Está a terminar o ano escolar, estamos em época de exames, e começa o tempo de olhar para resultados.
Muito provavelmente vamos ter
acesso ao indicador “percurso de sucesso”, completar o ciclo no número de anos
previsto, que, em linha com o que tem acontecido nos últimos anos, mostrará taxas
de sucesso muito positivas e em subida assim como também repercutirá sem
surpresa variáveis como o contexto familiar dos alunos.
A questão é que, também muito provavelmente,
quando se cruzarem com dados das avaliações externas, exames e provas de
aferição surgirão algumas incongruências.
Como já tenho escrito a propósito
de resultados de anos anteriores, este cenário mina a confiança no sistema
educativo que tem, justamente, como instrumentos de regulação os dispositivos
de avaliação externa.
Considerando como indicador de
sucesso concluir o ciclo no tempo esperado, poderemos interpretar a transição
de ano como sucesso na aprendizagem de competências e conhecimentos? Ou teremos
de considerar que ter sucesso é a “a passagem de ano” na velha fórmula de
“transita, mas não progride”? Conhecem-se relatos de escolas em que se verifica
alguma “pressão” para a “transição”.
Importa sublinhar com muita
clareza que levantar esta questão não significa a defesa da retenção como
ferramenta de sucesso e qualidade. Não é, sabemos que o “chumbo”, só por si,
não gera sucesso e qualidade. Nenhuma dúvida sobre isto.
E volto a insistir. A qualidade
promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das
aprendizagens e com regulação externa, sim, naturalmente, mas também com a
avaliação justa e competente do trabalho dos professores e das escolas, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar e que significam
conhecimentos e competências adquiridas.
É o que ainda não conseguimos
fazer acontecer de forma consistente, generalizada e sustentada em Portugal,
apesar da imensidade de projectos, iniciativas, inovação, actividades, ondas de
capacitação, que, demasiadas vezes, chegam do exterior às escolas. Podem ser
interessantes, mas … não são mágicas, por mais que num exercício de
"wishful thinking" os queiramos entender e vender como tal.
Não será este o caminho.
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