O calendário das consciências assinala hoje o Dia Internacional de Idoso, universo que agora me toca de perto,
E a verdade é que muitos idosos,
para além da idade, carregam penas que não merecem, ninguém merece.
Entre Janeiro e Agosto, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima apoiou 1577 idosos na situação de vítimas de
violência e crime, algumas dos dois tipos de crime. No total foram registados
2861 crimes, a grande maioria por violência em casa e 46% já eram acompanhadas.
Um outro dado, a PSP realizou a
13.ª operação A Solidariedade Não Tem Idade – A PSP com os idosos, entre 28 de
Julho e 26 de Setembro na qual sinalizou 559 idosos e encontrou quase 400 em
situação de risco. As situações de risco envolviam 140 por falta de autonomia,
67 por serem vítimas da prática reiterada de crimes, 66 por quadro clínico
grave e 44 por ausência de rede de contactos.
Desde o início do ano a PSP realizou
6654 contactos individuais com idosos, 3590 dos quais em residências, sinalizando
757 idosos por isolamento geográfico ou social, 240, por falta de autonomia ou
autonomia reduzida, 422 e por serem vítimas da prática reiterada de crimes,
111.
É um cenário inquietante no meio
de mundo em estado inquietante.
Quer no seio das famílias, quer
em instituições para onde alguns velhos são enviados compulsivamente como tem
sido denunciado pela APAV, algumas encerradas por determinação legal, tal é a
gravidade das situações, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como
os velhos estão a ser tratados.
Começam por ser desconsiderados
pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os
velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde
que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico
de família.
Em muitas circunstâncias, as
famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades ou
alterações nos estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo,
sendo parte significativa do problema e não da solução. As situações muito complicadas
em que milhares de famílias estão envolvidas com o retornar de várias gerações
à mesma casa e a tentação de aproveitar os baixos rendimentos dos velhos
potenciam o risco de maus tratos.
Finalmente, as instituições,
muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente
fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são
inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos
velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma
narrativa, entende o velho que escreve estas letras.
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