No Expresso encontra-se uma peça sobre a duração do ano lectivo. Os alunos portugueses entre o 1.º e o 6.º ano têm um número médio de horas lectivas mais alto que a média da UE, 874 horas obrigatórias face a 738 na média da EU, conforme o Relatório Education at a Glance, 2023, da OCDE.
Na peça encontram-se algumas
opiniões favoráveis a mudanças nos tempos da escola que julgo de considerar com
a prudência e consenso que são imprescindíveis.
Neste contexto, umas notas sobre
os tempos da escola em linha com o que já tenho escrito. Em primeiro lugar uma
referência à semestralização. Na verdade, não tenho uma posição fechada sobre a
organização do ano escolar em semestres ou em trimestres. Tenho acompanhado as
experiências já desenvolvidas organização em dois semestres e as avaliações que
são conhecidas são genericamente positivas, o que não me surpreende pois, se
assim não fosse, teríamos um sério problema com esta inovação.
No entanto e certamente por
défice de informação, não conheço e gostava de conhecer, estudos com alguma
robustez metodológica que identifiquem com clareza uma relação entre o
funcionamento em semestres e a mudança em dimensões identificadas do processo de
ensino e aprendizagem.
Por outro lado, as questões que
muitas vezes se colocam relativamente à organização por trimestres decorrem do
calendário ser “indexado” ao calendário de festas o que cria desajustados
desequilíbrios na duração dos três períodos com o potencial impacto nos
processos educativos.
Assim sendo, é uma questão que
merece reflexão alargada a diferentes actores, estudando experiências de outros
sistemas e com o recurso à avaliação do que já foi realizado.
Nesta reflexão deveria estar
incluída a discussão dos benefícios (ou de eventuais efeitos negativos) da
criação de “pausas” durante os períodos, modelo existente em vários sistemas
educativos.
Creio que seria desejável que
pudéssemos reflectir de forma global para os tempos da escola considerando
outros aspectos. Nesta reflexão poderia estar incluída a discussão dos
benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do primeiro
período modelo existente em vários países.
Para esta reflexão pode ser útil
recordar um estudo da rede “EurydiceTime in Europe - Primary and General
Secondary Education 2019/20”.
Tal como tem sido mostrado em
estudos anteriores os alunos portugueses têm menos dias de aula no contexto
europeu, mas, curiosamente, as horas de aula são mais elevadas que a média,
considerando horário curricular e AEC.
Não será fácil o estabelecimento
de um consenso sobre a “melhor” organização dos tempos da escola, as
comparações internacionais devem ser cautelosas pois as variáveis a considerar
são múltiplas, a organização curricular, a realização dos exames, clima ou o
parque escolar são algumas das que importa não esquecer e analisar.
No entanto, para além da questão
de semestres ou trimestres, do meu ponto de vista, seria interessante reflectir
de forma mais global sobre os tempos da escola considerando outros aspectos.
Num país com as nossas condições
climáticas, tal como genericamente no sul da Europa, e considerando boa parte
do nosso parque escolar, aulas prolongadas até ao Verão seriam algo de,
literalmente, sufocante.
Reconhecendo que a guarda das
crianças nos horários laborais das famílias é um problema sério e que entendo,
também creio que não pode ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a
infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro” em vez de “Educação a Tempo Inteiro”,
a estadia dos alunos na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
No que respeita aos tempos
escolares já sabíamos, como referi acima, que os alunos portugueses, sobretudo
no início da escolaridade, têm umas das mais elevadas cargas horárias. Como bem
se sabe, mais horas de trabalho não significam melhor trabalho e os alunos
portugueses já passam um tempo enorme na escola. Talvez seja de introduzir
nesta equação a variável “áreas disciplinares e currículos”, considerando o
número de áreas ou disciplinas, duração das aulas, organização de anos e de
ciclos, etc.
Neste contexto, insisto, seria
desejável reflectir sobre os tempos da escola com tempo, prudência e
participação dos diferentes envolvidos e com base em evidência recolhida em
diferentes cenários.
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