segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

DOS AUXILIARES DE EDUCAÇÃO

Continuam a ser referenciadas as dificuldades das escolas no que respeita aos assistentes operacionais ou usando a designação que como prefiro manter, auxiliares de educação, considerando a função que de facto estes profissionais desempenham e que é de enorme relevo.
O ME adiantou a contratação de 300 técnicos através de um processo de alguma morosidade, em situações de precariedade e com um estatuto salarial pouco aceitáveis.
Já aqui tenho escrito sobre as condições em que muitos destes assistentes operacionais chegam às escolas mas estas notas são para enfatizar os riscos da insuficiência do seu número.
Na verdade, auxiliares de educação, insisto na designação, desempenham e devem desempenhar um importante papel educativo para além das funções de outra natureza que também assumem e que exige a adequação do seu efectivo, formação e reconhecimento. No caso mais particular de alunos com necessidades educativas especiais, em algumas situações os assistentes operacionais serão mesmo uma figura central no seu bem-estar educativo, ou seja, são mesmo auxiliares de acção educativa.
A excessiva concentração de alunos em centros educativos ou escolas de maiores dimensões não tem sido acompanhada pelo ajustamento adequado do número de auxiliares de educação. Aliás, é justamente, também por isto, poupança nos recursos humanos, que a reorganização da rede, ainda que necessária, tem sido feita com sobressaltos e com a criação de problemas.
Os auxiliares educativos cumprem por várias razões um papel fundamental nas comunidades educativas que nem sempre é valorizado.
Com frequência são elementos da comunidade próxima das escolas o que lhes permite o desempenho informal de mediação entre famílias e escola, têm uma informação útil nos processos educativos e uma proximidade com os alunos que pode ser capitalizada importando que a sua acção seja orientada, recebam formação e orientação e que se sintam úteis, valorizados e respeitados.
Os estudos mostram também que é nos recreios e noutros espaços fora da sala de aula que se regista um número muito significativo de episódios de bullying e de outros comportamentos socialmente desadequados. Neste contexto, a existência de recursos suficientes para que a supervisão e vigilância destes espaços seja presente e eficaz. Recordo que com muita frequência temos a coexistir nos mesmos espaços educativos alunos com idades bem diferentes o que pode constituir um factor de risco que a proximidade de auxiliares de educação minimizará.
Considerando tudo isto parece muito pertinente e um contributo para a qualidade dos processos educativos a presença em número suficiente de auxiliares de educação que se mantenham nas escolas com estabilidade e que sejam orientados e valorizados na sua importante acção educativa.

2 comentários:

IQ disse...

Em todo o país os auxiliares de educação estão a ser recrutados para meios-horários, 3h30 por dia, em contratos que duram estritamente até ao último dia de aulas, e a receber exactamente 3,49 euros por hora.
Neste domínio, o Estado não é pessoa de bem.

Zé Morgado disse...

Já tinha escrito sobre isso num texto no início de Janeiro, "O ME adiantou a contratação de 300 técnicos e agora decide num processo burocratizado e lento contratar tarefeiros pagos a 3.49€ por hora e com um prazo de validade até 23 de Junho. Este pessoal poderá atingir um rendimento de 240 € mensais a que acresce o subsídio de refeição.
É evidente que para além da promoção da precariedade que o Governo afirma combater, este vencimento não é um salário, é um subsídio de sobrevivência, uma indignidade."