isso porque quero aprender a escrever histórias e a ler livros. O meu avô não sabe ler e fica triste quando diz que não sabe. E ele fica contente quando leio coisas que já sei. Eu também fico.
Depois de almoçar no refeitório da escola com os alunos todos e com mais barulho ainda, vamos ter Estudo do Meio das 13 e 15 às 14. A Professora disse que a gente ia estudar o que estava à nossa volta mas ainda não saímos da escola. Se calhar temos que estudar primeiro para depois ir ao Meio.
Das 14 às 15 e 15 temos Expressões. Também é giro. O que eu gosto mais é de pintar mas a Professora diz que eu nunca escolho bem as cores e os desenhos ficam feios. Mas eu gosto deles e a Rita que é minha amiga, também.
Às 15 e 30 e até às 16 e 15 temos Educação Física. Também gosto mas fico muito cansado de correr e jogar e fico transpirado.
Às 16 e 30 vamos para Inglês. A professora está sempre aborrecida, diz que não percebe miúdos pequenos. Diz que não estamos calados e quietos a fazer as fichas como uns alunos que ela tem noutra escola e que já andam no 12º ano. O inglês é giro mas só aprendi os números e as cores. Não sei falar inglês e ainda fico mais cansado.
Das 17 e 15 às 18 temos Música. O professor é engraçado bué, tem um piercing e o cabelo atado. Toca um violino e anda numa escola chamada Conservatório e só estuda música. Ele gosta. Mas acho que não gosta muito de estar com a gente. Diz que precisa de ganhar dinheiro e que lhe pagam pouco e que a gente não tem jeito para a música. Eu gostava de experimentar o violino mas a gente cá na escola só tem pífaros.

O meu pai vem buscar-me às 18 e 30 e vou para casa e aproveito para brincar um bocadinho com o meu irmão. Às vezes digo que estou cansado mas a minha mãe diz que é para eu aprender como é a vida dos grandes. Eu acho que eles têm uma vida grande porque são grandes e eu… EU SOU PEQUENO. AINDA NÃO PERCEBERAM?

O GOVERNADOR, O PROFESSOR E O SUBMARINO

Prometo que vou fazer um esforço para, tanto quanto possível, manter a crise um bocadinho afastada destes encontros. Por vezes, temos a secreta e estúpida esperança de que, se não falarmos das coisas, elas deixam de existir, isto é, a portuguesa ideia, “longe da vista, longe do coração”. Fugindo, portanto, à crise, da imprensa de hoje algumas notas a merecer atenção.
Em primeiro lugar. Temos finalmente submarino, já não somos um qualquer país que nem um submarino em condições tem. Podia lá ser uma pátria de marinheiros caber num velho Barracuda dos anos 50. Não, pela módica quantia de 1000 milhões de euros (não vale falar da crise) vamos ter dois submarinos, um já está na água, e voltaremos a ser donos dos mares. Que se cuidem terroristas, inimigos em geral, contrabandistas e traficantes e pescadores espanhóis. Agora é que vão ser elas. Segundo o DN até “o Mar das Caraíbas passa a estar igualmente ao alcance do poder naval lusitano”. É obra.
Segunda nota. Chegou o Professor para fazer o melhor por nós. Não, não é o Marcelo. Não, não é o Karamba. Não, não é o Manuel Machado. É o Professor Carlos Queirós, novo seleccionador nacional de futebol, que vem substituir o devoto da Senhora do Caravaggio, o Sr. Scolari agora devotamente atrás das libras do Sr. Abrammovich, o tal que fez fortuna através de honestos processos de corrupção. A apresentação do Professor feita por essa maior figura da lusa comunidade, o Dr. Madail, foi comovente.
Um dos maiores especialistas em política energética, o Dr. Vitor Constâncio, governador do Banco de Portugal, aconselhou o Governo a considerar a hipótese da energia nuclear. Considerando o vastíssimo curriculum do Sr. Dr. nesta matéria, o Governo já encomendou ao LNEC um estudo sobre a questão.
Finalmente. A PSP anda à procura de duas pistolas-metralhadoras Beretta que terão desaparecido de uma esquadra. Bom, o país é pequeno, estou certo de que vão encontrar as duas armas. Não tenho a mesma certeza é sobre a capacidade para encontrar os outros milhares de armas que, é sabido, andam por aí nas mãos de muita gente.

BRINCAR CONTRA A SOLIDÃO

(Foto de Mico)

“Foi para continuar a fazer o que fazíamos em criança – brincar contra a solidão – que vim para o teatro”
L. Miguel Cintra

Lamentavelmente, agora que a escola acabou, muitos putos brincam com a solidão, mascarada de ecrã ou de telemóvel.

terça-feira, 15 de julho de 2008

O DISCURSO DO BASTONÁRIO - PROBLEMA DE FORMA OU DE CONTEÚDO?

Estou com alguma curiosidade de ver a evolução da presença do Dr. Marinho Pinto como bastonário dos advogados. O homem, numa atitude entre o heróico, o ingénuo e quixotesco, o suicida, o aventureiro, o justiceiro, o missionário, ou numa mistura disto tudo, desencadeou uma cruzada contra juízes e magistrados e contra a elite dos advogados devidamente instalados na corporativa Ordem. Esta gente é a trave mestra do sistema de justiça português, tal como o conhecemos, ineficaz, lento, prepotente, injusto, etc. Naturalmente que mexendo no vespeiro, as vespas reagem, e aí estão os sobressaltos incomodados das virgens ofendidas representantes de juízes e magistrados, dos anteriores bastonários com a figura do incontornável Júdice à cabeça e dos sectores dos advogados que beneficiam do estado da arte na justiça. Como sou exterior aos actores do sistema de justiça, reparo como cidadão que ainda não vi negado formal e objectivamente o que é afirmado pelo bastonário. A minha experiência nesta matéria resume-se a um julgamento por uma infracção de trânsito (que entretanto deixou de o ser) e no qual fui completa e arrogantemente “destratado” por um jovem juiz. Vejo, sobretudo, referências ao estilo, não ao conteúdo. É verdade que para um país de brandos costumes, ouvir o Bastonário falar naqueles termos é, no mínimo embaraçante. Mas tenho para mim, que o Dr. Marinho Pinto, tonto não é, e, provavelmente, sabe que se não utilizar este estilo, o seu estilo, a sua voz não chegará onde chegam as vozes das instituições corporativas e das vacas sagradas que, desde que não agitem, podem sempre ouvir-se, mesmo que seja para dizer o nada, como é costume.

APRENDIZAGEM DA ESPERA

Tens que aprender a esperar miúdo. Aprender a entrar na fila de espera, na sala de espera, na lista de espera. Alguém te dirá muitas vezes, agora vais ter de esperar. Vais pensar ainda mais vezes, mas estou à espera de quê? E rir-se-ão de ti, quando também te perguntarem, estavas à espera de quê? Vais descobrir que, às vezes adianta ficar à espera e que, outras vezes, a espera não adianta. Vais conhecer a espera leve e curta e a espera pesada e longa, a espera de viver e a espera de sofrer. Vais perceber que a distância entre a espera do tudo e a espera do nada é nenhuma, quase nenhuma. Vais aprender a espera por alguém que vai aprender a espera por ti e, assim, saberás que quando te disserem que quem espera desespera, nem sempre é verdade.
E um dia, vais saber, finalmente, que andaste o tempo todo a aprender a esperar por ti.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

OS CIDADÃOS E OS PARTIDOS

Quando tanto se fala na qualidade da nossa democracia e do afastamento dos cidadãos da participação cívica e partidária, o Público de hoje refere uma iniciativa que me parece interessante e que pode oferecer alguma mudança na partidocracia em que vivemos. A concelhia do PS de Vila Nova de Famalicão convidou pessoas do concelho, sem filiação partidária, a integrar um Conselho de Acompanhamento Estratégico (não gosto do nome) onde são solicitados a dar opiniões e pareceres sobre as questões concelhias e no âmbito de matérias a que, por formação ou experiência, estão ligadas. Inclusivamente, este grupo de pessoas pode participar nas reuniões da Comissão Política. O líder da concelhia apesar de, obviamente, antecipar algumas reservas face ao funcionamento habitual dos partidos, vê utilidade na iniciativa.
Também eu. Não sendo um alinhado partidário, não me demito de poder ter um contributo de natureza política que se me torna difícil, consequências da partidocracia. Creio que se pudéssemos discutir e participar com ideias em estruturas partidárias, poderiam ser até de diferentes partidos, sem que para tal nos exigissem a militância encartada e alinhada, talvez a representação e escrutínio sobre a vida partidária se alterassem, contribuindo para qualidade e modernização da democracia.

ILITERACIA NA BOLSA

O DN revela um hoje um estudo da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, reportado a 2007, com dados curiosos. No universo dos investidores em bolsa, um terço tem a antiga 4ª classe ou menos, apenas 20% se informam diariamente sobre o mercado e, genericamente, assumem um conhecimento insuficiente sobre a actualidade bolsista. O estudo analisa o impacto deste quadro nos comportamentos dos investidores e, consequentemente, nos riscos dos investimentos por má preparação.
Os dados sublinham a coerência do (mau) estado da nação. Com muitos políticos mal preparados, muitos gestores especialistas em má gestão, por vezes premiada, elites que emigram e os poucos que resistem sofrem com a iliteracia política de quem os tutela politicamente, por que mistério ou milagre os investidores bolsistas seriam altamente preparados? Vamos ter que esperar que os alunos que agora subiram notavelmente o seu desempenho a matemática, cheguem a investidores bolsistas, se resistirem até lá.

(DES)CRENÇAS

Numa sala de espera um grupo de pessoas discutia, como em todas as sala de espera, os problemas que as afligiam. Falavam de todos os problemas, desde os mais individuais até aos que diziam respeito a mais pessoas e, mesmo, aos que envolviam o mundo inteiro. Sem que ninguém tenha dado por isso, tinha entrado na sala um Velho que, sempre calado e atento, assistia às conversas. Estranhando o tempo de silêncio alguém o interpelou, “E você Velho, que acha destes problemas todos?”. O Velho fez uma pausa grande e de forma muito clara e serena disse, “Se em mim acreditassem, tudo estaria melhor”. Algumas pessoas riram-se, outras, poucas, ficaram sérias e desconfiadas, outras, ainda, disseram, “O Velho está louco”. O Velho ficou de pé, tranquilo, calado a olhar para toda a gente e, devagarinho, instalou-se um silêncio pesado. Ao fim de algum tempo, um miúdo que estava na sala perguntou, “Como te chamas Velho?”.
“Muitos chamam-me Deus, outros muitos chamam-me outros nomes, muitos me invocam, outros muitos me esquecem e outros muitos me desconhecem”, e saiu como entrou, discretamente, deixando as pessoas numa discussão ainda maior, agora sobre o Velho. Ou seria sobre Deus?

domingo, 13 de julho de 2008

TRÊS SALGADOS E UMA LATA DE COCA-COLA

O fim-de-semana no meu Alentejo ocupado com a rega e o arranjo dos alhos à conversa com o Velho Zé Marrafa, apenas permitiu agora uma vista de olhos na imprensa. Para além da incontornável referência aos acontecimentos da Quinta da Fonte, consequência óbvia e previsível, de décadas de políticas urbanísticas e de alojamento erradas, merece referência, pelo impacto no futuro, o estudo Pro Children apoiado pela UE e divulgado no sábado. Dos nove países europeus envolvidos no estudo, do norte, centro e sul da Europa, as crianças portuguesas de 11 anos são as que evidenciam a mais elevada taxa de peso a mais e obesidade, 30.6% nos rapazes e 21.6% nas raparigas. A obesidade infantil e juvenil pode ser já considerada um sério problema de saúde pública. Não é por acaso que o aparecimento da Diabetes de tipo II em crianças e adolescentes tem disparado. Creio que contei aqui esta história que acho ilustrativa da atitude negligente e estranhamente ignorante de alguns pais. Há pouco tempo, ao tomar a bica da manhã, vi ao meu lado um gaiato que teria 10/11 anos, já bem pesadinho, acompanhado pelo pai, a bater-se com três salgados e uma lata de Cola. Nesta altura em que as crianças estão de férias e muitos pais ainda não, sobe o recurso a alimentos(!) e refrigerantes bem estimulado por publicidade verdadeiramente “terrorista” e maus hábitos de consumo alimentar.
Parece verdadeiramente imprescindível que, sem cair no excesso fundamentalista, a comunidade assuma que hábitos alimentares mais ajustados, são parte da vida que deve existir para além dos bons resultados a português e a matemática.

sábado, 12 de julho de 2008

ELA

Imaginava-se com ela todos os dias, todo o dia. Não se cansava de olhar para as inúmeras fotografias dela, coleccionava-as desde que a vira pela primeira vez. Ansiava estar perante o brilho que ela irradiava. Contava os minutos para a poder acariciar e, quando tal acontecesse, iria sentir-se a pessoa mais feliz do mundo. A toda a hora, antecipava como seria extraordinário vê-la, ouvi-la. Pensava que a trataria com um cuidado, assegurava para si próprio, que nunca usou na sua vida. Já conheceu algumas antes, mas nada de parecido com ela, a que ia chegar. Todos os dias ao acordar o primeiro pensamento era para ela e, quando adormecia, era também ela que lhe embalava o sonho.
Finalmente, quando a espera já era insuportável, ela apareceu. Estava à sua frente a PlayStation, último modelo, que os pais lhe tinham prometido se passasse de ano.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A CRISE A RENDER

O homem é um génio. Ontem no debate sobre o estado da nação, (pobre nação em tão mau estado), o Primeiro-ministro anunciou um pacote de medidas que, numa situação que creio única, não mereceram contestação na sua natureza, ainda que alguns partidos achassem que se podia, e devia, ter ido mais longe. Esta performance, conseguir o pleno, já de si notável, que aliás contribuiu para apagar a estreia, discreta, diga-se, do novo líder parlamentar do PSD, consegue ainda um efeito absolutamente extraordinário, dá lucro à administração central, ou seja e dito de outra maneira, o Governo apoia camadas sociais mais atingidas pela crise, taxa lucros especulativos e ainda ganha. Com efeito e de acordo com o Público, contabilizado o envolvimento financeiro do pacote anunciado, a Administração Central ainda arrecada 20 milhões de euros.
O povo costuma dizer que “a necessidade aguça o engenho” e, de facto, apesar de os detractores acusarem o engenheiro de desenhar umas casas manhosas, esta engenharia, que permite fazer a crise render euros e votos, é simplesmente genial.

A MEDIDA DO TEMPO

Professor Velho, toda a gente mede o tempo com o relógio?
Não Manel, ninguém mede o tempo com o relógio. O relógio só serve para organizar as pessoas, todas as pessoas, dentro do tempo. Medir o tempo é diferente, cada pessoa mede o tempo à sua maneira.
Não percebo, Velho.
Quando estás a ler um livro de que gostas muito, o tempo é grande ou pequeno?
É pequeno, a gente quer ler sempre mais.
Quando estás a ler um livro de que não gostas, mas tens que ler, o tempo é grande ou pequeno?
É grande, nunca mais chega ao fim.
Quando estás na aula de que gostas mais, o tempo é grande ou pequeno?
É pequeno, acaba num instante.
Quando estás na aula de que gostas menos, o tempo é grande ou pequeno?
É grande, nunca mais acaba.
Quando estás com os amigos de que gostas mais, o tempo é grande ou pequeno?
É pequeno, dura sempre pouco.
Quando estás com pessoas de que não gostas, o tempo é grande ou pequeno?
É grande, Velho, nunca mais me safo delas.
Como vês, Manel, o coração é que mede o tempo, o relógio só organiza as pessoas no tempo. Agora, vai almoçar que a manhã está no fim.
Já Velho? Passou mesmo depressa.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A GRANDE (DES)ILUSÃO


Não resisto a esta pérola do Portugal dos Pequeninos. O Presidente da Câmara de Alcobaça entendeu por bem comemorar a eleição do Mosteiro de Alcobaça como Maravilha de Portugal com um espectáculo de Luís de Matos, o homem da ilusão. Para tal efeito e pela módica quantia de 180 000 €, o ilusionista terá deixado criar a ideia de que o Mosteiro se evaporaria. O especialista em ilusão surpreendeu mesmo, em vez da ilusão, criou a desilusão no público sublinhada com vaias e assobios dirigidas a um número com 3 minutos já conhecido e visto, mas nunca por 180 000 €. Agora, o Presidente da Câmara e os seus cidadãos dizem-se desiludidos e lamentam a (des)ilusão.
Não percebo a reacção. Mais uma vez, sacar 180 000 € em três minutos foi a maior das ilusões criadas por Luís de Matos. E alguém pagou. Foram mesmo iludidos.

A FILANTRÓPICA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS

A conhecida e reconhecida instituição filantrópica e de utilidade pública chamada Caixa Geral de Depósitos, preocupada com o impacto que a actual crise, designadamente a subida das taxas de juro, tem nas famílias, sobretudo na sua capacidade de satisfação do endividamento, propôs uma série de medidas de apoio social aos seus apoiados que importa registar.
De entre o pacote, releva a possibilidade de estender aos 80 anos o prazo de liquidação. Que sinal lindo de confiança e optimismo no bem-estar físico dos portugueses, no Serviço Nacional de Saúde e na sustentabilidade da Segurança Social traduzida no aumento do valor das pensões de reforma. As várias medidas, são também mais acessíveis aos clientes “com maior envolvimento negocial” com a CGD, ou seja, os mais favorecidos, outra prova da preocupação assistencial da CGD. É também de registar, que nenhuma das medidas parece traduzir-se na renegociação do montante em dívida através, por exemplo, do abaixamento dos spreads, isto é, pode ajustar prazos e prestações mas meus amigos, a generosidade tem limites e no fim, a Organização Governamental de Assistência tem que garantir a intocável continuidade dos lucros brutais.

NINGUÉM CABE NUMA FOTOGRAFIA, SEMPRE

(Foto de Mico)

O professor velho lá da minha escola, disse-me uma vez que ninguém cabe numa fotografia, sempre.
Um dia, vou ser capaz de sair desta fotografia. Então, vão ver o mundo bonito que vai ser o meu.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

UM BISPO NÃO ALINHADO

Num tempo em que parece privilegiar-se o pensamento alinhado, creio ser merecedora de registo a entrevista do Bispo da Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, ao RCP em que refere a sua satisfação com a aprovação da recente Lei do Divórcio. Como é sabido, a posição oficial da Igreja vai no sentido da recusa do divórcio. Sabe-se também como as mudanças sociais exigem ajustamentos nos sistemas de valores que, por sua vez, sustentam, de novo, mudanças sociais. É, assim, de saudar a posição de um elemento importante da hierarquia da Igreja que, de forma mais sábia que o discurso oficial, entende que o papel que a instituição Igreja possa desempenhar, será tanto mais importante, quanto mais próxima se posicione face aos reais problemas das pessoas e dos tempos.
Diz isto, alguém que se percebe como ateu, mas atento ao óbvio impacto que as diferentes culturas religiosas têm no mundo actual.

O QUE É CRESCER?

Avô, o que é crescer?
É ficar grande.
O que é ficar grande?
É ficar melhor.
O que é ficar melhor?
É ficar mais velho.
O que é ficar mais velho?
É ter mais tempo.
O que é ter mais tempo?
É saber mais.
O que é saber mais?
É entender as coisas.
O que é entender as coisas?
É … perguntas difíceis que tu fazes, João.
Está bem avô, eu tenho relógio mas … que horas são?

terça-feira, 8 de julho de 2008

BEM-HAJA, DOM DUARTE


No meio da turbulência que nem a aproximação das férias parece acalmar, aparecem notícias que nos dão algum alento.
Ficámos a saber, através do DN, que Dom Duarte Pio de Bragança, o sempre eterno aspirante a rei da nossa república, vai desenvolver a ideia da “monarquia aberta” na senda das “presidências abertas” e dos “roteiros” de Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, os republicanos presidentes.
Esta monarquia aberta, realizada no Fundão, é centrada no tema “Crise alimentar nos centros urbanos”, cuja actualidade e pertinência é inegável.
Saber que a real figura de Dom Duarte de Bragança se interessa por esta problemática é algo que não pode deixar qualquer plebeu indiferente. O reconhecido impacto das frequentes, profundas, desenvoltas e excelentes intervenções públicas de Dom Duarte, permitem augurar o sucesso e importância da monárquica iniciativa.
Os agradecimentos deste seu humilde seguidor. (Não é visível, mas estou a realizar uma discreta vénia).

GÉNIO CRATO, AGORA O PORTUGUÊS

A publicação das pautas dos exames nacionais confirmou, naturalmente, a informação já conhecida, a subida extraordinária dos resultados em Matemática e a surpreendente descida em Português. Embora existam algumas opiniões que remetem para a maior facilidade dos exames deste ano a melhoria dos resultados na Matemática, creio que parece consensual e, sobretudo, justo, atribuir parte deste sucesso à influência do genial Professor Crato e da sua cruzada contra os eduqueses, que, como é sabido e demonstrado pela investigação desenvolvida pelo Génio Crato e pelo seu assessor de imprensa José Manuel Fernandes, lamentavelmente pouco conhecida no meio, são os grandes responsáveis pela catastrófica situação no ensino. Bem-haja Génio Crato.
Mas falta o Português. Na minha modesta opinião algumas medidas poderiam, certamente, contribuir para reverter os resultados. Por dever de cidadania aqui ficam algumas.
. Fazer eleger o Génio Crato Presidente da Associação dos Professores de Português. O senhor, com a maior das facilidades definiria um plano de combate ao insucesso.
. Desenvolver uma campanha na imprensa, gerida pelo Director do Público, José Manuel Fernandes, com o objectivo de melhorar a cultura científica dos professores de Português com as opiniões do Génio Crato.
. Constituir uma “task-force” liderada pelo Génio Crato, que estabelecesse novos programas de Português e definisse, com todo o rigor e saber inerentes ao Génio, as orientações didácticas a seguir, obrigatoriamente, pelos professores de Português. Aos que resistissem seriam disponibilizados vídeos com as aparições do Génio Crato, que teriam de visualizar todos os dias antes de dormir.
. Encarregar o Génio Crato de elaborar um calendário de exames de Português a realizar pelos alunos a partir dos 3 anos e ao longo de toda a carreira escolar. De acordo com o genial pensamento do Génio Crato, nunca menos de três por semana.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

VIOLÊNCIA ENTRE NAMORADOS, SERÁ SURPRESA?

O trabalho desenvolvido pela Universidade do Minho sobre violência nas relações de namoro entre os mais jovens, 15 – 25 anos, hoje conhecido publicamente através do DN, vem, lamentavelmente, ao encontro de algo que temos dificuldade em aceitar. Os sistemas de valores pessoais alteram-se a um ritmo bem mais lento que os nossos desejos e estão, também e obviamente, ligados ao quadro de valores sociais presentes em cada época. De facto, e reportando-nos apenas aos dados mais gerais, um em cada quatro jovens inquiridos, refere ter-se envolvido em alguma forma de violência nas suas relações de namoro. Não me parece surpreendente, mas sim preocupante. Para além do elevado número, merece registo a idade dos intervenientes e, sobretudo, um discurso de tolerância, aceitação e o entendimento de alguma “normalidade” nestes comportamentos revelado pelos sujeitos entrevistados no estudo.
Como todos os comportamentos fortemente ligados à camada mais funda do nosso sistema de valores, crença e convicções, os nossos padrões sobre o que devem ser as relações interpessoais, mesmo as de natureza mais íntima, são de mudança demorada. Esta circunstância, torna ainda mais necessária a existência de dispositivos ao nível da formação e educação de crianças e jovens; de uma abordagem séria persistente nos meios de comunicação social; de um enquadramento jurídico dos comportamentos e limites numa perspectiva preventiva e punitiva e, finalmente, de dispositivos eficazes de protecção e apoio a vítimas. Entretanto e enquanto não, "só faço isto, porque gosto de ti, acreditas não acreditas?".

CONTAS DA MINHA VIDA

(Foto de Mico)

O meu pai brincava comigo ao faz-de-conta.
Também me dizia, conta comigo,
enquanto contei com ele.
Com os meus amigos combinava,
vamos fazer isso, mas ninguém conta.
Ninguém contava.
A minha professora ralhava,
tens que aprender a fazer as contas.
Na escola, as minhas contas,
quase sempre davam erradas.
Cresci e disseram-me,
tens que fazer contas à vida.
A vida fez as contas por mim.
No fim, acertámos as contas.
O resto foi zero.

domingo, 6 de julho de 2008

ALBERTO JOÃO NA CAPITAL DO IMPÉRIO

Não acredito. Parece que existe a séria possibilidade do homem vir aí. De acordo com o DN e segundo as habituais fontes próximas e bem informadas, o Dr. Alberto João considera a hipótese de antecipar o fim do seu mandato à frente do Governo da Região Autónoma da Madeira e vir ocupar o lugar de deputado na Assembleia da República.
Tenham paciência, que mais nos irá acontecer? Ele é a subida das taxas de juro, ele é a subida do preço dos combustíveis, ele é a subida dos preços dos transportes, dos bens alimentares, etc. Já temos a habitual confusão por época no futebol português. Temos o menino guerreiro e o menino de ouro. Temos o Dr Vitalino Canas e o ministro Mário Lino. Temos o dedinho em riste, o pestanejar assustador e os dentinhos brancos do Dr. Portas. Temos o Dr. Bernardino Soares. Temos o Avelino Ferreira Torres e o Dr. Isaltino. Temos o Professor, o Marcelo. Temos o Dr. Madail embora já nos tivéssemos livrado do Sr. Scolari e do Murtosa. Creio que, para exemplo, já chega.

O Dr. Alberto João em Lisboa, na capital do império colonialista? Ou é a rendição ao poder colonial ou é mesmo para me arreliar.

sábado, 5 de julho de 2008

UMA CRÓNICA ATÍPICA

Este texto nasce numa situação completamente atípica, está a ser escrito num quarto de hospital, ainda que numa situação de acompanhante. Nestas circunstâncias é mais ou menos previsível que se nos coloquem interrogações em torno da nossa fragilidade e vulnerabilidade. Será também de esperar que tenhamos uma percepção mais nítida de estados de bem-estar e mal-estar, de saúde e de doença.
É certo que não consegui fugir a esta previsibilidade, mas o que pareceu mais estranho e, de certa forma, dissonante é que estou num quarto de hospital ao lado de alguém que não quis deixar só, sentado com o portátil à frente, ligado ao mundo através da net, a ouvir baixinho a notável “Elegia” de Paolo Conte e a dizer-vos isto.
Alguma vez esta circunstância poderá fazer parte do SNS e, portanto, tornar-se acessível à generalidade dos cidadãos?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A REALIDADE ESTÁ ENGANADA, O SR. PRESIDENTE É QUE ESTÁ CERTO

Mais uma vez, um bom exemplo da profunda convicção de parte da elite política portuguesa no princípio, “eu estou certo, a realidade é que está enganada”. Desta vez o iluminado é o Presidente da Águas de Portugal, Pedro Serra. O relatório do Tribunal de Contas é, no mínimo, arrasador para a sua gestão e para a situação da empresa, concluindo pela sua “debilidade economia e financeira”. Entre muitos aspectos, é referido o facto de, num contexto de dificuldades internas e de prejuízo, terem sido gastos 4,8 milhões de euros em viaturas de serviço, combustível e prémios, perdão, incentivos a elementos da empresa.
Pois o Senhor Presidente acha que o problema está no Tribunal de Contas, que não entende “a natureza do negócio”. Na mesma linha, o Senhor Presidente também considera a atribuição de prémios como perfeitamente normal, mesmo em situações negativas, uma vez que, se quer ter os melhores tem que os incentivar. Melhores? Em quê? A gerir mal? Premiar o fracasso e a incompetência?
Eu creio que estou como o Tribunal de Contas, não entendo a natureza do negócio. Ou se calhar, por pudor, não quero entender.

NÃO BRINQUEM COM COISAS SÉRIAS

Estou muito preocupado comigo. Estive a ler umas referências à iniciativa da Assembleia da República no sentido estabelecer um quadro de definição da pobreza como uma violação dos direitos humanos e, portanto, passível de sanções quando não cumprido. Será ainda estabelecido, com o apoio de todos os partidos representados, “um limiar de pobreza em função do nível de rendimento nacional” que servirá de critério para a “definição e avaliação de medidas públicas para a erradicação de pobreza”.
O que me preocupa seriamente, é que não consigo de deixar de considerar que esta iniciativa, está envolvida numa boa dose de hipocrisia, demagogia e populismo. Eu não era assim, era mais crente e não tão mal intencionado. De qualquer forma, não brinquem com coisas sérias.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

ESTABILIDADE?

O Banco Central Europeu aumentou as taxas de juro. Era esperado, dizem os especialistas, e o objectivo é, de acordo com o Presidente Trichet, garantir a estabilidade dos preços e, portanto, conter a subida da inflação. A questão é como explicar a isto a muitos milhares de portugueses que já sentem os preços completamente desestabilizados, tal como a sua vida. Junto do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da DECO, os pedidos de apoio subiram 22% no primeiro semestre deste ano, em comparação com igual período do ano passado. É ainda de sublinhar, como tem sido referido, que as dificuldades começaram a chegar a camadas da classe média, normalmente, em condições de resistir melhor a algumas dificuldades. Bem pode o Primeiro-ministro referir-se a avanços na diminuição do risco de pobreza e na disparidade obscena entre os rendimentos dos mais ricos e os dos mais pobres, mas a verdade é que a situação de dificuldade agravou-se significativamente e a esperança e o optimismo baixaram, o que também é essencial na percepção de bem-estar das pessoas.

O CAMINHO ESTÁ NO FIM

(Foto de Rodrigo Bela Vista)

O caminho está no fim.
Foi longo, foi curto.
Foi duro, foi suave.
Foi pesado, foi leve.
Foi com ela, foi só.
Foi depressa, foi devagar.
Foi gritado, foi calado.
Foi chorado, foi rido.
Foi ganho, foi perdido.
Foi tudo, foi nada.
O fim está a caminho.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A PERGUNTA PARA O REFERENDO NA MADEIRA

Considerando a anunciada intenção do Dr. Alberto João promover, em 2009, um Referendo na Região Autónoma da Madeira sobre os ajustamentos constitucionais necessários ao seu modelo de autonomia, proponho um texto para a pergunta a inserir no boletim de voto.

“Concorda que a Constituição da República Portuguesa seja alterada no sentido de determinar que:
1 – O Governo da Região Autónoma da Madeira seja presidido pelo querido líder, Dr. Alberto João, ou por quem ele indicar;
2 – O processo eleitoral decorre na Assembleia Regional em que, obrigatoriamente, o PSD terá a maioria, sendo os outros partidos representados por um elemento cada;
3 - A totalidade das receitas produzidas na Região Autónoma da Madeira seja afecta ao Orçamento Regional e que todas as áreas que neste orçamento envolvam despesa, sejam da competência do Orçamento Geral do Estado;
4 – A Assembleia Regional tenha competência para alterar o que entender nas Leis da República.”

Sim - X Não - x

SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO

Boa noite. Eu sou a Fada Madrinha e este é o TVJornal. Antes dos desenvolvimentos a síntese das principais notícias do dia.
Os indicadores económicos do Governo e das principais Instituições Internacionais coincidem pela primeira vez. O crescimento económico do país é superior à média da zona euro, o que significa um caminho seguro de convergência e recuperação do poder de compra dos cidadãos.
Segundo o INE, a taxa de desemprego voltou a baixar, o que acontece pelo terceiro semestre consecutivo. O abaixamento significativo dos números do desemprego possibilitará, anunciou o Ministro do Trabalho, o aumento dos apoios sociais aos desempregados de longa duração.
A ministra da Saúde informou que, finalmente, as listas de espera para cirurgia são residuais. O prazo nas intervenções mais solicitadas não ultrapassa as duas semanas.
A Ministra da Educação anunciou o fim do Programa Novas Oportunidades pois atingimos, praticamente, os 100% de frequência de ensino secundário. Na sua intervenção na Assembleia da República, a Ministra referiu que as taxas de sucesso escolar estão, de forma consolidada, ao nível dos países do norte da Europa.
O Ministro das Finanças enviou uma carta aos contribuintes individuais e às empresas, felicitando-os pelo facto de os níveis de evasão e fraude fiscais terem diminuído cerca de 85%.
O Ministro da Justiça informou que Portugal recebeu do Eurostat a informação de que foi o país que, nos últimos anos, mais encurtou os prazos de duração dos processos decididos em tribunal.
O Primeiro-ministro anunciou que … OOPS, adormeci a olhar para a televisão, que sonho estranho!

terça-feira, 1 de julho de 2008

A FRUTA, O MILAGRE, O MENINO DE OURO E A ACÇÃO PEDAGÓGICA

Notas de leitura.
Num exemplo de comportamento saudável, uns árbitros terão pedido que lhes fosse fornecida fruta para comerem durante a noite, ao que alguns dirigentes terão acedido. Vá lá saber-se porquê, algumas consciências mal intencionadas viram aqui fumos de corrupção. A douta justiça portuguesa entendeu, por agora, que não há razão para levar a julgamento os ofertantes. O incentivo a comportamentos saudáveis não deve, obviamente, ser punido.
O milagre aconteceu e talvez possa ser atribuído aos pastorinhos de Fátima que bem precisados estão. A funcionária da Junta de Freguesia de Vitorino de Piães, Ponte de Lima, que comoveu o país por ver negada a reforma antecipada devido a uma doença degenerativa que a deixou praticamente imobilizada, parece, agora, uma pessoa nova, praticamente restabelecida. História linda, esta.
Depois do vídeo do Menino Guerreiro, sobre o mítico Santana Lopes, temos agora “O menino de ouro do PS”, livro de Eduarda Maio sobre o Engenheiro, ontem apresentado com a colaboração de Dias Loureiro, numa espécie de Bloco Central antecipado. Estes meninos não se enxergam e envolvem-se em tamanha e ridícula saloiice.
O pessoal das forças policiais, envolvido num processo de reivindicação relativo a aspectos profissionais admite o recurso, não à greve às multas, isso não, mas a acções pedagógicas junto dos cidadãos. Será que esta acção educativa vai ser objecto de reconhecimento no Programa Novas Oportunidades? Há que aproveitar todas as iniciativas que contribuam para a qualificação dos portugueses.
PS – Não é que seja importante, mas o DN sublinha que, num ano, os encargos com a prestação da casa subiram cerca de 25% e prevê-se nova subida das taxas de juro.

HISTÓRIA DO CHUMBADO

Hoje, o Professor Velho, aquele que está na biblioteca e fala com os livros, ia a passar no recreio da escola e reparou no ar triste de um miúdo, sozinho, sentado num bando de cimento, o único que estava à sombra.
- Estás triste?
- Estou.
- Como te chamas?
- Chumbado.
- Estás triste porquê?
- Não passei.
- Disseram-te os professores?
- Não, vi na pauta.
- Estavas à espera?
- Eu acho que tinha feito as coisas mais bem-feitas e até comecei a ter positivas. No primeiro período é que foi pior e acho que foi por causa disso que não passei.
- Porquê?
- Então Velho, houve setores que me disseram logo que não ia passar e acho que eles já não ligaram muito ao que eu fiz no terceiro período. Mas para o ano já sei como vou fazer. Vou ver se no primeiro período tento desenrascar-me melhor para os setores não ficarem à espera que eu chumbe.
- Fazes bem, Chumbado.
E o Professor Velho foi-se embora a pensar porque é que não se percebe que há miúdos que chumbam e miúdos que são chumbados.