Considerando os resultados na 1ª fase dos exames do secundário e relativamente a 2023, as médias subiram em Matemática A e B e História A e desceram a Português e Biologia e Geologia sendo que esta ficou com 9,9 valores.
Que leitura podemos fazer dos resultados?
Como indicador fundamental de
avaliação externa a análise está comprometida à partida porque pela natureza
das provas, com variação do seu grau de dificuldade, torna-se difícil a comparação com
anos anteriores. As opiniões de professores e alunos sobre o grau de dificuldade
mostra isso mesmo.
Sendo a avaliação externa uma
ferramenta crítica na regulação de qualidade dos sistemas educativos, importa
que os dispositivos utilizados possibilitem a construção de “retratos” robustos
e comparáveis dos trajectos escolares. Considerando este objectivo, importaria
que a construção dos exames contribuísse para que fosse possível prevenir
potenciais enviesamentos.
Por outro lado, também podemos
considerar a existência de uma “gestão política” dos resultados. Recordo uma
afirmação de 2015 do então presidente do Conselho Científico do IAVE em
Coimbra, referindo a possibilidade de alterar médias com pequenas mudanças em
pouquíssimas questões.
Assim, os exames cumprem a função
de certificação de conclusão do secundário e, sobretudo, sustentar o acesso ao
superior. Neste cenário, parece-me de repensar o modelo de acesso ao superior.
Desde logo creio que o modelo
actual promove uma desvalorização do próprio ensino secundário que deveria ser considerado
e percebido como a finalização de um ciclo de estudos e não como a antecâmara
do superior e a sala de explicações para preparação para os exames, aliás
ouve-se com frequência o desconforto de docentes de ensino secundário como este
quadro. Na verdade, sentem o seu trabalho com os alunos hipotecado ao peso dos
exames e não à formação a adquirir no ensino secundário nas diferentes
disciplinas.
Por outro lado, a situação actual
favorece, como é sabido e reconhecido, a iniquidade assente na "simpatia
generosa" de algumas escolas, maioritariamente privadas, que inflacionam a
avaliação interna dos alunos ou o florescimento de um nicho de mercado, as
explicações ou centros de estudo, dirigido à preparação para os exames com
custos não acessíveis a boa parte das famílias.
Assim, parece-me ser adequado
entender que a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a
candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se,
conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o
trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente,
está sediado no ensino secundário.
O acesso ao ensino superior será
um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e
estar sob a sua tutela com também sugere a recomendação do CNE divulgada em
2020. Seriam exigidos, naturalmente, dispositivos de regulação deste processo.
Parecer-me-ia mais ajustado que
as classificações, internas e externas no ensino secundário deveriam constituir
apenas um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos
de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás,
acontece em muitos países. É óbvio que este processo exigiria regulação
eficiente e o envolvimento do ensino superior público e privado.
Para minimizar equívocos reafirmo
que a questão não está na existência ou importância dos exames finais do
secundário que não me parece colocar grandes dúvidas.
Enquanto não se verificar a separação da conclusão do secundário da entrada no superior não valorizamos o ensino secundário no que lhe é próprio e ainda corremos o risco de lidar com situações de “enviesamento” decorrentes da estrutura de exame ou do grau de dificuldade escolhido, bem como de negócios que sendo úteis a alguém, não o serão, obviamente, para a maioria das famílias.
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