Segundo dados divulgados pela Pordata, Portugal e a Itália, no âmbito da UE, têm a maior percentagem de população idosa, por cada jovem temos quase dois idosos. Acresce que cerca de um milhão de pessoas vivem sozinhas sendo que mais de 500 000 são idosos.
Num tempo em que toda a gente parece integrar uma ou várias
redes sociais parece estranha a referência à solidão que, como sabemos, se pode
tornar numa condição de alto risco. Muitos trabalhos identificam consequências
sérias da solidão, quer na saúde física, quer na saúde mental.
De facto, a solidão, o sozinhismo, é uma condição que afecta
imensa gente de várias idades, mesmo nos mais novos, mas que atinge com
particular incidência os mais velhos e tem vindo a acentuar-se na sequência da
alteração dos estilos de vida e dos valores que tecem a vida das comunidades
que vão perdendo as relações de vizinhança.
No entanto a questão agrava-se com os muitos que, para além
de viverem sós, vivem isolados. São sobretudo estes que o sozinhismo ataca.
De facto, algumas pessoas, por condições económicas,
dignidade e preservação da autonomia vivem sós, mas não estão isolados. Outros
acumulam, vivem sós e isolados, por impotência, falta de recursos ou de
família.
Apesar do que consta nas certidões de óbito, especialmente
nos tempos do frio, estou convencido que a verdadeira causa da morte de muitos
velhos é o sozinhismo, a doença que ataca os que vivem sós, isolados, que
perderam o amparo. Ataca especialmente os velhos, mas não só os velhos.
Trata-se de uma doença moderna, cujas causas são conhecidas,
cujo terapia também está encontrada, mas que parece difícil combater. Estão em
extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária, fontes
privilegiadas de protecção dos mais velhos.
Quem não vive só, isolado, mais facilmente resiste às
mazelas de diferente natureza que a idade traz quase sempre. As pessoas são,
espera-se, fonte de saúde e calor. E o frio que está a chegar aumenta a
necessidade desse calor.
Reafirmo que, embora tenha referido mais em particular a
situação dos velhos, o sozinhismo também ataca crianças e jovens com
consequências por vezes devastadoras.
Na verdade, o sozinhismo poderá ser verdadeiramente a causa
ou o gatilho de problemas para muita gente.
No entanto e como sempre, para além das necessárias
políticas sociais emergentes do estado e das instituições privadas de
solidariedade impõe-se a percepção pelas comunidades, designadamente pelas
famílias, do drama da solidão e do isolamento.
É sempre questão de redes sociais, mas não das virtuais.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a
velho e sofre a velhice.
Este país não estando a ser para jovens vai ter de ser para
velhos.
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