Estamos num tempo de férias e tropecei com esta memória no blogue que me pareceu de recuperar.
Era uma vez, estavam dois miúdos
num parque, um desses sítios que algumas terras ainda têm para os mais pequenos
brincarem, quando podem e os deixam, é claro.
Não havia muita gente. Os miúdos,
às tantas, rebolavam no chão um bocado engalfinhados.
Passou um médico e pensou que
eles talvez se magoassem porque aquelas brincadeiras podem ser perigosas.
Passou um antropólogo e pensou
como ainda provavelmente se realizam lutas simbólicas por territórios, apesar
das mudanças culturais.
Passou um pai e pensou como era
possível que as crianças estivessem ali sozinhas nos dias que correm.
Passou um professor e pensou como
seria mais útil que estivessem a ler algo de interessante em vez de se
comportarem assim.
Passou um sociólogo e pensou como
desde cedo se procura hierarquizar as relações sociais.
Passou um psicólogo e pensou como
começa a ser tão frequente o bullying.
Passou um padre e pensou como os
padrões morais que regem os comportamentos se alteram e a violência se instala.
Passou outro miúdo e perguntou
“Estão a brincar a quê?”. Responderam os outros, “Às lutas, também queres
brincar?”, “Quero” disse o que chegou.
E ficaram três miúdos a
rebolar-se no chão um bocado engalfinhados. E felizes.
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