domingo, 8 de janeiro de 2017

GOSTEI DE LER, "A CULPA DO DÁ-LHE MAIS, DÁ-LHE MAIS É DOS PAIS?"

Gostei de ler o texto da Bárbara Wong no Público ""A culpa do "dá-lhe mais, dá-lhe mais" é dos pais?"
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Vai ao encontro do que muitas vezes afirmo quando assistimos a casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam. É um problema de toda a comunidade, não "apenas" da escola ou da família.
Esta perplexidade exige a necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser, antes de algo ainda mais grave, uma investida contra alguém numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que a punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da insegurança.
Importa ainda estratégias mais proactivas e eficientes de minimizar a guetização e "quase total" desocupação de, em Portugal, centenas de milhares de elementos da geração "nem, nem" nem estuda, nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa por onde, por quem e porquê?
Finalmente, a importância de uma precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.

2 comentários:

Isabel Rodrigues disse...

O acompanhamento das nossas crianças e jovens carece de uma ação concertada de vários intervenientes desde professores a médicos, passando por educadores sociais e psicólogos que visam suprir a carência de um referência parental securizante que muitas delas não têm. É fundamental que a intervenção destes profissionais seja feita de forma harmoniosa, entendendo-se como complementar e não como divergente. Contudo, permita-me o desabafo, a bondade, tolerância e compreensão dos profissionais que trabalham com estas crianças/jovens (destaco os professores) e daqueles que as rodeiam (todos e cada cidadão), atinge o limite quando o bem estar físico e emocional de outrem é posto em causa. Urge a prevenção, certamente, mas quando esta não se concretiza, que alternativa além da punição destes jovens adolescentes e daqueles que são responsáveis por eles?

Zé Morgado disse...

Não está em causa a questão da punição, não podemos alimentar a sensação de impunidade. O que também sabemos é que só a punição não basta.